Estamos no Advento.
Aproxima-se, mais uma vez, o Santo Natal do Senhor. Mergulhamos como sempre nos
grandes Mistérios de nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santíssima Mãe:
Encarnação do Verbo, Natividade, Maternidade Divina, Epifania e Batismo do
Senhor. Quando nos aprofundamos nesses grandes Mistérios, não há como fazê-lo
sem passarmos pela Patrística, isto é, pelos ensinamentos e escritos dos Padres
ou Santos Padres da Igreja Católica.
Hoje, em nosso blog Santos,
Beatos, Veneráveis e Servos de Deus, trago ao conhecimento dos leitores os
nomes desses famosos “Padres” (as aspas refere-se ao fato de que nem todos
foram sacerdotes), que, com seus escritos, obras e exemplos, passado o primeiro
século do cristianismo, o “Século dos Apóstolos”, muito contribuíram para a
solidificação da Sagrada Doutrina Católica, dando início e exercendo o chamado
Magistério Sagrado da Igreja.
A maioria desses Padres da
Igreja é composta por santos (vários, inclusive, são mártires), com algumas exceções.
Exemplo marcante dessa exceção é o caso do famoso filósofo e apologista Tertuliano que, infelizmente,
nos últimos anos de sua vida, deixou-se influenciar por uma doutrina herética e
afastou-se da santa fé católica. Isso, no entanto, não retira totalmente o seu valor e
importância histórica, visto que, no momento que ele atuou em favor da Igreja,
com a sabedoria de seus escritos e com o dom da oratória, muito colaborou com o
bem e a defesa da “Barca de Pedro”.
Aqui vai a lista dos nomes e
um resumo de sua vida e obras.
1. São
Clemente de Roma (†102), Papa
(do ano 88 a 97 d.c), foi o terceiro sucessor de São Pedro, e governou a Igreja
nos tempos dos imperadores romanos Domiciano e Trajano (92 a 102). No depoimento de
Santo Ireneu "ele viu os Apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido
diretamente a sua pregação e ensinamento".
2. Santo Inácio de Antioquia (†110) - foi o terceiro bispo da importante comunidade de Antioquia, fundada por São Pedro. Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas às igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo São Policarpo de Esmirna. Na carta aos esmirnenses, aparece pela primeira vez a expressão "Igreja Católica".
3. São
Policarpo (†156) - foi bispo de Esmirna e
uma pessoa muito amada, admirada e estimada por toda a Igreja. Conforme escreve
Santo Irineu, que foi seu discípulo, Policarpo foi discípulo de São João
Evangelista. No ano 155 estava em Roma com o Papa Niceto tratando de vários
assuntos da Igreja, inclusive a data da Páscoa. Combateu os hereges gnósticos.
Foi condenado à morte na fogueira; o relato do seu martírio, feito por
testemunhas oculares, é o documento mais antigo deste gênero.
4. Hermas
(†160) - era irmão do Papa São Pio I, sob cujo pontificado escreveu a sua obra
Pastor e suas visões de estilo apocalíptico.
5. São
Justino (†165), mártir - nasceu em
Naplusa, antiga Siquém, em Israel; achou nos Evangelhos "a única filosofia
proveitosa". Filósofo, fundou uma escola em Roma. Dedicou a sua
Apologias ao Imperador romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos;
foi martirizado em Roma.
6. Santo
Hipólito de Roma (160-235) -
discípulo de Santo Ireneu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde
Orígenes o ouviu pregar. Morreu mártir. Escreveu
contra os hereges, compôs textos litúrgicos, escreveu a Tradição Apostólica
onde retrata os costumes da Igreja no século III: ordenações, catecumenato,
batismo e confirmação, jejuns, ágapes, eucaristia, ofícios e horas de oração,
sepultamento, etc.
7. Santo
Ireneu (†202) - nasceu na Ásia Menor,
foi discípulo de São Policarpo (discípulo de S. João), foi bispo de Lião, na
Gália (hoje França). Combateu eficazmente o gnosticismo em sua obra Adversus Haereses (Refutação da Falsa
Gnose) e a Demonstração da Preparação Apostólica. Segundo São Gregório de Tours (†594), Santo Ireneu morreu
mártir. É considerado o "príncipe dos teólogos cristãos". Salienta
nos seus escritos a importância da Tradição oral da Igreja, o primado da Igreja
de Roma (fundada por Pedro e Paulo).
