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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Beata Benedita Bianchi Porro, Virgem e Leiga. Modelo de paciência e conformidade na dor e na doença.

Benedetta (Benedita) Bianchi Porro veio à luz em Dovadola, na província de Forlí, em 8 de Agosto de 1936. Assim que nasce, após um parto difícil e sofrido, agravado por uma hemorragia, a mãe pediu logo o batismo, que lhe é concedido com água da fonte milagrosa de Lourdes.
 Com apenas três meses de idade, adoece da poliomielite (muito comum na época), que deixou a menina com a perna mais curta à direita. Crescendo, terá que levar um sapato ortopédico pesado. As crianças a chamam de "zoppetta" (referente ao seu modo de andar), mas, ela não se ofende: “eles dizem a verdade”, prenunciando desde pequena um espírito desapegado e simples.   
Em maio de 1944, na pequena Igreja da Anunciação, em Dovadola, fez sua Primeira Comunhão. A partir daquele dia, trará sempre consigo, muitas vezes na mão, o rosário que ganhou de presente. Um dia, já estudante universitária, após o perder e depois de encontrá-lo por acaso, demonstrou uma alegria imensa. “O que é tudo que tenho – respondendo a quem lhe perguntava o porquê de tanta alegria – em comparação com a minha coroa (o santo rosário)”?
O pai, que é engenheiro térmico, em 1951 levou a família em Sirmione, no lago Garda, para colocar a filha em uma escola secundarista muito bem conceituada. Voltando da escola, um dia escreveu em seu diário: “hoje, fui questionada sobre meu conhecimento do latim: às vezes eu não entendo o que o professor me pergunta. Mas, não me deixo abalar. Um dia, talvez, eu venha a não entender nada do que os outros dizem, mas, sempre devo estar atenta à voz de Deus em minha alma: este é o verdadeiro guia que devo seguir”.
Por algum tempo, Benedita teve que usar uma cinta em volta do corpo para evitar a deformação da coluna vertebral (devido à discrepância de tamanho dos membros inferiores). Além disso, apareceu nela uma diminuição da audição. Nada disso lhe abate o ânimo ou lhe retira a alegria interior. “Que coisa maravilhosa é a vida” – diz – e faz muitos planos para o futuro. “Eu gostaria de poder me tornar algo grande”...

Em outubro de 1953, mudou-se para Milão para frequentar a universidade. Matricula-se em física, para agradar o pai, mas, um mês depois, muda para a faculdade de medicina. Está convencida de que sua vocação é dedicar-se ao próximo, especialmente os mais necessitados, como médica. É muito boa nos estudos, porém, a doença progride inexoravelmente. “Nunca se ouviu falar de um médico surdo”, grita um dia, lançando o livro de anatomia no chão. Apesar desse momento, Benedita não desistiu, mantendo-se a duras penas no curso. “Parece-me – escreve ela um dia – estar em um pântano interminável e monótono, afundando-me nele lentamente”. 

Esperanças, sacrifícios, lutas interiores, um longo caminho da cruz de cirurgias, até que o diagnóstico definitivo foi dado: “neurofibromatose difusa” ou “doença de Recklinghausen”, uma doença rara e incurável que rouba progressivamente a visão, a audição, o paladar, o olfato e imobiliza o doente em uma cama. Benedita estava sozinha. Parecia que Deus a havia abandonado. São dias difíceis, iluminados apenas por sua fé e pela amizade fraterna de uma jovem: Nicoletta, que se torna sua “Cirineu” nessa “via crucis”.
Trancada em seu quarto, paralisada na cama, sua jovem vida se esvai em dias de luta interior e noite escura. A dor é seu pão de cada dia.


Benedita e sua grande amiga/irmã Nicoletta. 


