I.
Vida
Nasceu
em 295, na cidade da Alexandria, de pais provavelmente não cristãos
e de língua grega, entretanto de sua infância pouco se sabe.
Consta que ele tenha recebido uma sólida educação de base,
iniciando-se inclusive na filosofia. Estima-se que se tenha
convertido relativamente jovem, pois sabe-se que aos 17 anos foi
escolhido pelo bispo Alexandre para ocupar o cargo de leitor. Em 318,
com 23 anos é ordenado diácono e se torna secretário episcopal.
Conta-nos
São Gregório de Nazianzo que ele desde sua conversão se aplicou a
sérias e profundas meditações sobre as Sagradas Escrituras, que, a
partir de então foram sua principal fonte de saber.
Neste
período, a magna cidade de Alexandria era açoitada, sendo um foco
incandescente da heresia ariana[2]. No entanto desde o início Santo
Atanásio apoiou incondicionalmente a seu bispo, unindo-se a este que
foi o primeiro adversário de Ario, condenando-o num sínodo (320).
Devido
a expansão desta heresia, Constantino, temendo uma rachadura
eminente de seu império, convocou o Concílio de Nicéia (325), para
solucionar tais desavenças. Lá foi então, acompanhando seu bispo o
diácono-secretário Atanásio. Pelas vias da Providência, vemos
então que entra em sena neste concílio, em meio ao bispos que
tinham a primazia da palavra, um simples diácono que começa a ser
temido pelos adversários de fé. Diz-nos São Gregório de Nazianzo
sobre a participação da Atanásio: "Em Nicéia, os arianos
observam o valoroso campeão da Verdade: de estatura baixa, quase
frágil, mas de postura firme e de cabeça levantada. Quando se
levanta, como que se sente passar uma onde de ódio através dele. A
maioria da assembléia olha com orgulho para aquele que é o
intérprete do seu pensamento".[3] No final, foi aprovada uma
fórmula de fé, que passou a se chamar "Credo de Nicéia". Ário foi exilado...
Aos
17 de abril de 328, estando prestes de entregar sua alma a Deus, o
bispo Alexandre levando em consideração as virtudes de seu
secretário, indica-o para lhe suceder.
Claro
está que tal escolha não agradou aos hereges (arianos e
melecianos), que tentaram de todos os modos contestar. No entanto o
sufrágio do clero e do povo ratificou, sendo 2 meses e meio mais
tarde (7 de junho de 328) indicado para assumir a sede do patriarcado
de Alexandria, tendo o reconhecimento do imperador Constantino.
Vem
então um período muito conturbado: os 46 anos de episcopado de
Atanásio (328-373), época em que nosso Santo pôde mostrar todo o
seu zelo pela fé, em que ele só lutou contra Ario e seus
correligionários, contra os melecianos cismáticos, contra o próprio
imperador Constantino, e por vezes, contra certos defensores tortos e
intransigentes do Símbolo de Nicéia. Todos os que dele tentaram se
livrar fracassam... diante de sua firmeza e intransigência.
Consta
que este defensor da fé tenha sido exilado cinco vezes. Dos quarenta
e cinco anos que durou seu ministério episcopal, na sede de
Alexandria, Santo Atanásio esteve dezessete anos no exílio, devido
à flutuação política e aos incessantes ataques dos hereges, aos
quais a resistência dele irritava...:
A
primeira foi-lhe imputada pelo imperador Constantino, que o exilou a
cidade de Tréviris, após ter ficado desgostoso pelo fato dele ter
se recusado a receber Ario na comunhão da Igreja.
Tendo
falecido o imperador (337) Santo Atanásio volta para reocupar sua
sede episcopal, mas eis que em 339 um sínodo em Antioquia, por
instigação do Bispo Eusébio de Nicomédia, o depõe novamente.
Sendo assim restou-lhe apenas procurar refúgio junto ao Papa Júlio
I, em Roma.
Morto
o Bispo intruso Gregório (343), há uma nova volta de Atanásio, com
a autorização do Imperador Constâncio. Porém um outro sínodo em
Milão o declara uma vez mais deposto ocasionando seu recesso para
junto dos monges do deserto egípcio, dos quais era familiar.

Por
fim... Santo Atanásio retorna a Alexandria, tendo Juliano falecido
(363), Entretanto, sob o novo imperador Valente, teve novamente de
deixar sua sede, retirando-se para uma casa de campo nas cercanias de
Alexandria, permanecendo apenas quarto meses, pois o povo fiel,
descontente com a atitude do soberano, ameaça um motim. O que o fez
permitir a volta do verdadeiro bispo de Alexandria. Santo Atanásio
lá permanece, enfim até sua santa morte em 373.
II.
Escritos
Apesar
de levar uma vida de "peregrino" de exílio em exílio, as
vicissitudes ininterruptas não lhe impediram de ser um profícuo
escritor.Sua produção literária é ampla, abrange gêneros
apologéticos, históricos, exegéticos, homiléticos e epistolares.
A
maioria de suas obras está relacionada com a defesa do Credo de
Nicéia, ou seja da consubstancialidade, ou seja da divindade do
Verbo.
Santo
Atanásio era um polemista hábil, por isso sabia servir-se de sua
pena para defender seu rebanho, como a si-mesmo, tendo sido ele
perseguido e atacado de todos os modos, valeu-se de seus escritos,
tendo sempre a segurança que defendia a fá, numa unidade ímpar com
a doutrina ortodoxa.
