Sem a menor sombra de dúvida, um dos maiores santos da Igreja. Tanto que mereceu a honra e glória de ser o primeiro mártir de Cristo e da fé católica. Sua vida e morte foram gloriosas. O próprio São Lucas reserva um bom trecho de seus Atos dos Apóstolos para narrar-lhe a história. Quem dera fosse também ele menos "esquecido" pelo grande público católico e fosse mais venerado em nossas igrejas e paróquias...
Eleição do
diácono Estevão
Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos,
houve queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas teriam sido
negligenciadas na distribuição diária. Por isso, os Doze convocaram uma reunião
dos discípulos e disseram: “Não é
razoável que abandonemos a palavra de Deus, para administrar. Portanto, irmãos,
escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de
sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. Nós atenderemos sem cessar à
oração e ao ministério da palavra. Este parecer agradou a toda a reunião.
Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro,
Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos
aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos. Divulgou-se sempre mais
a palavra de Deus. Multiplicava-se consideravelmente o número dos discípulos em
Jerusalém. Também grande número de sacerdotes aderia à fé”. (Atos 6, 1-7)
Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres
e prodígios entre o povo. Mas alguns da sinagoga, chamada dos Libertos, dos
cirenenses, dos alexandrinos e dos que eram da Cilícia e da Ásia, levantaram-se
para disputar com ele. Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito
que o inspirava. Então subornaram alguns indivíduos para que dissessem que o
tinham ouvido proferir palavras de blasfêmia contra Moisés e contra Deus.
Amotinaram assim o povo, os anciãos e os escribas e, investindo contra ele,
agarraram-no e o levaram ao Grande Conselho. Apresentaram falsas testemunhas
que diziam: Esse homem não cessa de proferir palavras contra o lugar santo e
contra a lei. Nós o ouvimos dizer que Jesus de Nazaré há de destruir este lugar
e há de mudar as tradições que Moisés nos legou. Fixando nele os olhos, todos
os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de um anjo. (Atos
6, 8-15)
Perguntou-lhe então o sumo sacerdote: É realmente
assim? 2.Respondeu ele: Irmãos e pais, escutai. O Deus da glória apareceu a
nosso pai Abraão, quando estava na Mesopotâmia, antes de ir morar em Harã. E
disse-lhe: Sai de teu país e de tua parentela, e vai para a terra que eu te
mostrar (Gn 12,1). Ele saiu da terra dos caldeus, e foi habitar em Harã. Dali,
depois que lhe faleceu o pai, Deus o fez passar para esta terra, em que vós
agora habitais. Não lhe deu nela propriedade alguma, nem sequer um palmo de
terra, mas prometeu dar-lha em posse, e depois dele à sua posteridade, quando
ainda não tinha filho algum. Eis como falou Deus: Tua descendência habitará em
terra estranha e será reduzida à escravidão e maltratada pelo espaço de
quatrocentos anos. Mas eu julgarei a nação que os dominar – diz o Senhor -, e
eles sairão e me prestarão culto neste lugar (Gn 15,13s.; Ex 3,12). E deu-lhe a
aliança da circuncisão. Assim, Abraão teve um filho, Isaac, e, passados oito
dias, o circuncidou; e Isaac, a Jacó; e Jacó, os doze patriarcas. Os
patriarcas, invejosos de José, venderam-no para o Egito. Mas Deus estava com
ele. Livrou-o de todas as suas tribulações e deu-lhe graça e sabedoria diante
do faraó, rei do Egito, que o fez governador do Egito e chefe de sua casa.
Sobreveio depois uma fome a todo o Egito e Canaã.
Grande era a tribulação, e os nossos pais não achavam o que comer. Mas quando
Jacó soube que havia trigo no Egito, enviou pela primeira vez os nossos pais
para lá. Na segunda, foi José reconhecido por seus irmãos, e foi descoberta ao
faraó a sua origem. Enviando mensageiros, José mandou vir seu pai Jacó com toda
a sua família, que constava de setenta e cinco pessoas. Jacó desceu ao Egito e
morreu ali, como também nossos pais.
