“Quanto
ao futuro, não tenho outros projetos a não ser fazer a vontade de
Deus, que me será expressa através dos meus Superiores na
Congregação Salesiana”.
Como não podia celebrar a Eucaristia com pão e vinho, rezava-a todos os dias mentalmente, e isso dava-lhe também uma grande força.
O Salesiano missionário padre Tom Uzhunnalil, sequestrado no Iêmen em março de 2016, foi libertado no dia 12 de setembro passado. A libertação e a sua entrega se deram através de um agente humanitário, em comunicação e conexão com o Sultanato de Omã, e graças também ao empenho pessoal do Papa Francisco, que se serviu de toda a sua influência.
Pe.
Uzhunnalil foi sequestrado em 4 de março de 2016, depois que um
grupo de jihadistas do Estado Islâmico invadiu um asilo de idosos e
pessoas com deficiências que era administrado por religiosas das
Missionárias da Caridade em Áden, no Iêmen. Durante a invasão, os
terroristas assassinaram quatro religiosas, doze idosos e
sequestraram o sacerdote salesiano.
Inicialmente
acolhido em Muscat, em Omã, no mesmo dia, o Salesiano aterrissou no
aeroporto de Ciampino (Roma) e, de lá, foi levado à comunidade
salesiana no Vaticano, onde atualmente é hóspede à espera de
retornar à Índia.
Padre
Tom fora sequestrado por um comando de homens armados em 4 de março
de 2016, durante um ataque à casa das Missionárias da Caridade, em
Áden, no Iêmen, no qual morreram 16 pessoas, entre as quais 4
religiosas.
Imediatamente
após o sequestro – nunca declarado abertamente, nem reivindicado
por alguma sigla terrorista ou militar – muitos se mobilizaram pelo
padre Tom: durante todo o período da sua prisão foram inúmeros os
apelos, as vigílias e iniciativas de oração e manifestações de
proximidade, primeira de todas, a do Papa Francisco, que no dia 10 de
abril de 2016, depois da récita do Regina Coeli, fez um apelo pela
sua libertação.
Papel
de primeiro plano em toda a situação tiveram o Ministro do Exterior
indiano, hon. Sushma Swaraj; o Vigário Apostólico da Arábia
Meridional, Dom Paul Hinder; a Conferência dos Bispos da Índia,
guiada pelo seu Presidente, Card. Baselios Cleemis Thottunkal, e
pelos bispos do Estado de Kerala que pressionaram várias vezes o
governo indiano; e os Salesianos da Inspetoria de Bangalore –
responsável da missão no Iêmen.
Entretanto,
sobre a sorte do missionário indiano, por muito tempo não se
tiveram notícias certas. Na proximidade da Páscoa de 2016,
começaram também a se difundir notícias falsas sobre a vontade dos
sequestradores de matá-lo crucificando-o na Sexta-feira Santa, vozes
que encontraram grande eco nas redes sociais.
Mais adiante, em julho de 2016, na página do Facebook do padre Tom apareceram fotografias que pareciam retratá-lo em mau estado de saúde, vendado e espancado. A autenticidade daquelas fotos, porém, foi logo posta em dúvida pelos seus irmãos da Inspetoria de Bangalore e, em pouco tempo, a página Facebook foi fechada.
No
período do sequestro, os sequestradores difundiram dois vídeos, em
dezembro de 2016 e maio de 2017, nos quais o padre Tom dizia ter sido
“esquecido” por todos e pedia ao Papa e aos católicos do mundo
que apressassem a sua libertação.
Há
alguns meses, a Congregação Salesiana foi informada sobre os
contatos que se estavam estabelecendo com os sequestradores e ficou
em contato constante com as autoridades empenhadas na sua libertação,
mas sempre sem ter outras informações.
O
sacerdote recordou as religiosas assassinadas e não pôde deixar de
chorar durante alguns instantes depois de ver algumas das Irmãs da
Congregação entre os presentes. “Estou feliz em vê-las. Minhas
condolências a todas”, disse chorando. “Agradeço a Deus por
este dia, porque me manteve bem, saudável, com uma consciência
clara”, acrescentou.
Padre
Tom explicou que nos 18 meses de sequestro “esteve muito bem, nunca
me apontaram nenhuma arma”. “Fui levado de carro a vários
lugares. Não tive medo, nunca chorei. Eu não fui maltratado. Deus Pai e Jesus estiveram comigo”.
O
sacerdote disse que uma vez teve acesso à Eucaristia, pois os
jihadistas levaram alguns dos objetos da capela, entre eles o
tabernáculo onde estava o Corpo de Cristo.
