No
ano seguinte, Madalena recebeu a Primeira Comunhão e foi cumulada de
favores espirituais. Em 1708, Nosso Senhor Jesus Cristo a chamou a
uma maior fidelidade e pediu, na linguagem da época, que fosse a sua
"vítima", ou seja, sua mensageira, sua enviada. Assim
começou um período de renúncia e mortificação. Jesus lhe
aparecia frequentemente, conversava com ela; apesar disso, ela sofria
provações e a noite do espírito.
Em
1709, por ocasião de uma visita ao mosteiro, a menina pediu a seu
pai para voltar para casa. Na família, a amável
menina dedicava-se com cuidados especiais a seus numerosos irmãos e
irmãs.
Toda
a família passava o verão no castelo da Glacière, situado perto de
Auriol. Lá, como em Marselha, a oração, o trabalho e as obras de
caridade ocupavam uma larga parte dos dias de Madalena. Enfeitar os
altares, ensinar às crianças da aldeia, visitar os pobres doentes,
eram suas práticas diárias.
Madalena
passou assim dois anos no mundo, exercendo um verdadeiro apostolado
sobre todos os que se aproximavam dela. A beleza de sua alma se
refletia em seu rosto marcado por uma virginal modéstia. Suas
maneiras afáveis e dignas, sua conversa edificante impunham respeito
e faziam sentir a presença de Deus. Uma irradiação toda divina
parecia fazer-se em torno da piedosa jovem e ela tornou-se, sem
saber, objeto de uma espécie de veneração; ela adquirira uma
verdadeira influência em sua cidade natal que, no momento
apropriado, iria lhe facilitar a realização da ordem celeste.
Nesses
dois anos conhecera e passou a ser dirigida espiritualmente pelo Pe.
Claude Francis Milley, SJ.
No
dia 2 de outubro de 1711, Madalena ingressou como postulante no
primeiro mosteiro da Visitação de Marselha. Neste mosteiro, fundado
em 1623 e chamado das Grandes Marias, desde 1691 havia um oratório
dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, substituído em 1696 por uma
capela.
Em
14 de janeiro de 1712, recebeu o hábito das noviças durante uma
cerimônia presidida por Mons. de Belsunce, o qual a chama pela
primeira vez de Ana Madalena. Em 14 de agosto de 1712, sua irmã Ana
ingressou no mosteiro, e três meses depois vestiu o hábito com o
nome de Ana Vitória († 1760). Ana Madalena pronunciou os votos
perpétuos em 23 de janeiro de 1713.
No
dia 17 de outubro de 1713, Nosso
Senhor confiou a Irmã Ana Madalena uma missão,
conforme
ela contou em carta dirigida a seu diretor, em 14 de outubro de 1721:
“Sexta-feira
próxima, dia da morte de nossa Venerável Irmã Alacoque, fará oito
anos que Jesus Cristo me fez conhecer, de maneira especial e
extraordinária, seus desígnios sobre mim, com respeito à glória
de seu Coração adorável. Se esta carta vos for entregue antes da
sexta-feira, vós me fareis o favor de não esquecer, no altar, de
dar graças a Deus”.
Ao
confiar a Irmã Ana Madalena sua missão no dia do aniversário da
morte de Santa Margarida Maria, Nosso Senhor dava a entender que
aquela devia, ao realizar sua missão particular, continuar e
completar a missão desta.
Assim
começou para ela um tempo de provação e sofrimento, mas também de
consolo na oração. Apóstola e vítima, ela era assim mediadora que
intercedia pela salvação dos pecadores. Muitos vêm consultá-la no
parlatório do mosteiro.Deus
queria que ela exercesse junto às almas uma espécie de ministério
excepcional, único mesmo na história da Visitação. Para isso, Ele
tinha dotado sua serva com os dons da profecia, de uma visão
sobrenatural das consciências e do conhecimento dos acontecimentos
que se passavam ao longe. Inumeráveis fatos o provaram e viu-se,
então, em Marselha, um espetáculo inaudito: uma jovem religiosa, de
dezenove a vinte anos servir de árbitro nas questões mais obscuras
e decidir com tal autoridade que toda objeção desaparecia diante de
sua palavra: “A Irmã Rémuzat disse”.
