Desconhecida pela maior parte do "público católico", esta grande Santa, glória da Ordem Beneditina, foi precursora da espiritualidade de outras grandes santas como: Santa Teresa de Ávila, Santa Catarina de Sena e Santa Maria Faustina Kowalska. Seu amor pela Humanidade de Cristo, especificamente por sua Santíssima Encarnação e Infância, por Santa Paixão e por seu Sagrado Coração, renderam-lhe várias aparições do Senhor e revelações místicas.
Gertrudes,
a Grande
É certo que Gertrudes era de uma família
abastada, mas sabemos apenas que ela nasceu em Eisleben, Alemanha, no ano 1256.
Não era de família nobre, como acreditaram alguns, confundindo-a com Gertrudes,
a Abadessa de Helfta. Seus pais a colocaram como aluna das beneditinas de
Roderdorf quando tinha apenas cinco anos.
Muito piedosa e culta, Gertrudes de
Hackeborn vendo a estupenda inteligência de sua homônima, incentivou-a muito
não apenas na observância monástica, mas também nas atividades intelectuais que
Santa Lioba e suas freiras anglo-saxãs haviam transmitido às suas fundações na
Germânia.
A pequena Gertrudes encantava a todos.
“Nessa alma, Deus reuniu o brilho e o frescor das mais belas flores à candura
da inocência, de maneira que encantava todos os olhares como atraía todos os
corações”, diz sua biógrafa e contemporânea.
Como vimos acima, a comunidade
transferiu-se para Helfta e a Abadia seguia na época a regra cisterciense. Para
uma jovem de seu tempo, não era coisa tão comum, mas Gertrudes recebeu uma
cultura universal e clássica. Estudou latim, filosofia e teologia; se comprazia
com a leitura de Virgilio e Cícero, e a filosofia de Aristóteles.
A educação de Gertrudes foi confiada à
irmã da priora, Matilde de Hackeborn, muito adiantada na via mística e na
santidade. Esta procurava incutir nas almas de suas alunas o fogo do amor de
Deus que devorava seu coração. E encontrou em Gertrudes um campo propício para
isso.
A narração das experiências místicas de
Matilde, Lux divinitatis, constitui um elegante texto poético. Por volta de
1290, Matilde tivera uma visão relacionada com a devoção ao Sagrado Coração de
Jesus. Estas religiosas eram influências decisivas na vida interior de muitas
jovens que delas se aproximavam, e certamente devem ter influenciado Gertrudes.
Em 27 de janeiro de 1281, depois de um mês
de terrível provação, Nosso Senhor apareceu-lhe e fez-lhe compreender sua
falta: “Provaste a terra com meus inimigos e sugaste algumas gotas de mel entre
os espinhos. Volta a mim, e te inebriarei na torrente de meu divino amor”. E, como dirá ela mesma, o Senhor "mais
brilhante que toda luz, mais profundo do que qualquer segredo, docemente
começou a aplacar aquela perturbação que havia entrado em meu coração".
Nessa visão, não de modo visível
externamente, foram-lhe impressos os sagrados estigmas de Cristo Senhor Nosso,
e em seguida foi agraciada com êxtases.
Após tais acontecimentos, que ela chama de
“sua conversão”, entregou-se com ardor ao estudo da teologia escolástica e
mística, da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja, sobretudo de Santo
Agostinho, São Gregório Magno, São Bernardo e Hugo de São Vítor.
No mosteiro ela não exercia outra função
senão a de irmã-substituta da irmã-cantora, Santa Matilde. Apesar de sempre
doente e lutando tenazmente contra suas paixões, atendia às inúmeras pessoas
que a vinham consultar. Gertrudes desejaria viver na solidão, mas as notícias
correm e pessoas chegam ao mosteiro para fazerem confidências, para
interrogá-la, ou simplesmente para vê-la.
