Hoje trago para os leitores do blog um belo artigo sobre a vida de santo André Corsini, bispo da Ordem Carmelita, muito conhecido na Itália e famoso pela santidade e pelos muitos milagres ocorridos em vida e após sua santa morte. Que no Céu interceda por todos nós que estamos sob o mesmo manto materno da Virgem do Carmo. Amém!
"És meu servo, em ti serei glorificada". Estas palavras
da Virgem Maria ao jovem sacerdote André Corsini constituem o melhor resumo de
sua santa vida.
Nicolau Corsini
e sua esposa Pelerina ouviam atentamente o sermão na igreja dos carmelitas e
tiveram ambos um sobressalto interior quando o pregador pronunciou estas
palavras do Êxodo: "Não demorarás a oferecer a Deus os dízimos e as
primícias".
A família
Corsini era das mais nobres de Florença. A Nicolau e sua esposa não faltavam
recursos financeiros, menos ainda virtude e piedade, para fazer generosas
doações à Igreja. A que atribuir, pois, esse sobressalto a propósito do dízimo?
Era a voz da graça em suas almas.
Promessa recompensada
Até então, o
casal não tivera um filho sequer, e desejava ter muitos. Nos ouvidos de
Pelerina, aquela frase do Êxodo soou como uma sugestão vinda do Céu, de
consagrar a Deus o primeiro filho que Este lhe concedesse. E sem demora fez a
promessa, diante da imagem de Nossa Senhora do Povo.
Sem saber o que
se passara com sua esposa, Nicolau foi objeto de igual moção sobrenatural e fez
idêntica promessa, diante da mesma imagem da Santíssima Virgem.
De retorno ao
lar, não foi pequena a surpresa do piedoso casal quando um revelou ao outro o
que havia acontecido e descobriram, assim, a feliz "coincidência".
Cheios de esperança, renovaram a promessa aos pés de uma imagem da Virgem
Maria.
Constatando
meses depois que sua súplica fora atendida, Pelerina passou então a rezar com
ardor para que o fruto de suas entranhas fosse agradável a Deus.
Para seu
espanto, na véspera do nascimento do menino, sonhou que ia dar à luz um lobo.
No sonho, enquanto expunha à Virgem Imaculada sua grande aflição, viu o lobo entrar
numa igreja e transformar-se em alvíssimo cordeiro.
Sentiu-se
aliviada ao despertar, mas não contou a ninguém o sucedido. No dia seguinte, 30
de novembro de 1302, festa de Santo André, deu à luz um belo menino, o qual
recebeu o nome do Apóstolo.
O sonho se torna realidade...
André herdou a
nobreza dos pais. Era bem apessoado e dotado de inteligência privilegiada.
Porém, perto dos
doze anos de idade, foi se tornando filho rebelde, provocava brigas e disputas
na família, interessava-se apenas por jogos, armas e caçadas. Pouco se
importava com a Igreja e a religião.
Aumentava cada
dia mais a preocupação dos pais pelo futuro desse mau filho. Tendo este mais de
15 anos, decidiram expor-lhe as circunstâncias milagrosas de seu nascimento e a
promessa por eles feita naquela oportunidade. O rapaz, porém, com desprezo,
recusou-se a ouvi-los.
Disse-lhe então
a mãe, com voz suave e desgostosa:
-
Verdadeiramente, André, tu és o lobo com o qual sonhei na véspera de teu
nascimento.
- Que dizeis?
Como posso ser um lobo? - retrucou-lhe ele com insolência.
- Fica sabendo,
meu filho, que teu pai e eu, sendo estéreis, fizemos uma promessa à gloriosa
Virgem Maria, de lhe oferecer o primeiro de nossos filhos, que és tu! Sabe
também que, na véspera de teu nascimento, sonhei que dava à luz um lobo, mas
que entrando numa igreja ele se transformou em cordeiro. Assim, meu filho, tu
pertences à Virgem Maria. Suplico-te, portanto, que não desdenhes servir a tão
poderosa padroeira.

Na manhã
seguinte, foi à igreja dos Carmelitas onde, prostrado diante da imagem de Nossa
Senhora do Povo, suplicou: "Ó
Gloriosa Virgem Maria, eis aqui o lobo devorador e repleto de iniqüidades.
Rogo-Vos humildemente que me purifiqueis e mudeis completamente,
transformando-me em dócil cordeiro, para Vos servir na vossa santíssima
Ordem".
Perseverou nesta
prece até ao meio dia. Depois foi pedir ao provincial que o acolhesse na Ordem
Carmelitana. Este lhe perguntou:
- Dizei-me, meu
filho, de onde vos vem tal desejo?
- É obra de Deus
e de meus pais, que neste lugar prometeram consagrar- me para sempre à Santa
Virgem.