Em maio de 1962, Benedita é levada a Lourdes, famoso Santuário Mariano na França. Uma longa viagem a ser empreendida. “Esse período de secura e aridez espero passa-lo com a ajuda da Virgem Santa, a mais doce das mães”. Cheia de confiança na Consoladora dos Aflitos, Benedita tem um sonho: “Quero me curar para ser freira. Fiz um voto”. No entanto, outros eram os desígnios de Deus sobre ela. Na segunda vez que vai para lá, no ano seguinte, o milagre de Lourdes será a descoberta de sua vocação: a cruz. “A partir da Cidade de Nossa Senhora – escreve ela a um amigo – sou capaz de voltar a lutar, com mais bondade, paciência e serenidade. Percebi, mais do que nunca, a riqueza do meu estado. Desejo nada mais do que viver ardentemente esse momento. Esse foi para mim o milagre de Lourdes deste ano”.
Dia após dia, Benedita se abre à ação da graça, em uma dolorosa jornada de fé e abandono que a purifica, fazendo morrer para si mesma e se tornando um dom para os outros. Muitos escreverão para ela ou a visitarão. Naquele quarto onde ela se consome como oferta a Deus, torna-se como que vítima no altar. Benedita escreve muitas cartas, responde ela mesma, sozinha, até quando ainda dá para fazê-lo, com grande dificuldade, com sua escrita cada vez mais incerta e instável.
Quando não consegue mais escrever, conta com a ajuda de sua mãe, através de quadro com um alfabeto convencional, sinalizando as letras que queria com os dedos de sua mão direita (única parte do corpo que ainda se movia) e com gestos de seu rosto.
O quarto dela se torna um lugar de vida e sua cama um altar, em torno do qual se forma um Cenáculo extraordinário de amor: moços e moças que saem de lá cheios da fé e de piedade aprendendo com Benedita a terem grande amor por Deus e pela vida.
A suprema lição de fé e de coragem dela, humilhada e insultada em sua carne, através da enfermidade, é o “mistério” de Benedita. “Primeiro na cadeira, agora na cama que é, praticamente, minha casa – escreve ela –, eu encontrei uma sabedoria muito maior que aquela dos homens. Descobri que Deus existe, que Ele é Amor, lealdade, alegria e certeza, até o fim dos tempos”.
O mundo de Benedita, seu mundo interior, fascina aqueles que a conhecem e que são cada vez mais numerosos. Seus pensamentos, “ditados” à sua mãe, são como pérolas de luz, refletindo Deus em sua alma, uma outra dimensão, intraduzível, que tem sabor de eternidade.
Fragmentos de interioridade que, entregue a seus textos já traduzidos em várias línguas, em todo o mundo, incendeiam os corações de muitos: padres, artistas, médicos, escritores, doentes, prisioneiros, etc., todos conquistados por sua mensagem simples e comovente: entregar-se totalmente a Deus e apreciar a alegria que vem deste abandono.

Benedita, já bastante doente, poucos dias
antes de sua morte. 
Toda a vida de Benedita – nos diz o Pe. Divo Barsotti – parece mais ou menos conscientemente modelada na Virgem Maria, de pé, ao lado da Cruz. Devemos, portanto, olhar para seu relacionamento com Maria para sermos capazes de entender sua jornada única de fé e de santidade. Maria é a professora: sua escola está tanto no Magnificat quanto no Calvário. “A dor é uma oportunidade de estarmos com Maria ao pé da Cruz”, diz ela. “Aprendo muito com Nossa Senhora. Ela sabe o que é sofrer em silêncio. No momento da prova, recomendo-me à Mãe, que viveu seus sofrimentos com grande fortaleza. A primeira vez que fui à Lourdes pedi para curar. A segunda vez, para rezar pelos outros, porque, com dizia, “a caridade é viver no outro”. “Nossa Senhora me deu mais do que eu lhe pedi”. Ela de fato reconhece que a coisa mais importante em sua vida foi sua cura interior. Ela transfigurou sua experiência dolorosa ao ponto de tornar-se imagem viva do Crucificado: “A verdadeira alegria passa através da Cruz. Eu gosto de dizer aos que sofrem e aos doentes que, se formos humildes e dóceis, o Senhor fará em nós e por nós grandes coisas”!
Finalmente, o momento do encontro com o Senhor chegou. Na manhã de 23 de janeiro de 1964, rosas brancas, fora de época, surgem no jardim de sua casa. “Quem sabe – diz Benedita – não seja um doce sinal do Céu”? Dois meses antes, tinha sonhado entrar em um cemitério da Romagna e lá encontrou um túmulo aberto com uma linda rosa branca dentro que emitia uma luz ofuscante.
Benedita estava morrendo e uma rosa floresceu naquele dia, fora do tempo, em seu jardim. Ela havia dito: “logo, logo, eu serei nada mais do que um nome; mas, meu espírito continuará a viver aqui, entre aqueles que sofrem”.


(texto de Maria di Lorenzo, traduzido por mim do italiano)



Visita e orações do Sr. Arcebispo ao túmulo da Venerável Benedita Bianchi Porro, por ocasião
do 50º aniversário de sua morte. 



Visita dos fiéis ao túmulo onde repousam os restos mortais de Benedita Bianchi Porro. 











Um comentário:

Unknown disse...

Que linda lição de resignação e entendimento. Tão grandes que nós, em geral, não somos capazes de alcançar. Que sua luz ilumine aos que tem andado nas sombras da tristeza e da desesperança. Que ela possa salvar muitas almas e que resplandeça principalmente para as crianças e jovens.

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