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sexta-feira, 19 de junho de 2015

Beato Nicolau de Gésturi, Irmão Capuchinho e Esmoler.



Em Gésturi, cidadezinha d ilha da Sardenha, Itália, com aproximadamente 1.500 habitantes, nasceu, no dia 04 de agosto de 1882, João Ângelo Salvador, filho de pais de posses modestas, mas religiosos. João era o quarto dentre cinco irmãos. Perdeu o pai aos cinco anos, e quando tinha treze, faleceu a mãe. Por isso, foi aceito como empregado não assalariado por um cidadão de razoáveis posses, sogro da sua irmã Rita, permanecendo aí mesmo após a morte deste seu parente.
Curando-se de grave doença reumática, em março de 1911, vai a Cágliari, ao convento Santo Antonio, para ser aceito como religioso capuchinho. Traz a recomendação do seu pároco, Padre Vicente Albana, em que diz ter se entristecido com a partida do jovem de sua paróquia onde sempre fora de edificação para todos, não só pela sua piedade, mas também pela sua vida ilibada e pela austeridade de seus costumes. Veste o hábito capuchinho no dia 30 de outubro de 1913 e troca seu nome de batismo pelo de religioso, Nicolau de Gésturi, nome pelo qual será definitivamente conhecido na ilha de Sardenha, iniciando assim o seu noviciado. Depois de oito meses, foi transferido para Sanluri, onde continuou o noviciado.
Emitiu sua primeira profissão no dia 01 de novembro de 1914, confirmando sua consagração total a Deus no dia 16 de fevereiro de 1919 com a profissão perpétua.
O primeiro trabalho como recém professo é na cozinha do convento de Sassari, na Sardenha. Embora tentasse exercer com capricho seu encargo, não conseguia agradar a muitos. Foi transferido para Oristano, depois para Sanluri onde fizera o segundo momento do seu noviciado.
Por fim, os superiores o enviaram para a capital da Sardenha, que será definitivamente o seu lugar, onde viverá a humildade e a obediência. Ali ele irá esmolar, batendo às portas, para o sustento dos freis que trabalhavam na pregação, ou atendiam outras urgências apostólicas.
Frei Nicolau assumiu, como referência para sua vida e serviço fraterno de esmoleiro, a Santo Inácio de Láconi que vivera justamente naquele mesmo convento uns 150 anos antes. Ao longo de 34 anos, como testemunha silenciosa, percorre as estradas a pé, sobe e desce pelas ruelas dos bairros de Castelo e Vilanuova, vai às vilas vizinhas de Campidano, para depois percorrer em todos os sentidos as ruas de Cágliari.

Nesse humilde serviço, a Frei Nicolau eram muitas vezes pedidos conselhos e orações, e não se esquecia de atender aos doentes em casa ou nos hospitais da cidade. Chegou-se a dizer que «era mais o que ele dava do que aquilo que recebia », e a sua vida era um apelo à conversão, ao amor, ao serviço do Senhor e dos irmãos. Soube enfrentar todas as dificuldades com admirável paciência e caridade. Cada um dos seus atos e palavras se transformava em oração ardente e contínua.
Para de caminhar pelas ruas de Caliári apenas quando encontra pela frente a irmã morte corporal, às 0 h e 15 min de 08 de junho de 1958, próximo do completar 76 anos.  
Veneradíssimo em toda ilha, sessenta mil pessoas acorreram aos seus funerais, iniciados às 17 horas do dia 10 de junho. Apesar da chuva forte e continua, a população que desfilava bloqueou por horas o tráfico de Cagliari, para chegar até ao cemitério.
Foi dito que, mais do que um funeral, era um cortejo triunfal, transformado em seguida numa continua peregrinação até o dia 02 de junho de 1980, quando seus restos mortais foram transferidos para a igrejinha de S. Antonio, onde pedira o ingresso na ordem capuchinha.


