Os governantes santos buscaram evitar
que a política fosse usada para a prática da iniquidade. Assim agiu José do Egito, e tantos ao longo
da História.
No Brasil, tivemos a Princesa Isabel,
uma governante cristã e santa, que amou o País, talvez mais do que qualquer
outra liderança política em nossa História, e sofreu por isso o mais longo
exílio impingido a uma autoridade pública, e morreu sem poder ter voltado ao
Brasil que tanto amou.
Seus inimigos e detratores, especialmente os
republicanos de inspiração positivista e anticlerical, foram implacáveis em
lançar sombras sobre a sua vida, patrulhando-a ideologicamente, silenciando
sobre suas reconhecidas virtudes pessoais e cívicas, pois temiam o seu reinado
por justamente ela ter comprovado ser uma governante cristã. Temiam mais ainda
o seu retorno, porque ela tinha a afeição do povo, que a chamou em vida de “A
Redentora”. Quando lhe propuseram recorrer às armas para retornar ao Brasil,
ela recusou, pois “considerava o uso da
força incompatível com o cristianismo”, do mesmo modo como agiu em relação
ao movimento abolicionista, evitando a via da violência, para obter a
libertação dos escravos. “Quando a
política deixará de empregar meios que diminuem a grandeza moral dos povos e
das pessoas? – Escreveu do exílio a João Alfredo Correia de Oliveira – É assim que tudo se perde e que nós nos
perdemos. O senhor, porém, conhece meus sentimentos de católica e brasileira”.
No ditado em português, do caderno da Princesa D.
Isabel, nº 12, ela exorta como os homens devem estampar a sua vida na história:
como “uma alma pura, patriota e caridosa”,
e exclama: “Como é belo passar-se à
posteridade com a reputação de São Luiz, de Felipe Camarão!” Vidas exemplares
marcadas por pureza, patriotismo e caridade”. Tais valores não foram
mencionados como um exercício meramente retórico, mas almejados por sua vida
inteira, mesmo depois de ter perdido o trono, por justamente ser fiel a tais
valores. Destaca também sua admiração por Henrique Dias “um dos grandes heróis do Brasil. Era preto e sua valentia não era
menor do que a dos primeiros generais do seu tempo. Achou-se muitas vezes com
Felipe Camarão e defendeu o Brasil contra a invasão holandesa. Assistiu à
segunda batalha dos Guararapes, ficando ferido. El-Rei de Portugal quis
recompensá-lo e deu-lhe um hábito de Cristo”.
Ainda no mesmo caderno de ditado em português,
escreveu a Princesa: “A caridade é uma
grande virtude. Deus nos diz no primeiro mandamento: ‘Amai a Deus sobre tudo e
ao próximo como a ti mesmo’. Quantos exemplos de caridade nos deu Jesus Cristo
em sua vida. Deixai os meninos vir a mim, disse ele um dia quando os discípulos
despediam umas crianças (…) como não
considerar esta virtude uma das primeiras? Ela deve sobretudo existir nos
soberanos para serem considerados como pais de seus súditos. São Luís, rei de
França, Santa Isabel de Portugal e Santo Estevão da Hungria são excelentes
exemplos desta virtude”.
As decisões
que a Princesa Isabel tomou como regente,
tornaram evidente que reconheceu antes
de mais nada, o primado de Deus. Em seu tempo, surgiram e se intensificaram
forças ideológicas contrárias à doutrina social cristã (cabe lembrar que o
Manifesto Comunista é de 1848). E que ela
perdeu o trono justamente no enfrentamento destas forças espirituais (cujas
tensões ficaram evidentes no próprio movimento abolicionista, e que tal
movimento só foi bem sucedido porque teve na Princesa Isabel a firmeza de fazer
valer a fé católica no processo. E por isso é que foi possível evitar
derramamento de sangue, e conter os ímpetos dos que queriam que se repetisse no
Brasil as violências ocorridas, por exemplo, no Haiti e nos Estados Unidos. Foi o catolicismo defendido pela Princesa
Isabel, que permitiu o êxito do maior movimento social da história deste país,
e com um resultado jubilante. Tudo isso porque prevaleceu no processo o primado
de Deus, que ela tão bem expressou em suas ações decisivas. No exílio, ela pôde
melhor compreender o alcance do significado do mistério da fé na história.
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Matéria
postada pelo Pe. João Dias Rezende:
Recentemente, foi veiculada a notícia de que a
Princesa Isabel seria canonizada pela Igreja Católica. Alguém poderia
perguntar: quem é a Princesa Isabel? Teria feito algo que a fizesse merecer a
honra dos altares? Alinhavamos breves palavras que podem ajudar a vislumbrar
quem foi Dona Isabel de Bragança e Bourbon e, após o casamento, Dona Isabel de
Orleans e Bragança. Trata-se da mulher brasileira que, durante toda a segunda
metade do séc. XIX, foi educada para governar nosso País, ainda que esse
preceito constitucional não tenha sido cumprido em 1889, como veremos adiante.
