Estamos praticamente às vésperas de um importante acontecimento na História da Igreja, bem como da Ordem Carmelita Descalça: a canonização do primeiro casal de esposos, algo ainda inédito. Existem sim casais que já foram beatificados ou no qual um dos cônjuges foi canonizado, porém o outro não.
Eles são um bom exemplo de amor e reconhecimento do valor da vida: Luís Martín e Zélia Guerín, pais de Santa Teresinha. Na época em que viveram, em meados do século XIX, não era fácil viver o Evangelho, tanto na França como em todos os lugares.
Luís José Aloísio Estanislau Martin nasceu em
22 de agosto de 1823, na cidade de Bordeaux, na França…Luís recebeu esse nome
porque era costume naquela época dar muitos nomes às crianças para que fossem
protegidas pelos santos padroeiros. Já a família de Zélia Guérin também era
muito boa dedicada… Na véspera do Natal foi batizada com o nome de Zélia Maria.
Zélia e Luís Martin… inicialmente não tinham
planos de casar, e sim de dedicarem-se à vida religiosa, entregues ao serviço
de Deus. Luis bem cedo se envolveu com o trabalho silencioso e meticuloso de
relojoeiro… Luís chegou a ir ao mosteiro do monte São Bernardo pedir que o
admitissem, mas o superior achou por bem despedi-lo, pois não sabia o latim.
Zélia era uma boa menina, dedicada aos
afazeres domésticos, aos estudos, trabalhadora, cultivava uma vida bastante
retirada e conservava em seu coração um grande desejo: ser irmã de caridade
para dedicar-se ao serviço dos pobres. Era seu sonho. Quando chegou à idade
ideal, Zélia decidiu ir ao convento das irmãs Vicentinas de Alençon para pedir
que lhe admitissem. A superiora, sem muito interrogatório, simplesmente disse
que ela não tinha vocação e pediu que voltasse para casa. Zélia, desiludida com
essa resposta, passou a dedicar-se a outro sonho: ser bordadeira do ponto de
Alençon.
Um dia… Zélia e Luís se encontraram
casualmente atravessando a ponte São Leonardo. Já se conheciam, viram-se muitas
vezes… Zélia recordará mais tarde que sentiu em seu coração uma voz interior
que lhe dizia: “Foi este que eu preparei para ti”…O noivado foi relâmpago,
aconteceu depois de três meses, o que provocou uma grande felicidade para a mãe
de Luís, que finalmente viu suas orações atendidas… No dia 13 de julho de 1858,
ano em que a igreja proclamaria o dogma da Imaculada Conceição a partir das
aparições de Nossa Senhora de Lourdes, foi realizado o matrimônio entre Zélia
Guérin e Luís Martin. Foi uma cerimônia para pouquíssimos convidados, realizada
à meia noite, na Igreja de Nossa Senhora de Alençon. Era costume naquele
tempo…casar-se na calada da noite.
Filhos
Zélia e Luís
tomaram a decisão de ter muitos filhos…Nasce a primeira filha do casal, Maria Luísa…Todos
os filhos e filhas do casal recebia o nome de “Maria” como sinal de
agradecimento à Virgem Maria, que era tão amada e venerada na família Martin.
Aliás, no dia do casamento, Luis e Zélia receberam como presente a imagem de
Nossa Senhora das Vitórias, que mais tarde ficou conhecida, por causa do
milagre do sorriso a Santa Teresinha, como Nossa Senhora do Sorriso. O grande sonho
de Zélia era ter um filho sacerdote. Isso nunca aconteceu, mas os pais não
rejeitaram as filhas que Deus lhes enviara.
1.
Maria
Luísa (1860-1940) – Ir. Maria do Sagrado Coração no Carmelo de Lisieux(1886)
2.
Maria
Paulina (1861-1951) – Ir. Inês de Jesus no Carmelo de Lisieux(1882);
3.
Maria
Leônia (1864-1941) – Ir. Francisca Teresa na Visitação em Caen(1898);
4.
Maria
Celina (1869-1959) – Ir. Genoveva da Sagrada Face no Carmelo de Lisieux(1894)
5.