8. São
Clemente de Alexandria (†215) - Seu
nome é Tito Flávio Clemente, nasceu em Atenas por volta de 150. Viajou pela
Itália, Síria, Palestina e fixou-se em Alexandria. Durante
a perseguição de Septímio Severo (203), deixou o Egito, indo para a Ásia Menor,
onde morreu em 215. Seu grande trabalho foi tentar a aliança do pensamento
grego com a fé cristã. Dizia: "Como
a lei formou os hebreus, a filosofia formou os
gregos para Cristo".
9. Orígenes
(184-254) - Nasceu em Alexandria, Egito; seu pai Leônidas morreu martirizado em
202. Também desejava o martírio; escreveu ao pai na prisão: "não vás
mudar de ideia por causa de nós". Em 203 foi colocado à frente da escola
catequética de Alexandria pelo bispo Demétrio. Em 212 esteve em Roma, Grécia e
Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia, chamou-o a Antioquia
para ouvir suas lições. Morreu em Cesareia durante a perseguição do imperador
Décio.
10. Tertuliano
(†220) de Cartago, norte da
África, culto, era advogado em Roma quando em 195 se converteu ao Cristianismo,
passando a servir a Igreja de Cartago como catequista. Combateu as heresias do
gnosticismo, mas, infelizmente, se desentendeu com a Igreja Católica. É autor
das frases: “Vede como se amam” e “o sangue dos mártires é semente de novos
cristãos".
11. São
Cipriano (†258) - Cecílio Cipriano nasceu
em Cartago, foi bispo e primaz da África Latina. Era casado. Foi perseguido no
tempo do imperador Décio, em 250, morreu mártir em 258. Escreveu a bela obra
Sobre a unidade da Igreja Católica. Na obra De
Lapsis, sobre os que apostataram na perseguição, narra ao vivo o drama
sofrido pelos cristãos, a força de uns, o fracasso de outros. Escreveu ainda a
obra Sobre a Oração do Senhor, sobre o Pai Nosso.
12. Eusébio
de Cesaréia (260-339) -
bispo, foi o primeiro historiador da Igreja. Nasceu na Palestina, em Cesaréia,
discípulo aí de Orígenes. Escreveu a sua Crônica e a História Eclesiástica,
além de A Preparação e a Demonstração Evangélicas. Foi perseguido por Dioclesiano,
imperador romano.
13. Santo
Atanásio (295-373) - doutor da Igreja,
nasceu em Alexandria, jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do
Egito,onde conheceu o grande Santo Antão(†376), o "pai dos monges".
Tornou-se diácono da Igreja de Alexandria, e junto com o seu Bispo Alexandre,
se destacou no Concílio de Nicéia (325) no combate ao arianismo. Tornou-se
bispo de Alexandria em 357 e continuou a sua luta árdua contra o
arianismo (Ário negava a divindade de Jesus), o que lhe valeu sete anos de
exílio. São Gregório Nazianzeno disse dele: "O
que foi a cabeleira para Sansão, foi Atanásio para a Igreja".
14. Santo
Hilário de Poitiers (316-367) -
doutor da Igreja, nasceu em Poitiers, na Gália (França); em 350 clero e povo o
elegiam bispo, apesar de ser casado. Organizou a luta dos bispos gauleses
contra o arianismo. Foi exilado pelo imperador Constâncio, na Ásia
Menor, voltando para a Gália em 360, fazendo valer as decisões do Concílio de
Nicéia. É chamado o "Atanásio do Ocidente". Escreveu as obras Sobre a
Fé, Sobre a Santíssima Trindade.