Em texto publicado no Jornal Testemunho de Fé, da
Arquidiocese do Rio de Janeiro, edição de 20 de novembro de 2011, Dom Antônio
Augusto Dias Duarte, Bispo auxiliar do Rio de Janeiro ressalta as qualidades
que ornaram o caráter de D. Isabel e o desconhecimento que muitos brasileiros
têm sobre ela: “Conhecendo com mais detalhes a vida dessa regente do Império
brasileiro e conversando com várias pessoas sobre a sua possível beatificação e
canonização num futuro próximo, fico admirado com suas qualidades humanas e sua
atuação política sempre inspirada pelos princípios do catolicismo, e,
paralelamente, chama-me atenção o desconhecimento que há no nosso meio cultural
e universitário sobre a personalidade dessa princesa brasileira”.
A Princesa D. Isabel exerceu três vezes a regência do
Brasil mostrando-se sempre uma estadista irrepreensível no cumprimento de seus
altos encargos constitucionais, como destaca o historiador Otto de Alencar de
Sá Pereira, antigo professor titular da Universidade Católica de Petrópolis e
decano do Instituto D. Isabel I: “Antes do advento da República, as atuações da
Princesa Imperial Regente demonstraram a competência governativa, a firmeza de
princípios e a caridade cristã pujante da Redentora no âmbito político e
social. Para além da Lei Áurea, sua ação de Estado é, sob todos os aspectos,
modelar.” (CERQUEIRA (org.), 2006, p. 34).
Acusada muitas vezes de carola, menosprezada pela sua
profunda fé e piedade, a Princesa D. Isabel procurava colocar em prática, em
todos os âmbitos de sua vida, sobretudo em sua atuação política, os princípios
basilares de sua fé, o que incomodava a classe política, formada em sua maioria
por homens pouco afeitos à religião e influenciados pelos famosos “ismos” do
fim de século: positivismo, cientificismo, anticlericalismo etc. Com certeza, a
sua visão cristã, influenciou-a na defesa dos mais necessitados, sobretudo,
como incentivadora da causa abolicionista que abraçou. D. Isabel dirigindo-se
ao abolicionista André Rebouças, ainda a bordo do navio que desterrava a
Família Imperial disse: “Senhor Rebouças, se houvesse ainda escravos no Brasil,
nós voltaríamos para libertá-los.” (NABUCO, Minha Formação, p.182).
E é o reconhecimento pela sua ação em prol do fim da
liberdade que levou o mulato José do Patrocínio, um dos tigres da abolição, a
cognominar a Princesa Imperial de “A Redentora”. Em interessante depoimento do
Sr. Heidimar Marques, no IV volume da obra Memória de Velhos, fica registrado
um desses atos de verdadeira gratidão que o povo simples, porém sábio, devotava
a D. Isabel. Ao referir-se a uma antiga escrava maranhense, falecida em 1957,
ainda lúcida aos 115 anos, o sr. Heidimar conta-nos: A festa anual de Mãe Calu
era 13 de maio, em homenagem à Princesa Isabel. Todos nós sabemos o que
significou, na abolição da escravatura, a Princesa Isabel e os revolucionários.
Para Mãe Calu, a Princesa Isabel era uma santa. Ela chamava de Santa Isabel. E prossegue descrevendo as festas que a velha
negra fazia em reverência à memória da Princesa. É fácil concluir que o culto
popular do sensus fidei fidelium,
isto é, o senso de fé do povo, não está restrito ao Maranhão, mas se estende
por todo Brasil.
D. Isabel está, pois, credenciada ao “posto” de santa?
O Concílio Vaticano II, na Constituição Lumem Gentium ao tratar da santidade
dos fieis diz: “devem os fiéis conhecer a natureza íntima e o valor de todas as
criaturas, e a sua ordenação para a glória de Deus, ajudando-se uns aos outros,
mesmo através das atividades propriamente temporais, a levar uma vida mais
santa, para que assim o mundo seja penetrado do espírito de Cristo e, na
justiça, na caridade e na paz, atinja mais eficazmente o seu fim”.
D. Isabel viveu para promover a justiça e a paz entre
os brasileiros, colocando em primeiro lugar, em todas as suas ações, fosse como
filha, esposa, mãe, católica, estadista, a Caridade que ilumina os corações e
redime das misérias deste mundo. Vivendo em alto grau as virtudes evangélicas,
ela preenche os requisitos necessários para ser “candidata” aos altares. Que
venham as provas de sua intercessão para que em breve tenhamos, oficialmente,
mais uma amiga junto de Deus a nos servir de modelo de discípula de Cristo, Rei
dos Reis do Universo e servo fiel.
Postado em 29 de dezembro de 2012 por
Padre João Dias Rezende Filho
3 comentários:
Fico feliz ao saber que a princesa Isabel é Serva de Deus. Quando eu exercia o magistério sempre procurei exaltar o seu amor pelos irmãos escravos, procurei ajudar os meus alunos a descobrirem a beleza interior de nossa princesa querida. Agora, ao ler o artigo sobre ela, agradeço a Deus tamanha graça concedida à Igreja e ao mundo.
Que nosso Pai querido e nossa Mãe amada os abençoem!
Muito bom o artigo. Somente a citação ao Manifesto Comunista é descabida.
Serva de Deus Princesa Isabel,rogai por nós e pelo nosso Brasil (a Terra de Santa Cruz).
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