Maria
Francisca Teresa (1873-1897) – Santa Teresinha – Carmelo
Irmãos falecidos antes de Santa Teresinha
nascer:
+Maria Helena(1864-1870);
+José
Maria(1866-1867)
+João Batista
Maria (1867-1868)
+Maria Melânia
Teresa (1870 – falecida aos 3 meses de idade) – p.28
Vários filhos e
filhas pequeninos morreram.A dor não lhes faltava pela morte de parentes e
amigos. Mas tudo sabiam aceitar com amor e ofereciam ao Senhor. (p.33)
Parte da
Carta de Zélia Guérin
“Agora, todos os dias, estou a espera do meu
anjinho…Se Nosso Senhor me concedesse a graça de poder amamentar o meu filho
seria um grande prazer para mim”.
Mas os sonhos os homens são diferentes dos
sonhos de Deus. Não nasceria um menino, e sim uma menina, que se tornou a
alegria não só da família Martin, mas do Carmelo, da Igreja e do mundo:
Teresinha.
Nascimento
Em uma quinta-feira, dia 2 de janeiro de 1873,
às vinte e três horas e trinta minutos, nasce a doce menina, que mais tarde se
autodefine como “uma flor primaveril”.
Ao dar à luz, Dona Zélia faz a oração que
costuma rezar após o nascimento de cada um de seus filhos: “Concedei-me a graça
de ela vos ser consagrada e de nada vir a manchar a pureza de sua alma.Se há de
perder-se um dia, prefiro que a leve imediatamente.
Ao amanhecer, um menino desconhecido deixou
debaixo da porta um papel com a seguinte poesia: Cresce depressa a sorrir, tudo
te chama a alegria, doces cuidados, ternura…Oh! sim, sorri o futuro Botão que
acabas de abrir. Hás de ser rosa algum dia.
Dor
A despeito de toda alegria, a saúde de
Teresinha não era das melhores. Os médicos ficam preocupados, pois a mãe não
poderia amamentá-la. Era urgente procurar uma ama de leite. (P.43) …Zélia foi a
Samallé, onde encontrou Rosinha, que já tinha sido ama de leite de outros seus
dois filhos…Em uma carta que escreve para a cunhada Zélia relata o drama
vivido: “A ama de leite, ao ver Teresinha, abanou a cabeça como se dissesse que
a criança estava perdida. Eu subi para o meu quarto, ajoelhei-me aos pés de São
José e implorei dele a graça de curar a minha filha, resignando-me, contudo, à
vontade de Deus, se a quisesse levar. Não choro muitas vezes, mas desta vez as
lágrimas corriam enquanto eu fazia esta oração…A criança a mamar com todas as
suas forças. Não largou o seio senão por volta de uma hora da tarde; vomitou
alguns goles e caiu morta em cima da cama. Estávamos cinco pessoas em volta
dela. Sentíamo-nos paralisados…
A pequenina, aparentemente não respirava…Por
fim, depois de uns quinze minutos, a minha Teresinha abriu os olhos e começou a
sorrir. Desde este momento ficou absolutamente curada, voltou-lhe o bom aspecto
e a alegria e vai o melhor possível. (p.45-46).
Carta da Zélia Guérin
Rosinha diz que nunca viu uma criança mais
interessante. Há de ser muito engraçada e até muito linda, basta colocá-la de
pé encostada a uma cadeira e já se segura muito bem, sem cair. Toma suas
precauçõezinhas e parece muito inteligente. Parece-me que há de ter um caráter
excelente, porque sorri sem cessar, com uma expressão de predestinada. A minha
Teresinha desde quinta-feira, começou a andar. É meiga e linda como um anjinho.
Tem um caráter encantador. Já se nota bem: tem um sorriso tão meigo! Como me
tarda vê-la em nossa casa. É uma menina muito encantadora, muito meiga e muito
adiantada para a sua idade. (p.47).
