Discípulo de São
Francisco, clérigo da Primeira Ordem (+1262). Pio VI aprovou seu culto no dia 4
de julho de 1777.
Dos primeiros
companheiros de Francisco de Assis nenhum lhe era mais caro ao coração do que
um irmão muito simples que ele chamava “nosso
cavaleiro da Távola Redonda”. Jovem de uma piedade e de uma pureza de vida
singulares, Egídio admirava seu concidadão Francisco à distância, mas não
ousava aproximar-se dele, até o dia em que soube que seus amigos Bernardo e
Pedro tinham-se tornado seus companheiros, decididos a viver com ele uma vida
de pobreza. Egídio imediatamente resolveu fazer o mesmo. Ao sair da cidade,
encontrou-se com seu mestre e os dois estavam absorvidos na conversa, quando
foram abordados por uma mendiga.
“Dá-lhe o teu
casaco” – disse-lhe São Francisco, ao se dar conta de que nenhum deles tinha
dinheiro. E o candidato a discípulo prontamente obedeceu. O teste foi
suficiente: no dia seguinte, Egídio recebeu o hábito. Primeiramente ficou com
Francisco, acompanhando-o em suas viagens de evangelização pela Marca de Ancona
e outras regiões não distantes de Assis, mas um sermão em que o Fundador exortou
os discípulos a saírem pelo mundo afora, levou Egídio a fazer uma peregrinação
a Compostela.
Pode-se dizer
que ele praticamente percorreu o seu caminho de ida e volta sempre trabalhando,
porque, quando possível, retribuía as esmolas com algum serviço pessoal, e
distribuía com os outros tudo o que recebia ou possuía, inclusive o seu próprio
manto, sem se preocupar com as zombarias que sua aparência grotesca provocava.
Depois de seu retorno à Itália, foi enviado a Roma, onde ganhava seu sustento,
executando trabalhos como o de carregar água ou cortar lenha. Uma visita à
Terra Santa foi seguida de uma missão a Túnis, destinada a converter os
sarracenos. A expedição resultou em fracasso. Os cristãos locais temiam sofrer
com o ressentimento dos muçulmanos e, em vez de acolherem e ajudarem os
missionários, obrigaram-nos a voltar a seus navios, antes mesmo de darem início
à missão. Frei Egídio passou o resto de sua vida na Itália, principalmente em
Fabriano, Rieti e Perusa, onde morreu.
Apesar de sua
simplicidade e de sua falta de cultura, ele era dotado de uma sabedoria infusa que levava as pessoas
de todas as condições a consultá-lo. Aos que procuravam seus conselhos, a
experiência ensinava que evitassem certos assuntos ou palavras cuja simples
menção fazia o frade mergulhar em êxtase, durante o qual parecia totalmente
alheio ao mundo. Os próprios garotos da rua sabiam disto, e, quando o viam
passar, gritavam: “Paraíso! Paraíso!” Egídio tinha veneração pelas pessoas
cultas, e certa vez perguntou a São Boaventura se o amor dos ignorantes para
com Deus se igualaria ao de uma pessoa culta. “Iguala sim – foi a resposta do santo. Uma boa velhinha analfabeta pode amar a Deus melhor do que um doutor
letrado da Igreja”.
Encantado com a
resposta, Frei Egídio correu para o portão do jardim que olhava para a entrada
da cidade e gritou: “Escutai-me, vós
todas, boas velhinhas! Vós podeis amar a Deus melhor do que Frei Boaventura”.
Neste momento entrou em êxtase que durou três horas. Na medida do possível, ele
vivia uma vida retirada, em companhia de certo discípulo. Este depois declarou
que, em todos os 20 anos que passaram juntos, nunca ouviu seu mestre pronunciar
uma palavra vã. Seu amor ao silêncio era verdadeiramente notável. Conta-nos uma
bela lenda que S. Luís de França, por ocasião de sua viagem à Terra Santa,
desembarcou secretamente na Itália, para visitar seus santuários. Em Perusa,
procurou Frei Egídio, a respeito do qual ouvira contar muitas coisas. Depois de
se abraçarem efusivamente, os dois se ajoelharam um ao lado do outro, em muda
oração, e em seguida se separaram, sem terem trocado uma palavra sequer
exteriormente.
Durante toda a
sua vida, o Beato Egídio sofreu terríveis tentações do demônio, mas, como bom
soldado de Cristo, considerava muito normal ter de lutar contra o inimigo de
seu Mestre. Ele odiava a ociosidade. Quando vivia em Rieti, o Cardeal Bispo de
Túsculo gostava frequentemente de tê-lo como seu companheiro à mesa, mas Egídio
só comparecia se pudesse ganhar o almoço prestando algum serviço. Certo dia de
muita chuva, seu anfitrião lhe garantiu que, como era impossível trabalhar no
campo, ele devia aceitar a refeição de graça. Seu hóspede, porém, não era
pessoa fácil de dissuadir. Penetrando furtivamente na cozinha do cardeal, que
achou extremamente suja, Egídio ajudou a fazer uma boa limpeza nela, antes de
voltar à mesa de seu anfitrião.
A dor pungente
que lhe causou a morte de São Francisco foi seguida, naquele mesmo ano, pela
maior alegria de sua vida, pois Nosso Senhor lhe apareceu em Cetona, com o
mesmo aspecto que tinha quando estava neste mundo. Posteriormente, Egídio
costumava dizer a seus irmãos que nascera quatro vezes: no dia de seu próprio
nascimento, no dia do batismo, no dia da tomada de hábito e no dia em que viu
Nosso Senhor.
Os ditos áureos
de Frei Egídio, muitos dos quais chegaram até nós, foram publicados muitas
vezes. Eles nos revelam uma profunda vida espiritual, aliada a uma aguda
capacidade de percepção das coisas.
As fontes da
vida do Beato Egídio são tão numerosas, que é impossível enumerá-las aqui. O
elemento principal é uma biografia, escrita, ao que parece, em sua forma
primitiva, por Frei Leão, mas conservada em duas recensões distintas,
conhecidas como Vida Longa e Vida Breve. Encontra-se uma discussão exaustiva
desses e de outros materiais em W. W. Seton, Blesseti Giles ot Assisi (1918),
que atribui a prioridade à Vida Breve e publica um texto latino e uma tradução.
A Vida Longa foi incorporada na Chronica XXIV Generazium, publicada em
Quaracchi em 1897. Vejam-se também I Fioretti de S. Francisco de Assis
(numerosas edições), e Léon, “Auréole séraphique” (trad. para o inglês), voI.
II, p. 89-101.
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