- Esperai,
dentro em pouco vos darei a resposta.
Mandou logo
chamar os pais do jovem. A mãe, ao ver o filho tão mudado, não pôde senão
exclamar: "Eis o meu filho que de lobo se transformou em cordeiro!"
Noviço fervoroso
André recebeu o
hábito do Carmo em 1318. Para experimentar a constância do jovem noviço,
foram-lhe confiados os ofícios mais modestos, como varrer o convento, guardar o
portão, servir à mesa, lavar pratos e utensílios de cozinha. Tal era seu fervor
que considerava isso uma glória. Seus ex-companheiros de prazer, e até mesmo
alguns parentes, o ridicularizavam por esse "rebaixamento". Ele,
porém, vivia já num mundo superior, o do silêncio e da oração.
Um dia em que
ele guardava a porta do Convento, o demônio lá compareceu para tentá-lo. Apresentando-se
como um nobre personagem, bem trajado e acompanhado de vários criados, bateu
com força à porta, ordenando imperiosamente:
- Abre depressa!
Sou teu parente e não quero que fiques aqui com esses frades maltrapilhos. Esta
é também a vontade de teu pai e de tua mãe que te prometeram em casamento a uma
linda jovem.
- Foi-me
ordenado que a ninguém abrisse a porta. Ademais, não te conheço. Se aqui sirvo
esses humildes irmãos, imito Jesus Cristo que se fez homem para nos servir.
Foram meus pais que me consagraram a Deus e à Virgem, serviço no qual me
rejubilo.
Mudando de tom,
disse o importuno visitante:
- Rogo-te,
André, abre-me a porta por um instante só. Quero falar contigo de certas
coisas... Teu superior nada verá!
- Ainda que o
prior nada visse, acima dele está Deus que perscruta os corações. É por amor a
Ele que guardo esta porta, para que Ele me guarde e auxilie.
Ainda falando, o
noviço fez o sinal da cruz, e o tentador desapareceu instantaneamente, deixando
uma nuvem de fumaça negra e fétida. André deu graças a Deus pela vitória,
tornando-se, após vencer a tentação, ainda mais forte e perfeito.
Um ano mais
tarde fez os votos solenes e redobrou o fervor
na prática das virtudes, sobretudo da humildade. Seu maior prazer era
servir aos outros, especialmente aos enfermos, tendo sempre presente a palavra
do Senhor: "O que fizerdes ao menor destes pequeninos, é a Mim que o
fazeis".
Frei André nunca
faltava à liturgia das horas santas. Jamais resistia às ordens dos superiores.
Quanto mais lhe ordenavam, maior era a alegria que pervadia sua alma. Tinha bem
claro que o tempo é dom precioso de Deus, por isso empregava no estudo todos os
minutos que lhe restavam do cumprimento das obrigações impostas pela obediência.
Às
sextas-feiras, com um cesto pendurado ao pescoço, saía mendigando pela rua
principal de Florença. Imagine-se a reação indignada de alguns de seus
parentes, todos personagens importantes na cidade! Incitavam os habitantes a
escarnecê-lo e a insultá-lo. Ele, porém, após receber as piores injúrias,
retirava-se contente, refletindo: "Jesus também foi gravemente injuriado,
e, aniquilado pela dor, não se irritava".
As virtudes são
todas irmãs, quando se progride em uma, adianta-se também nas outras. Assim,
tendo subido tanto na virtude da humildade, nosso Santo era igualmente exímio
na prática da pureza. Fugia de todas as ocasiões de tentação e não tolerava que
em sua presença se pronunciassem palavras inconvenientes.
Em várias
ocasiões, exerceu em benefício do próximo o precioso dom dos milagres. Um de
seus tios sofria de uma doença que lhe corroia as carnes da perna. Para se
distrair do incômodo, transformou sua casa em lugar de jogatinas. Visando
conquistar para Jesus essa alma, André foi visitá-lo e lhe perguntou:
- Quereis ser
curado?
- Vai-te daqui,
mendigo, queres zombar de mim!
- Se desejais
ser curado, aceitai ao menos um conselho.
A mansidão do
Santo abrandou a arrogância do ímpio, que disse:
- Se for
possível a minha cura, farei tudo quanto pretenderes.
O frade lhe
recomendou jejuar durante seis dias e, no sétimo, rezar sete Pai-Nossos, sete
Ave-Marias e uma Salve Rainha.
- Se fizerdes
isto, prometo que a gloriosa Virgem obterá de seu Filho vossa cura.
Embora incrédulo
e sem devoção alguma, o doente assim fez. No sétimo dia estava curado.
Exultante, procurou André para dizer-lhe:
- Sois
verdadeiramente um amigo de Deus, meu sobrinho! Nada mais sinto, posso caminhar
como um jovem.