E esta contemplativa enferma tem momentos
de assombrosa atividade no contato com as pessoas e no empenho em divulgar-lhes
a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e o culto a São José. A outros mais
distantes auxilia com seus escritos, a exemplo de Matilde, e o faz com
elegância que é fruto de seus estudos. O empenho da adolescência e da juventude
na disciplina escolástica preparara Gertrudes para ser uma apóstola do modo
adequado ao seu tempo. E é uma precursora de Santa Teresa d'Ávila e de Santa
Margarida Maria Alacoque.
Santa Gertrudes foi objeto das
complacências divinas, como mais tarde haveria de ser Santa Margarida Maria
Alacoque. Ambas penetraram no amor íntimo de Jesus, embora de maneira diversa.
Santa Gertrudes é a Santa da Humanidade de
Jesus Cristo e a teóloga do Sagrado Coração. Ela vê o Coração Divino não com a
coroa de espinhos e a cruz; não se sente chamada à vocação especial de vítima
expiatória pelos pecados do mundo. A chaga do peito que Jesus lhe apresenta é
uma porta dourada por onde ela entra. Como São João Evangelista, ela repousa
sobre o peito de Jesus, onde seu Coração é para ela um banho de purificação, um
asilo e um descanso.
Um dia Gertrudes não pôde assistir com as
Irmãs uma conferência espiritual. Apareceu-lhe o Senhor e lhe disse:
"Queres, minha queridíssima, que o sermão to faça Eu"? Ela aceitou e
Jesus fez que ela descansasse sobre o seu Coração e ela ouviu duas pulsações:
"Com estas duas pulsações opero Eu a salvação dos homens", disse-lhe
Ele. A primeira pulsação servia para tornar o Pai propício aos pecadores, para
lhes desculpar a malícia e movê-los à contrição; a segunda era um grito de
alegria e congratulação pela eficácia do sangue de Jesus na salvação dos justos.
Era um grito que atraía os bons para trabalharem constantemente na obra de sua
perfeição.
Num ano em que o frio ameaçava os homens,
animais e colheitas, durante a Missa Santa Gertrudes implorava a Deus que desse
remédio a esses males. E teve a seguinte resposta: “Filha, hás de saber que
todas tuas orações são ouvidas”. Ao que ela replicou: “Senhor, dai-me a prova
desta bondade fazendo com que cessem os rigores do frio”. Ao sair da igreja, a
santa notou que os caminhos estavam inundados pela água produzida pela neve
derretida. O tempo favorável continuou, e começou mais cedo a primavera.
A fama de santidade acompanhava Gertrudes
já em vida e perdurou no tempo. As suas obras, o Arauto da bondade divina e os
sete Exercícios, em belíssima prosa latina, foram editadas no século XVI pelo
cartuxo João Lamperge e foram logo traduzidas para várias línguas europeias.
Os especialistas afirmam que os livros da
Santa Gertrudes, junto com as obras de Santa Teresa d'Ávila e de Santa Catarina
de Sena, são as obras mais úteis que uma mulher tenha dado à Igreja para
alimentar a piedade das pessoas que se dedicam à vida contemplativa.
Santa Gertrudes havia escrito uma
preparação para a morte, para proveito dos fiéis. Consistia em um retiro de
cinco dias, o primeiro dos quais consagrado a considerar a última enfermidade;
o segundo, a confissão; o terceiro, a unção dos enfermos; o quarto, a comunhão;
e o quinto a dispor-se para a morte. Certamente ela se preparou desse modo para
seu falecimento, que ocorreu no Mosteiro de Helfta, em 17 de novembro de 1302.
Gertrudes já era considerada santa no
momento de sua morte; Clemente XII incluiu o seu ofício no Calendário Romano em
1677. Mas somente em 1739 o seu culto foi estendido à Igreja Universal.
Santa Teresa de Ávila e São Francisco de
Sales promoveram muito o culto a essa santa extraordinária. Gertrudes é uma das
padroeiras dos escritores católicos.
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