Em
1716, durante um êxtase, ela obteve permissão para ver a Santíssima
Trindade. Seguem numerosas visões e colóquios com Jesus. Um ano
depois, com a aprovação e o apoio de Mons. Belsunce, ela redigiu os
estatutos da Associação da Adoração Perpétua do Sagrado Coração
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em
30 de março de 1718, com a aprovação do Bispo de Marselha, são
impressos os regulamentos e os exercícios piedosos, e a Associação
vem à luz no mês de abril. As inscrições logo chegaram aos
milhares e vários mosteiros da Visitação criaram a Associação em
suas igrejas. Foi neste mesmo ano em que as doutrinas jansenistas se
espalhavam em Marselha com virulência, que durante as Quarenta Horas
Nosso Senhor Jesus Cristo milagrosamente apareceu no Santíssimo
Sacramento exposto na igreja dos Frades Observantes Franciscanos em
frente à multidão reunida para a oração.
Ana
Madalena Rémuzat foi advertida deste evento por via sobrenatural,
bem como de um castigo que viria se a cidade não prestasse atenção
à misericórdia do Senhor. Ela mencionou esta mensagem ao seu
diretor espiritual, Pe. Milley, que a transmitiu ao Mons. Belsunce.
Em
maio 1719 a nova superiora do mosteiro, Madre Francisca-Benigna de
Orlyé dos Santos Inocentes († 1738) nomeou Irmã Ana Madalena
superintendente da comunidade. Seus sofrimentos aumentaram e não vão
deixá-la mais até sua morte. Passava noites inteiras em oração
diante do Tabernáculo.
Em
julho 1720 a peste atingiu Marselha. Em outubro, enquanto ela estava
em adoração, Jesus mostrou-lhe que graças a este flagelo seria
estabelecida uma festa em honra do Sagrado Coração, e, alguns dias
depois, Ele indicou as condições necessárias. A mensagem foi
enviada imediatamente ao Mons. Belsunce, que no dia 22 do mesmo mês
publicou a ordem em que formalmente se instituía, na diocese de
Marselha, a festa do Sagrado Coração, e em 1º de novembro seguinte
- é a primeira no mundo – consagrou solenemente a cidade e a
diocese ao Sagrado Coração Jesus.
A
peste, que parecia enfim superada, reapareceu em 1722 e foi somente
após os vereadores terem feito voto de participar desta festa a cada
ano que o flagelo desapareceu. Não tendo se poupado nos cuidado aos
doentes da epidemia, Pe. Milley morreu da mesma doença. Seguindo o
conselho de Mons. Belsunce, Ir. Ana Madalena foi colocada em contato
epistolar com o Pe. Girard, que mais tarde se tornou seu diretor
espiritual.
Em
1723, durante os retiros anuais, ela tem uma nova visão da
Santíssima Trindade. Em 1724 ela recebeu os estigmas da Paixão, mas
pediu a Jesus que estes sinais permanecessem invisíveis.
Em
maio de 1725, a Madre Nogaret († 1731), uma antiga superiora do
mosteiro, assumiu o comando e substituiu a Madre dos Santos
Inocentes. Em maio 1728, Madre Nogaret nomeou-a tesoureira do
mosteiro, cargo no qual seria incansável.
Em
janeiro 1730, Irmã Ana Madalena caiu gravemente doente e morreu no
dia 15 de fevereiro seguinte – pedira que lhe recitassem a Ladainha
do Sagrado Coração que ela mesma tinha composto. Mons. Belsunce
presidiu o funeral e o sepultamento, enquanto a multidão, chorando,
repetia incessantemente: "Morreu a santa!". Desde então,
muitos milagres lhe foram atribuídos. Ela é considerada a herdeira
de Santa Margarida Maria Alacoque e por isso é chamada de apóstola,
a propagandista do Sagrado Coração.
A
Igreja a declarou Venerável e a causa de sua beatificação,
introduzida em 24 de dezembro de 1891 e, em seguida retomada em 1921,
ainda está sem resultado. Então, na Quinta-feira Santa, 9 de abril
de 2009, Mons. Georges Pontier, Arcebispo de Marselha, nomeou
postulador da causa o Mons. Jean-Pierre Ellul, reitor da Basílica do
Sagrado Coração, onde está o coração de Irmã Ana Madalena desde
que as Visitandinas de São Jerônimo deixaram Marselha para se
juntar ao mosteiro de Voiron.
No
dia 15 de fevereiro de 2014, o processo de beatificação e
canonização foi apresentado na Basílica do Sagrado Coração.
(Fonte: blog "Heroínas da Cristandade", com autorização da tradutora)
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