Seus corpos foram trasladados para Siquém, e foram postos no sepulcro
que Abraão tinha comprado, a peso de dinheiro, dos filhos de Hemor, de Siquém.
Aproximava-se o tempo em que devia realizar-se a promessa que Deus havia jurado
a Abraão. O povo cresceu e se multiplicou no Egito até que se levantou outro
rei no Egito, o qual nada sabia de José. Este rei, usando de astúcia contra a
nossa raça, maltratou nossos pais e obrigou-os a enjeitar seus filhos para
privá-los da vida.
Por este mesmo tempo, nasceu Moisés. Era belo aos
olhos de Deus e por três meses foi criado na casa paterna. Depois, quando foi
exposto, a filha do faraó o recolheu e o criou como seu próprio filho. Moisés
foi instruído em todas as ciências dos egípcios e tornou-se forte em palavras e
obras. Quando completou 40 anos, veio-lhe à mente visitar seus irmãos, os
filhos de Israel. Viu que um deles era maltratado; tomou-lhe a defesa e vingou
o que padecia a injúria, matando o egípcio. Ele esperava que os seus irmãos
compreendessem que Deus se servia de sua mão para livrá-los. Mas não o
entenderam. No dia seguinte, dois dentre
eles brigavam, e ele procurou reconciliá-los: Amigos, disse ele, sois irmãos,
por que vos maltratais um ao outro? Mas o que maltratava seu compatriota o
repeliu: Quem te constituiu chefe ou juiz sobre nós? Porventura queres tu
matar-me, como ontem mataste o egípcio?
A estas palavras, Moisés fugiu. E esteve como estrangeiro na terra de
Madiã, onde teve dois filhos.
Passados quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do
monte Sinai um anjo, na chama duma sarça ardente. Moisés, admirado de uma tal
visão, aproximou-se para a examinar. E a voz do Senhor lhe falou: Eu sou o Deus
de teus pais, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó. Moisés, atemorizado, não
ousava levantar os olhos. O Senhor lhe
disse: Tira o teu calçado, porque o lugar onde estás é uma terra santa.
Considerei a aflição do meu povo no Egito, ouvi os seus gemidos e desci para
livrá-los. Vem, pois, agora e eu te enviarei ao Egito. Este Moisés que
desprezaram, dizendo: Quem te constituiu chefe ou juiz?, a este Deus enviou
como chefe e libertador pela mão do anjo que lhe apareceu na sarça. Ele os fez
sair do Egito, operando prodígios e milagres na terra do Egito, no mar Vermelho
e no deserto, por espaço de quarenta anos.
Foi este Moisés que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará
dentre os vossos irmãos um profeta como eu.
Este é o que esteve entre o povo congregado no deserto, e com o anjo que
lhe falara no monte Sinai, e com os nossos pais; que recebeu palavras de vida
para no-las transmitir. Nossos pais não lhe quiseram obedecer, mas o repeliram.
Em seus corações voltaram-se para o Egito, dizendo a Aarão: Faze-nos deuses,
que vão diante de nós, porque quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do
Egito, não sabemos o que foi feito dele.