Espiritualidade da simplicidade, da humildade, do amor ao próximo e do serviço.
O seu olhar silencioso era, sobretudo, uma contemplação de Deus, agradecimento por quanto recebia das pessoas, perdão para os que o injuriavam e o consideravam um vagabundo, especialmente para os comunistas que no violento abril de 1948 o consideravam um agitador propagandista clerical em que o moeram de paulada. Também neste lamentável acontecimento, Frei Nicolau respondeu com o silêncio. Chamado à polícia, não quis denunciar ninguém porque não lhe acontecera nada mais grave.
Tal estilo de vida silenciosa é típico da espiritualidade franciscana. Frei Nicolau tinha lido e meditado o famoso discurso silencioso de São Francisco, com um seu companheiro, pelas ruas de Assis.
Ninguém conhecia melhor a linguagem eloquente da existência transfigurada de Frei Nicolau do que o povo. Quando Frei Nicolau subia num ônibus, todos queriam pagar-lhe a passagem e ceder-lhe o lugar. Ele agradecia com um sorriso, colocava os óculos para reler algum pensamento espiritual de um seu caderninho de anotações, enquanto os presentes gritavam: “Silêncio, Frei Nicolau está rezando”. Num mundo agitado e transtornado pelo barulho, o Frei criava, com sua presença, um oásis silencioso de intimidade divina.
Um homem reservado, baixo de estatura, de passo lento, olhos voltados para a terra, com a tradicional sacola dupla de carregar aos ombros, o rosário entre os dedos, um pouco desleixado no vestir, Frei Nicolau possuía todos os requisitos para afastar simpatias, particularmente em certos níveis sociais e nos portões de casas senhoris. A não ser em casos excepcionais, o esmoler capuchinho não entra, por principio, nas residências. Quando o proprietário não está, senta-se no último degrau, e com paciência, aguarda o retorno. E nos últimos anos, também sentava para descansar um pouco os seus pés sempre descalços.
De início, era o frade que procurava; depois se tornou o frei procurado. As multidões o cercavam. Ele é buscado por muita gente. Por modéstia, habitualmente não olha em rosto as pessoas, mas vê tudo o que se passa no fundo dos corações. Apesar de tudo, Frei Nicolau expande ao seu redor um halo de veneração.
É um frei capuchinho autêntico. Vive com seriedade a Regra Franciscana. O capítulo III ensina: “os freis quando vão pelo mundo, sejam mansos, pacíficos, modestos, bondosos e humildes, falando honestamente com todos, como convém”.
As intervenções orais de F. Nicolau eram sempre telegráficas, e abordavam necessariamente a temática da oração da qual estava embebido, porque deviam responder a um contínuo pedido do povo: “Frei Nicolau, reza por nós”!  E ele, sem jamais se cansar: “Rezemos... rezai... rezai que o Senhor vos escuta. E rezai também por mim”.
Os escritos que se conservam – porque o frei recebia pedidos também por carta – não eram menos telegráficos do que suas conversas, e ressentem de sua cultura limitada ao terceiro ano do curso fundamental. Os meios usados não eram os mais elegantes – por respeito ao voto de pobreza – aproveitava folhas de papel relegados pelos outros, desde que tivessem algum espaço mínimo com algumas linhas.   
Abolida a clausura, os deserdados, os sem teto, os famintos se dirigiram ao convento, onde ele continuou sua missão de socorro e de mendicante se transformou em generoso doador. O pobre de Deus, com seu hábito remendado, e sandálias mal costuradas, habituado a repousar por poucas horas sobre duas tábuas, acabou se transformando num senhor hospitaleiro, sem ter ares de patrão, antes se apresentava como irmão carinhoso de todos os que o buscavam. Quando a sirene de alarma soava que os bombardeios tinham terminado, Frei Nicolau saia por primeiro do convento e buscava os lugares mais atingidos da cidade para levar os primeiros socorros. Assim foi a vida desse grande homem de Deus.
Foi beatificado por São João Paulo II aos 03 de outubro de1999.



Oração
Ó Deus e Senhor nosso, fazei que na comemoração do nosso Beato Nicolau de Gésturi possamos, a seu exemplo, servir- vos sempre na escola do amor, da simplicidade e do silêncio. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.


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