Sua
primeira obra é uma apologia Contra os pagãos e sobre a encarnação
do Verbo. Nela se delineia as grandes linhas de sua Cristologia: "O
Verbo de Deus que se fez homem para que nós sejamos Deus."
Sua
grande obra é um tratado de três livros contra os arianos, no qual
discute longamente textos bíblicos nos quais Ario pretendia
fundamentar sua heresia. O primeiro defende a definição do Concílio
de Nicéia, a eternidade do Filho de Deus e a unidade da essência
divina. O segundo e o terceiro fazem uma exegese dos textos bíblicos
que eram debatidos nas controvérsias contra os arianos, e consideram
passagens referentes às relações do Filho com o Pai.
O
Símbolo Atanasiano que é um compêndio de fé católica redigido em
quarenta sentenças rítmicas. Esta obra fora atribuída a ele a
partir do século VII, ou seja tardiamente, entretanto era
considerada autêntica até o século XVII, quando se averigüou que
o texto original é latino e não grego. Neste livro o autor propõe
os mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo,
começando e terminando pela afirmação: "Esta é a fé
Católica e quem não a professa com firmeza e fidelidade não pode
ser salvo."
Apologia
contra os Arianos que foi redigida aproximadamente em 357, quando
Santo Atanásio voltou de seu segundo exílio. Trata-se de cartas,
atas e decisões de Concílios Regionais. Sendo que uma facção
ariana desprezava o Concílio de Nicéia e ao Papa, Santo Atanásio
transcreve uma passagem de um Papa:
"Não
sabeis que a praxe manda que primeiramente se escreva a nós e que
daqui proceda a justa decisão? Se alguma suspeita estivesse pesando
sobre o Bispo de Alexandria, era preciso escrever a respeito à
Igreja de Roma. Ora os arianos, sem ter comunicado coisa alguma,
procederam como lhes agradava e agora querem que lhes demos nossa
aprovação, sem mesmo ter examinado a causa. Tais não são os
preceitos que Pedro e Paulo nos entregaram. Ocorre agora um modo de
agir e uma prática totalmente novos. Rogo-vos, pois: estai dispostos
a atender-me: o que escrevo é para o bem comum, pois o que vos
dizemos é precisamente o que recebemos do bem- aventurado apóstolo
Pedro”.
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No
mesmo ano, tendo ele sido novamente acusado, mas desta vez por
abandonar sua diocese, escreveu a Apologia da sua fuga para responder
aos que o acusavam.
Estando
refugiado junto aos monges da Tebaida, escreve a História dos
Arianos.
Há
ainda muitas outras obras escritas pelo Santo, tais como:
-
Vida de Santo Antão.
-
Sobre a Virgindade (autoria um tanto incerta...).
-
Epístola a Marcelino sobre a interpretação dos Salmos.
-
As Cadeias (catanæ).
-
Diversas cartas as quais infelizmente muitas estão perdidas. Porém
sabe-se que são escritos de caráter doutrinário, quase como que
tratados, onde Santo Atanásio comunica as decisões dos Concílios,
normas da Igreja sem entretanto (e aí vemos particularmente sua
santidade, sua preocupação com a obra de Deus e seu desapego a
si-mesmo) tratar de assuntos pessoais ou particulares. Destacanm-se:
-
As Cartas festivas.
-
Cartas Festivas Sinodais.
-
Cartas dogmático-polêmicas.
-Epístola
ao Bispo Epicteto de Corinto.
-Carta
a Adélfio, Bispo e confessor.
Enfim
vemos que a vida de Santo Atanásio foi uma constante defesa da
expressão da fé definida no Concílio de Nicéia. Ele pertencia aos
grandes doutores Capadócios, herdeiros da tradição de Orígenes,
elaborando uma teologia da Trindade, particularmente determinando o
sentido de algumas fórmulas (pessoa ou hipóstase, substância; uma
substância em três hipóstases).
Bibliografia
-ATANÁSIO,
Santo. Contra os pagãos, A encarnação do Verbo, Apologia ao
imperador Constâncio, Apologia de sua fuga, Vida e conduta de Santo
Antão. Coleção Patrística. São Paulo, Paulus: 2002.
-BETTENCOURT,
Estêvão Tavares Pe. Curso de patrologia. Rio de Janeiro, Mater
Ecclesiæ, 2003
-Dicionário
patrístico e de atigüidades cristãs. Trad. Cristina de Andrade.
Org. Angelo Di Berardino. Petrópolis, Vozes: 2002.
-VV.AA.
Initiation théologique vol. I - les sources de la théologie. Paris,
Cerf: 1952.
[1]
O termo Doutor da Igreja, muitas vazes se associa ao de Padre da
Igreja, sendo que não é simplesmente um sinônimo. Indica um grau a
mais, pois nem todos os Padres são Doutores.
[2]
Esta heresia afirmava que o Filho (Nosso Senhor) não existia antes
de ter sido gerado, negando assim a co-eternidade Dele com o Pai, que
o Filho é a primeira das criaturas, que é uma espécie de "segundo
deus" (déutero theós), mas que ele permanece alheio à
essência divina do Pai. Eles separavam assim o Filho do Pai.
[3]
Elogio de Atanásio. PG. 25, col. 1081.
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Esta é a coragem dos santos... |
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