15. Santo
Efrém (†373), doutor da Igreja – é
considerado o maior poeta sírio, chamado de "a cítara do Espírito
Santo". Nasceu em Nísibe, de pais cristãos, por volta de 306, deve ter participado
do Concílio de Nicéia (325), segundo a tradição, com o seu bispo Tiago. Foi
ordenado diácono em 338 e assim ficou até o fim da vida. Escreveu tratados
contra os gnósticos, os arianos e contra o imperador Juliano, o apóstata.
Escreveu belos hinos e louvores a Maria.
16. São
Basílio Magno (329-379) -
Bispo e doutor da Igreja, nasceu na Capadócia; seus irmãos Gregório de Nissa e
Pedro, são santos. Foi íntimo amigo de S. Gregório Nazianzeno; fez-se monge. Em
370 tornou-se bispo de Cesaréia na Palestina, e metropolita da província da
Capadócia. Combateu o arianismo e o apolinarismo (Apolinário negava que Jesus
tinha uma alma humana).
Destacou-se no estudo a Santíssima
Trindade (Três Pessoas e uma Essência).
17. São
Gregório Nazianzeno (329-390),
doutor da Igreja – nasceu em Naziano, na Capadócia, era filho do bispo local,
que o ordenou padre; foi um dos maiores oradores cristãos. Foi grande amigo de
São Basílio, que o sagrou bispo. Lutou contra o arianismo. Sua doutrina sobre a
Santíssima Trindade o fez ser chamado de "teólogo", que o Concílio de
Calcedônia confirmou em 481.
18. São
Gregório de Nissa (†394) – foi
bispo de Nissa, e depois de Sebaste, irmão de São Basílio e amigo de São
Gregório Nazianzeno. Os três santos brilharam na Capadócia. Foi poeta e
místico; teve grande influência no primeiro Concílio de Constantinopla
(381) que definiu o dogma da Santíssima Trindade. Combateu o apolinarismo, macedonismo
(Macedônio negava a divindade do Espírito Santo) e arianismo.
19. São
João Crisóstomo (= “boca de
ouro”) (354-407), doutor da Igreja, é o mais conhecido dos Padres da Igreja
grega. Nasceu em
Antioquia. Tornou-se patriarca de Constantinopla, foi grande
pregador. Foi exilado na Armênia por causa da defesa da fé sã. Foi proclamado
pelo papa S. Pio X, padroeiro dos pregadores.
20. São
Cirilo de Alexandria (†444) –
Bispo e doutor da Igreja, sobrinho do patriarca de Alexandria, Teófilo, o
substituiu na Sé episcopal em 412. Combateu
vivamente o Nestorianismo (Nestório negava que em Jesus havia uma só Pessoa e
duas naturezas), com o apoio do papa Celestino. Participou do Concílio de Éfeso
(431), que condenou as teses de Nestório. É considerado um dos maiores Padres
da língua grega, e chamado o "Doutor mariano".
21. São
Pedro Crisólogo (= palavra de
ouro) (†450) – bispo e doutor da Igreja – foi bispo de Ravena, Itália. Quando
Êutiques, patriarca de Constantinopla pediu o seu apoio para a sua heresia
(monofisismo - uma só natureza em Cristo), respondeu: "Não podemos discutir coisas da fé, sem o consentimento do Bispo
de Roma". Temos 170 de suas cartas e escritos sobre o Símbolo e o Pai Nosso.
22. Santo
Ambrósio (†397), doutor da Igreja –
nasceu em Tréveris, de nobre família romana. Com 31 anos governava em Milão as
províncias de Emília e Ligúria. Ainda catecúmeno, foi eleito
bispo de Milão, pelo povo, tendo, então recebido o batismo, a ordem e o
episcopado. Foi conselheiro de vários imperadores e batizou santo Agostinho,
cujas pregações ouvia. Deixou obras admiráveis sobre a fé católica.
23. São
Jerônimo (347-420), "Doutor
Bíblico" – nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma; é o mais
erudito dos Padres da Igreja latina; sabia o grego, latim e hebraico. Viveu
alguns anos na Palestina como eremita. Em 379 foi ordenado sacerdote pelo bispo
Paulino de Antioquia; foi ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de São
Gregório de Nissa. De 382 a
385 foi secretário do Papa São Dâmaso, por cuja ordem fez a revisão da versão
latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 34 anos. Pregava o ideal de santidade
entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e Eustóquia) e combatia os
maus costumes do clero. Na figura de São Jerônimo destacam-se a austeridade, o
temperamento forte, o amor a Igreja e à Sé de Pedro.