Os
sequestradores lhe pediram os números de telefone e contatos para
advertir sobre o seu sequestro e “parece que eles queriam
dinheiro”. “Eles me perguntaram: ‘Quem pode ajudá-lo? O teu
país pode te ajudar sair daqui? O Papa pode fazer alguma coisa por
você?’”.
No
dia seguinte, afirma que “enviaram o primeiro vídeo no qual se
confirma que fui sequestrado”. “Um deles disse: ‘Nós pensamos
que o teu país (Índia) não reagiria, mas regiram’”.
Outro
lugar onde permaneceu preso foi em uma região montanhosa e mais
tarde em outro local que não conhece. “Em um dos vídeos que
filmaram, parecia que me maltratavam, mas não era verdade. Eles me
disseram que seria um fingimento e enviaram-no para aumentar o
interesse”.
Aniversário
em cativeiro
O sacerdote repetiu várias vezes: “Deus esteve comigo, muitas pessoas rezaram e o fruto disso é que eu permaneci bem e fiquei tranquilo durante esse tempo”.
A
relação com os seus sequestradores não era ruim e revela até
mesmo que um dia lhe perguntaram a sua idade. “‘Quantos anos você
tem?’. Eu tinha 58 anos. Disseram-me: ‘Não se preocupe, você
viverá até os 85’”.
“Em
18 de agosto comemorei o meu aniversário, o segundo em cativeiro.
Agora tenho 59 anos. Se me perguntam o que eu fazia todos os dias,
posso dizer que permaneci no quarto, podia fazer o que eu queria”.
“Deus
inspirou para me dessem o necessário, sou o que sou porque Deus
cuidou de mim. Dormia bem e durante o dia rezava pelo Papa, pelos
bispos, pelo meu superior, pelas pessoas que morreram e pelas que
estavam vivas. Celebrava a Missa espiritualmente. Rezava por tantas
pessoas que havia conhecido. Também pelos sequestradores e, claro,
pelas irmãs que morreram”.
Além
disso, contou que todos os dias antes de dormir “agradecia por ter
vivido mais um dia e não ter outras preocupações”. “Nunca
chorei, inclusive quando filmavam os vídeos e me pediram para
chorar, eu não conseguia. Queriam mostrar algo trágico”.
O
sacerdote acrescentou que não sabe muito bem quem ajudou na sua
libertação, nem exatamente o que os jihadistas queriam que ele
fizesse, mas sabe que o governo indiano, o Vaticano e o sultanato de
Omã estiveram envolvidos na sua libertação.
Encontro
com o Papa
Sobre o seu encontro com o Pontífice, explicou que “nunca tinha estado com o Papa Francisco”. “Rezava todos os dias por ele. Fiquei muito emocionado com a reunião. Ele é o Vigário de Cristo. O Papa beijou minhas mãos e me sinto indigno. Disse que tinha rezado por mim. Os sequestradores às vezes me diziam: ‘O Papa diz que em breve você será libertado’, mas em seguida não acontecia nada, embora eu soubesse que a Igreja e o mundo estavam preocupados comigo”.
Em
relação ao seu futuro, garante: “Estou a serviço de Deus e
disponível para o que Ele quiser”. Depois de realizar mais exames
médicos e conseguir o passaporte indiano, voltará para a sua casa
com a sua família e continuará a sua vida como salesiano, longe do
cativeiro infligido pelos jihadistas.
“Desde
o princípio, pensei que nada poderia acontecer comigo se Deus não
permitisse. Nem um cabelo da cabeça cai sem a sua permissão. Essas
palavras vieram a minha mente e me fortaleceram”.
O
salesiano quis deixar claro em diferentes ocasiões que em nenhum
momento foi torturado nem sofreu “nenhuma injúria” dos
sequestradores. “Não sabia onde estava e nem quem eram os meus
sequestradores e qual o grupo que havia me sequestrado. Quando me
levaram a uma das casas – estive pelo menos em três lugares
diferentes – inclusive me disseram que tinham médicos e que
cuidariam de mim”. “Eu tinha um quarto, uma cama, me davam almoço
e podia ir ao banheiro”, contou aos jornalistas.
Prêmio
Internacional Madre Teresa
Pe. Tom Uzhunnalil recebe Prêmio Internacional Madre Teresa pela sua coragem e compaixão. |
O Pe. Tom Uzhunnalil, recebeu no dia 10 de dezembro de 2017 o Prêmio Internacional Madre Teresa por “ser uma pessoa compassiva” e decidir permanecer, apesar do perigo, no lar de idosos das Missionárias da Caridade no Iêmen até o momento do ataque dos jihadistas em março de 2016. O evento ocorreu na cidade de Mumbai, no estado de Maharashtra, e o convidado de honra foi o vice-presidente da Índia, Venkaiah Naidu.