Bons exemplos
Costumavam rezar juntos, liam bons livros
sobre a vida dos santos, o terço era recitado todos os dias e a oração ocupava
um lugar de preeminência tanto na vida familiar como na de cada membro da
casa…Incentivavam suas filhas a ter devoção e amor à Virgem Maria…Todos os
pobres que batessem à porta da família eram bem recebidos e acolhidos,
recebendo roupa e comida. Nunca lhes negaram nada…O amor ao Papa e aos
sacerdotes sempre foi cultivado na família Martin. Os padres tinham pousada
garantida em sua casa quando passavam por Alençon. Outro momento que
exemplifica o amor da família pela igreja, mais especificamente o amor de
Teresinha, foi na grande peregrinação em Roma, por ocasião do jubileu de ouro
sacerdotal do papa Leão XIII. Foi uma peregrinação mais de padres que de
leigos, e foi nesta ocasião que Teresinha descobriu sua vocação para rezar
pelos padres…Suas relações com os sacerdotes eram impregnadas de atenções que
raiavam pela veneração. Não consentia a menor palavra de crítica ou de troça a
seu respeito. (p.50-52).
Trabalho
Luís não ganhava muito dinheiro com sua
relojoaria, além disso, ele e sua esposa não trabalhavam aos domingos e dias
santos de guarda, quando o povo saía das aldeias vizinhas para Alençon, para
participar da missa e depois fazer compras. Tanto a relojoaria de Luís Martin
como a loja de Zélia não abriam aos domingos, assim o povo era obrigado a
procurar outros comerciantes para poder adquirir o que lhes era necessário. Mas
para o casal o dia do Senhor era sagrado, e mesmo que perdessem dinheiro por
não trabalharem nesse dia, permaneciam fiéis. …Luís Martin não gostava de ter
dívida com ninguém, e era especialmente consciencioso em pagar os operários no
dia certo o que lhes era devido. (p.31-32)
Carta apaixonada de Zélia Guérin a Luis Martin
Quando o marido não podia acompanhá-la em suas
visitas a Lisieux, ela ficava triste, preocupada e cheia de saudades e de amor,
como mostra esta carta do dia 31 de agosto de 1873:
“Meu querido Luís,
Chegamos ontem às quatro e meia da tarde. O
meu irmão, que estava na estação à nossa espera, ficou radiante quando nos viu.
Ele e a mulher fazem o quanto podem para nos arranjar distrações. Hoje,
domingo, há uma bela recepção aqui em casa, à noite, em nossa homenagem.
Amanhã, segunda-feira, haverá um grande banquete na casa da senhora Maudelond
e, possivelmente, um passeio de carro à casa de campo da senhora Fournet. As
pequenas andam encantadas. Se o tempo estivesse bom, seria para elas o auge da
felicidade. Mas eu sou mais custosa de desarmar. Nada disso me interessa! Ando
exatamente como os peixes que tu tiras para fora da água: já não estão no seu
ambiente, não lhes resta senão morrer. Creio que era o que me aconteceria se a
minha permanência aqui tivesse sido prolongada…Acompanho-te em espírito a toda
hora. Digo para mim mesma: “Neste momento está a fazer isto ou aquilo”. Quanto
me tarda ver-me junto de ti, meu querido Luís! Amo-te de todo o meu coração e
sinto que o meu afeto aumenta com a privação da tua presença que tanto sinto.
Seria impossível para mim viver separada de você. Esta manhã assisti a três
missas. Fui às das seis, fiz a ação de graças e rezei as minhas orações durante
a das sete, e voltei à missa cantada. O meu irmão não está descontente com os
negócios que não vão mal. Diz a Leônia e a Celina que lhes mando muitos beijos
saudosos e que levarei para elas uma lembrança de Lisieux.
Verei se é possível escrever-te amanhã, mas
não sei a que horas voltaremos de Trouville. Escrevo com muita pressa porque
estão à minha espera para ir fazer visitas. Regressamos na quarta-feira à
tarde, às sete e meia. Como me parece distante! Beijo-te com muito amor. As
filhinhas recomendam-me que te diga que estão muito contentes por terem vindo a
Lisieux e que te mandam muitos beijos (Carta de Zélia a Luís, de 31 de agosto
de 1873). (p.57).