24. Santo
Agostinho de Hipona (354-430) - Bispo e Doutor da
Igreja - Nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e S. Mônica. Grande
teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde
ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi
professor de Retórica na corte do Imperador. Ali, se converteu ao cristianismo
pelas orações e lágrimas de sua mãe Santa Mônica e pelas pregações de Santo Ambrósio,
bispo de Milão. Foi batizado por esse bispo em 387. Voltou para a África em
veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42
anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com
grande capacidade as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueismo, o
Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho
escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento
cultural do mundo ocidental. É chamado de "Doutor da Graça".
25. São
Leão Magno (400-461) -
Papa e Doutor da Igreja - nasceu em Toscana, foi educado em Roma. Foi conselheiro sucessivamente
dos papas Celestino I (422-432) e Xisto III (432-440) e foi
muito respeitado como teólogo e diplomata. Participou de grandes problemas da
Igreja do seu tempo e pôde travar contato pessoal e por cartas com Santo
Agostinho, São Cirilo de Alexandria e São João Cassiano, que o
descrevia como "ornamento da Igreja e do divino ministério". Deixou
96 Sermões e 173 Cartas que chegaram até nós. Participou ativamente na
elaboração dogmática sobre o grave problema tratado no Concílio de Calcedônia,
a condenação da heresia chamada monofisismo. Leão foi o primeiro Papa que
recebeu o título de Magno (grande). Em sua atuação no plano político, a
História registrou e imortalizou duas intervenções de São Leão, respectivamente
junto a Átila, rei dos Hunos, em 452, e junto a Genserico, em 455, bárbaros que
queriam destruir Roma.
26. São
Bento de Núrsia (480-547) –
nasceu em Núrsia, na Úmbria, Itália; estudou Direito em Roma, quando se
consagrou a Deus. Tornou-se superior de várias comunidades monásticas; tendo fundado no
monte Cassino a célebre Abadia local. A sua Regra dos Mosteiros tornou-se a
principal regra de vida dos mosteiros do ocidente, elogiada pelo
papa S. Gregório Magno, usada até hoje. O lema dos seus mosteiros era "ora
et labora". O Papa Pio XII o chamou de Pai da Europa e Paulo VI
proclamou-o Patrono da Europa, em 24/10/1964.
27. São
Gregório Magno (540-604),
Papa e doutor da Igreja - Nasceu em Roma, de família nobre. Ainda muito jovem
foi primeiro ministro do governo de Roma. Grande admirador de S. Bento,
resolveu transformar suas muitas posses em mosteiros. O papa Pelágio o enviou
como núncio apostólico em Constantinopla até o ano 585. Foi feito papa em 590.
Foi um dos maiores papas que a Igreja já teve. Bossuet considerava-o
"modelo perfeito de como se governa a Igreja". Promoveu na liturgia o
canto "gregoriano". Os seus escritos exerceram profunda influência:
Vida de São Bento e Regra Pastoral, usado ainda hoje.
28. São
João Damasceno (675-749) -
Bispo e Doutor da Igreja - É considerado o último dos representantes dos Padres
gregos. É grande a sua obra literária: poesia, liturgia, filosofia e
apologética. Filho de um alto funcionário do califa de Damasco, foi companheiro
do príncipe Yazid que, mais tarde o promoveu ao mesmo encargo do pai, ministro
das finanças. A um determinado tempo deixou a corte do califa e
retirou-se para o mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém. Tornou-se o
pregador titular da basílica do Santo Sepulcro. Enfrentou com muita coragem a
heresia dos iconoclastas que condenavam o culto das imagens. Ficaram famosos os
seus Três Discursos a Favor das Imagens Sagradas.
Um comentário:
Muito importante esta iniciativa de colocarem estes resuminhos da vida destes santos tão importantes para nossa confirmação na fe.
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