Este
reconhecimento é concedido a todas as pessoas que, através do seu
serviço, promoveram a justiça social. O prêmio é concedido desde
2005 pela Fundação Harmony, instituição criada na Índia para
promover a coexistência pacífica e solidária entre as diferentes
religiões e sociedades.
Abraham
Mathai, diretor e fundador da organização, disse ao jornal Gulf
News India que o Pe. Tom “foi um exemplo inspirador por ter sido
uma pessoa compassiva e por continuar o seu trabalho no asilo das
Missionárias da Caridade, no Iêmen, apesar de ter a opção de
deixar o país”.
“Elogiamos
a dedicação e o compromisso do Pe. Tom por trabalhar em um lugar de
grande perigo onde seus colegas foram assassinados a sangue frio”,
continuou e recordou as quatro religiosas, uma delas indiana, que
foram assassinadas pelos terroristas do ISIS.
Mathai
também expressou que a Fundação Harmony está muito agradecida ao
Sultão de Omã, Qabus ibn Sa'id Al Sa’id, pelos “seus esforços
a fim de garantir a libertação do Pe. Tom das mãos do ISIS” e
pela “sua resposta ao Vaticano, que resultou na posterior
libertação do sacerdote que permaneceu no cativeiro durante mais de
18 meses”.
O
diretor da organização explicou que, em 2017, o lema do prêmio é
“Compaixão além das fronteiras, uma resposta compassiva à crise
dos refugiados” e indicou que o objetivo é “conscientizar e agir
na comunidade internacional”.
Palavras
do Reitor-mor dos Salesianos sobre Padre Tom
Padre Tom e o Reitor-mor dos salesianos, Padre Ángel Fernández Artime. |
Na tarde de 12 de setembro passado, recebemos um telefonema para comunicar que Padre Tom Uzhunnalil tinha sido libertado e estava chegando a Roma num voo procedente do Sultanato de Omã.
A
notícia, após 18 meses de sequestro, meses de esperança e de medo,
encheu-nos de alegria. Recebemos o nosso irmão salesiano Tom. Vinha
muito fragilizado de forças físicas, tinha perdido 30 quilos e 38%
da sua massa corporal, inseguro no andar porque não tinha podido
fazer exercícios em todo esse tempo. Mas vinha forte no seu
espírito, sereno, lúcido e cheio de paz.
Isso
levou-me a pensar como Deus é capaz de fazer do mais débil e do
mais frágil uma voz da sua presença e da sua força. O padre Tom
contava-nos que tinha vivido aqueles 18 meses com serenidade, com
muita paz, dando graças a Deus todas as noites pelo dia que tinha
vivido – mesmo sem ter podido sair do seu lugar de sequestro nem
ver a luz do sol. E Lhe dizia que, se no dia seguinte chegasse ao fim
da sua vida, iria sereno ao Seu encontro. O nosso irmão Tom rezava
todos os dias pelos seus raptores e pelas suas vidas. Rezava pelas
Irmãs Missionárias da Caridade (de Madre Teresa de Calcutá) que
tinham sido assassinadas na sua presença. Rezava pelos seusentes
queridos, pela sua família salesiana e pelos jovens.
Paz
e serenidade – Como não podia celebrar a Eucaristia com
pão e vinho, rezava-a todos os dias mentalmente, e isso dava-lhe
também uma grande força. Pensava com serenidade e rezava, rezava e
pensava serenamente, dominando muito o seu pensamento para que este
não lhe complicasse as coisas.
E
regressou cheio de paz e serenidade. Sem dúvida cresceu muito na sua
interioridade durante essa dolorosa experiência. Não pretende nada,
não espera nenhum reconhecimento. Simplesmente continuar a servir e
a trabalhar.
Falava-nos
da sua condição de missionário. Estava no Iêmen como missionário
e sentiu-se missionário, mais do que nunca, durante esses 18 meses.
Embora não pudesse “fazer nada”, na realidade “era tudo”,
porque todos os dias entregava integralmente o que era, com total
inocência. (Boletim Salesiano, Ano 67, Novembro de 2017, Brasil.)
Fontes de pesquisa:
http://boletimsalesiano.org.br/index.php/noticias-bs/item/8406-do-sequestro-a-libertacao-de-padre-tom-uzhunnalil
Boletim
Salesiano, Ano 67, Novembro de 2017, Brasil.
2 comentários:
A emocionante história do Padre Tom Uzhunnalil, missionário salesiano, sequestrado e mantido em cativeiro por jihadistas por dezoito meses: modelo e exemplo de constância na fé, esperança cristã, de paciência nos sofrimentos e de grande caridade, até mesmo por seus inimigos. Uma testemunha viva para os difíceis tempos que enfrentamos.
Foi uma das historias atuais mais emocionantes que ja li.
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