Educação
Os pais de Teresinha preocupavam-se muito com
a educação das cinco filhas…Em outubro de 1868, Maria e Paulina entraram no
Colégio da Visitação de Mans. A saída das pequeninas de CSA foi relatada pela
mãe em carta para seu irmão Isidoro:
Não pode imaginar quanto me custa sepa rá-las
de mim, mas é preciso saber fazer um sacrifício pela felicidade delas…Maria é
uma aluna excelente…Paulina aprende quanto quer e é adiantada…(p.60).
“Não estou nada descontente com a minha Leônia.
Se chegássemos a triunfar aquela teimosia e moldar-lhe um pouco o caráter,
faríamos dela uma boa menina, dedicada, sem medo de sacrifícios…ontem…ao
meio-dia disse-lhe que fizesse sacrifícios para vencer o seu mau humor e que, a
cada vitória alcançada, meteria uma avelã numa gaveta que lhe indiquei para
contarmos a noite.Ela ficou toda contente, mas como não havia avelãs,
mandei-lhe trazer uma rolha que parti em sete rodelinhas. À tarde perguntei-lhe
quantos ‘atos’ fizera. Nada, tinha corrido tudo o pior possível . eu não fiquei
contente e dirigi-lhe censuras severas, dizendo-lhe que não valia a pena,
nessas condições, pedir para ser religiosa. Começou a chorar, banhando-me o
rosto co lágrimas de sincero arrependimento e hoje há estão as rodelinhas de cortiças
na gaveta.”(p.62).
Zélia revelou: “Como me sinto feliz em ter
essa filha…o meu marido é doido por ela. É inacreditável o que ele se sacrifica
por ela de dia e de noite.(p.63)
Em 1876, um novo alarme: a saúde de Zélia
piorava. Estava com câncer, que se alastrava silenciosamente em seu organismo.
“Se Nosso Senhor permitir que eu morra disto, farei o possível para me resignar
o melhor que puder e suportar o meu mal com paciência, para ter menos tempo de
purgatório. (p.69).
Sem murmurar, Zélia seguiu o seu calvário,
carregando com dignidade, junto com familiares e parentes a sua cruz…(p.74)
Após a morte de Zélia, Luís se viu sozinho e
sem direção para conduzir a família sem a presença da esposa. Zélia confiava
muito em seu irmão, Isidoro, que era farmacêutico toma a iniciativa de cuidar
com afinco da família Martin…(p.77).
Lembranças de Teresinha sobre o Pai
Ah! Como era bom, depois da partida de damas,
sentar-me com Celina no Colo de papai…Com sua bela voz, ele cantava melodias que
enchiam a alma de pensamentos profundos… ou embalando-nos, recitava versos
repletos das verdades eternas…Não sei dizer o quanto amava papai; tudo nele
causava-me admiração.Era o ano de 1887.
O papa Leão XIII celebrava as bodas de ouro de sacerdócio…muitos
tentavam ir a Roma para prestar uma homenagem.Luís Martin se colocou em fila
para fazer esta viagem com Teresinha e Celina.
Mas os mais belos “peixes” que Luís ofereceu
ao Carmelo foram suas quatro filhas, que uma a uma levantaram voo dos
Buissonnets para o Carmelo.
E, 29 de julho de 1894, Luís estava preparado
para ir para a casa do Pai…sem esforço, como uma criança que adormece em paz, o
Sr. Martin entregava a alma a Deus. Tinha quase setenta e um anos. De Luís
Martin se dizia: “Era admirável na caridade, não julgava nunca os outros e
achava sempre desculpa para os defeitos do próximo.” (p.117)
Recorda-te de que outrora na terra tua
felicidade era sempre nos amar. De tuas filhas escuta agora a prece,
protege-nos, digna-te ainda nos abençoar. Encontraste, no céu, nossa Mãe
querida Que já te precedera na Pátria eterna: Agora nos céus reinais os dois.
Velais por nós! Lembra-te de Maria, tua bem-amada, Tua primogênita, a mais cara
a teu coração; Lembra-te de que ela preencheu tua vida com seu amor, encanto e
felicidade…Por Deus renunciaste a sua doce presença e abençoaste a mão que te
oferecia sofrimento…Ah, sim, do teu diamante, Cada vez mais brilhante,
Recorda-te…
Um casal especial – Frei Patrício Sciadinni.
Os pais de Santa Teresinha. Canção Nova. 2010.
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