Fizeram, naqueles dias, um bezerro de ouro e
ofereceram um sacrifício ao ídolo, e se alegravam diante da obra das suas
mãos. Mas Deus afastou-se e os abandonou
ao culto dos astros do céu, como está escrito no livro dos profetas:
Porventura, casa de Israel, vós me oferecestes vítimas e sacrifícios por
quarenta anos no deserto? Aceitastes a
tenda de Moloc e a estrela do vosso deus Renfão, figuras que vós fizestes para
adorá-las! Assim eu vos deportarei para além da Babilônia (Am 5,25ss.). A Arca da Aliança esteve com os nossos pais
no deserto, como Deus ordenou a Moisés que a fizesse conforme o modelo que
tinha visto. Recebendo-a nossos pais,
levaram-na sob a direção de Josué às terras dos pagãos, que Deus expulsou da
presença de nossos pais. E ali ficou até o tempo de Davi. Este encontrou graça diante de Deus e pediu
que pudesse achar uma morada para o Deus de Jacó. Salomão foi quem lhe edificou
a casa. O Altíssimo, porém, não habita
em casas construídas por mãos humanas. Como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos
meus pés. Que casa me edificareis vós?, diz o Senhor. Qual é o lugar do meu repouso? Acaso não foi minha mão que fez tudo isto (Is
66,1s.)? Homens de dura cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós
sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam os vossos pais, assim
procedeis vós também! A qual dos
profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram os que prediziam a vinda do
Justo, do qual vós agora tendes sido traidores e homicidas. Vós que recebestes a lei pelo ministério dos
anjos e não a guardastes… (Atos 7, 1-53)
Morte de
Estevão
Ao ouvir tais palavras, esbravejaram de raiva e
rangiam os dentes contra ele. Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu
e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus: Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à
direita de Deus. Levantaram então um grande clamor, taparam os ouvidos e todos
juntos se atiraram furiosos contra ele. Lançaram-no fora da cidade e começaram
a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram os seus mantos aos pés de um moço
chamado Saulo. E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o
meu espírito. Posto de joelhos, exclamou em alta voz: Senhor, não lhes leves em
conta este pecado… A estas palavras, expirou. (Atos 7, 54-60; Atos 8, 1)
FESTA DE SANTO ESTÊVÃO, PROTOMÁRTIR
PAPA BENTO XVI
ANGELUS Praça de São Pedro, 26 de Dezembro de 2009
Queridos irmãos e irmãs!
Com o coração ainda cheio de admiração e inundado pela
luz que promana da gruta de Belém, onde com Maria, José e os pastores adorámos
o nosso Salvador, hoje recordamos o diácono Santo Estêvão, o primeiro mártir
cristão. O seu exemplo ajuda-nos a compreender em maior medida o mistério do
Natal e testemunha-nos a maravilhosa grandeza do nascimento daquele Menino no
qual se manifesta a graça de Deus, portadora de salvação para os homens (cf. Tt
2, 11). De facto, aquele que geme na manjedoura é o Filho de Deus feito homem,
que nos pede para testemunhar com coragem o seu Evangelho, como fez Santo
Estêvão o qual, cheio do Espírito Santo, não hesitou em dar a vida por amor do
seu Senhor. Ele, como o seu Mestre, morre perdoando os próprios perseguidores e
faz-nos compreender como a entrada do Filho de Deus no mundo dê origem a uma
nova civilização, a civilização do amor, que não cede perante o mal e a
violência e abate as barreiras entre os homens, tornando-os irmãos na grande
família dos filhos de Deus.
Estêvão é também o primeiro diácono da Igreja, que
fazendo-se servo dos pobres por amor de Cristo, entra progressivamente em plena
sintonia com Ele e segue-o até ao dom supremo de si. O testemunho de Estêvão,
como o dos mártires cristãos, indica aos nossos contemporâneos muitas vezes
distraídos e desorientados, em quem devam depor a sua confiança para dar
sentido à vida. De facto, o mártir é aquele que morre com a certeza de saber
que Deus o ama e, nada antepondo ao amor de Cristo, sabe que escolheu a melhor
parte. Configurando-se plenamente com a morte de Cristo, está consciente de ser
germe fecundo de vida e de abrir no mundo veredas de paz e de esperança. Hoje,
apresentando-nos o diácono Santo Estêvão como modelo, a Igreja indica-nos, de
igual modo, no acolhimento e no amor aos pobres, um dos caminhos privilegiados
para viver o Evangelho e testemunhar de modo credível aos homens o Reino de
Deus que há-de vir.
A festa de Santo Estêvão recorda-nos também os
numerosos crentes, que em várias partes do mundo, são submetidos a provas e
sofrimentos por causa da sua fé. Confiando-os à sua celeste protecção,
empenhemo-nos em apoiá-los com a oração e a nunca faltar à nossa vocação
cristã, pondo sempre no centro da nossa vida Jesus Cristo, que nestes dias
contemplamos na simplicidade e na humildade do presépio. Invoquemos para esta
finalidade a intercessão de Maria, Mãe do Redentor e Rainha dos Mártires, com a
oração do Angelus.
Fonte:http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/angelus/2009/documents/hf_ben-xvi_ang_20091226_st-stephen_po.html
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