Com efeito, suas
carnes estavam renovadas. Desde então, mudou de vida, não mais cessando de dar
graças a Deus e a sua Imaculada Mãe.
Sacerdote e bispo
Em 1328, André
recebeu a ordenação sacerdotal. Os pais haviam preparado tudo para a celebração
da sua primeira Missa, a qual pretendiam fosse soleníssima e contasse com a
presença de todos os parentes.
Sabendo desta
pretensão familiar, o Santo retirou-se para um pequeno convento distante, onde
ofereceu a Deus as primícias do sacerdócio, com grande recolhimento e devoção.
Como prêmio,
imediatamente após a Comunhão, a Santíssima Virgem lhe apareceu, dizendo: "És meu servo, escolhi- te, e em ti
serei glorificada". Estas palavras penetraram-lhe fundo no coração,
tornando-o ainda mais humilde e puro.
Após exercer o
ministério da pregação em Florença, estudou três anos na Universidade de Paris
e foi aprimorar os estudos com o Cardeal Corsini, seu tio, na cidade de
Avignon, então Sede do Papado. Aí Deus operou por sua intercessão a cura de um
cego.
De retorno à
pátria, foi eleito prior do convento de Florença. Pouco tempo permaneceu nesse
cargo. Tendo falecido o Bispo de Fiésole, cidade próxima, o capítulo da
Catedral o elegeu para sucessor. Mas o Santo, tomando conhecimento da eleição,
ocultou-se num convento dos Cartuxos, na tentativa de fugir de tão perigoso
fardo.
A família Corsini era uma das mais
nobres da cidade de Florença (vistas da cidade) Quando os cônegos já iam fazer
nova eleição, Deus revelou a um menino o retiro do seu servo. Temeroso de
resistir à vontade do Céu, Frei André consentiu então em receber a sagração
episcopal, em 1360, aos 58 anos.
Vida mais austera ainda
A elevação à
dignidade de Bispo da Santa Igreja produziu uma mudança em seu modo de viver:
ele redobrou suas austeridades, acrescentando mais um cinto de ferro sobre o
cilício que usava. Por leito, tinha apenas uns ramos de videira estendidos no
chão. Recitava diariamente os salmos penitenciais e a ladainha dos santos,
submetendo- se a uma rude disciplina. Todo o seu tempo era dividido entre a
oração, as funções episcopais e a meditação das Sagradas Escrituras. Com mais
rigor ainda, evitava toda ocasião de tentação contra a virtude angélica, e não
suportava a presença de lisonjeadores nem murmuradores.
Seus exemplos e
sermões produziam tão maravilhosos frutos que logo foi considerado um dos
grandes apóstolos da Itália.
Multiplicou os pães
Às
quintas-feiras costumava lavar os pés dos pobres, imitando a humildade de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Certa vez um deles recusava-se a lhe apresentar os pés,
pois estavam cobertos de úlceras. O Santo venceu-lhe a resistência, lavou-os e
estes ficaram completamente curados.
Após a cerimônia
do lava-pés, nunca despedia os pobres sem lhes amenizar a indigência com uma
generosa distribuição de pães. Certa vez em que havia poucos, ele, com uma
bênção, os multiplicou e assim pôde satisfazer a todos os necessitados.
Possuía também
uma singular aptidão para harmonizar os espíritos divididos, da qual se valeu
para apaziguar todas as sedições tanto em sua Diocese quanto em Florença. Informado
disto, o Papa Urbano V o enviou como legado a Bolonha, para conciliar as
facções que excitavam a nobreza e o povo um contra outro. Santo André
restabeleceu a paz nessa cidade, a qual durou enquanto ele viveu.
Caminhou alegre para a morte
Durante a Missa
de Natal de 1372, o Santo Bispo sentiu-se acometido de uma febre que logo o
dominou. Longe de se alarmar com a proximidade da morte, caminhou em direção a
ela com tranqüilidade, e até com surpreendente alegria. Faleceu a 6 de janeiro
de 1373, aos 72 anos de idade.
"A fama de
santidade que circundou sua vida, após a morte difundiu-se rapidamente na
Itália e na Europa", lembrou S.S. João Paulo II, no 7° centenário de
nascimento de Santo André Corsini.
Se Deus o honrou
com muitos milagres em vida, a voz do povo o "canonizou"
imediatamente após sua morte. O Papa Eugênio IV, posto a par dos efeitos que a
intercessão do Santo produzia em toda a região de Florença, autorizou que seus
restos mortais fossem expostos à veneração dos fiéis. E Urbano VIII o canonizou
em 1629.
(Revista Arautos
do Evangelho, Fev/2005, n. 38, p. 22 à 25)
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