Sua vida foi cheia de paciência e bondade. E isso, com o tratamento que recebeu de frieza e dureza foi tal que recorda a certos textos infantis nos quais um personagem vive sendo atormentado por uma espécie de “ogro” que o tem acorrentado. Obviamente, a diferença entre a ficção e a realidade é um fato incontornável. Diante de ambas cabe apenas uma comparação, nada mais. Desgraçadamente, o que acontece em certas ocasiões é infinitamente mais doloroso que o exposto em um simples relato. Paul VI, comovido pelas virtudes de Núncio, em 01 de dezembro de 1963, em pleno Vaticano II, o elevou aos altares chamando a atenção dos padres conciliares. Sugeriu-lhes estabeleceram uma amizade com ele, já que sua vida devia servir para refletir sobre o colóquio celestial que manteve e toma-lo como modelo a imitar na trajetória que levou na terra. Também São Gaetano Errico, que conheceu o Beato nos umbrais de sua fundação – os Missionários dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria –, esteve disposto a admiti-lo nela, apesar de suas péssimas condições de saúde. Despachou de imediato as críticas mal-intencionadas de quem julgaram sua decisão, deixando claro o essencial: “Este é um jovem santo e a mim me interessa que o primeiro que entre em minha Congregação seja um santo, não importa se está enfermo”.
Nasceu em
Pescosansonesco, Itália, aos pés dos Apeninos, no dia 13 de abril de 1817. Seu pai,
que era sapateiro, morreu em agosto de 1820. Embora sua mãe tenha tentado
enfrentar a situação sozinha, a precariedade e insegurança da vida a atingiu.
Dois anos mais tarde, contraiu novas núpcias com um vizinho da localidade de
Corvara, que desde o primeiro momento, não ocultou seu desagrado com o pequeno.
Este, alheio à sua animosidade e rejeição, era feliz na escola dirigida pelo
pároco. Familiarizava-se com as verdades da fé e recebia noções de leitura e
escritura. Porém, sobretudo, aprendia a contemplar o rosto de Cristo
crucificado, morto para expiar os pecados da humanidade. Aborrecia a todo mal,
todo pecado, e queria assemelhar-se a Ele. Além do mais, passou a ter vida de
oração e a imitar os santos. Em 1823 faleceu sua mãe e ficou aos cuidados de
sua avó Rosária, prolongando um pouco mais esse período amável de sua vida,
embora tingida pela dor da perda sofrida. Ela continuou animando-o e
acompanhando-o no caminho da virtude até sua morte, que ocorreu em abril de
1826.
Aos nove anos,
Núncio ficou à mercê de um tio materno, Domenico, ferreiro de profissão, que lhe
abriu as portas da eternidade. Vetou por completo sua educação e lhe pôs a trabalhar
a seu serviço em condições subumanas. Sem descanso e, em numerosas ocasiões,
sem alimento que pudesse levar à boca, com pouca roupa que pudesse vestir,
levava pesadas cargas em seu pequeno e fraco corpo, enfrentando distâncias,
inclemências meteorológicas e riscos diversos que podiam não somente tirar-lhe
ainda mais a saúde, como a própria vida. Ao chegar, o recebiam com ignorância e
exasperação. Obrigado a malhar na bigorna até quase ficar sem respiração, tudo
oferecia a Cristo. Queria obter o paraíso com seus muitos sofrimentos. Somente
aos domingos tinha um breve momento de descanso que o permitia ir à Missa.

Em 1831,
ingressou no hospital de L’Aquila (Santo Salvatore), porém lhe deram alta como “enfermo
incurável”. Ali havia vivido da caridade, consolado pela oração. Ao retornar à
casa de seu tio, este não mais o admitiu. Passou a viver da mendicância.
Pensava consigo mesmo: “é muito pouco o
que sofro, sempre que possa salvar minha
alma amando a Deus”.
Um viajante que
tomou conhecimento de sua história, informou a seu tio paterno, Francesco,
militar em Nápoles, da situação que o mesmo atravessava. Núncio tinha 15 anos.
Seu tio o levou e o apresentou ao coronel Félix Wochinger, homem bom que
auxiliava aos pobres, estabelecendo, de imediato, uma belíssima relação
paterno-filial. Félix ocupou-se de que recebesse toda a assistência possível no
Hospital dos Incuráveis, com o melhor tratamento conhecido na época. Os
funcionários e pacientes do centro médico e os enfermos perceberam grandeza
espiritual do jovem. Ali fez sua Primeira Comunhão e confiou a um sacerdote o
sentimento de que tudo o que lhe sucedia era providência de Deus.
Durante anos
teve momentos de ligeira melhora, resultado dos excelentes cuidados recebidos
nas termas de Ischia. Sustentando-se em uma muleta, ensinava o catecismo e
ajudava aos que sofriam no mesmo hospital no qual se encontrava. Dedicava a
maior parte do tempo a rezar diante do Santíssimo e da Virgem Dolorosa. Em 1834
comunicou o desejo de consagra-se a Deus no momento que fosse conveniente para
Ele. Entretanto, viveria com o sentimento de quem já havia feito de sua entrega
algo efetivo: oração, estudo, meditação... O coronel o apoiou. Porém, em março
de 1836 a doença recrudesceu. A perna estava infectada pela gangrena. Feliz, jubiloso,
cheio de confiança em Deus, agradecendo ao Senhor sua dor, ofereceu-se pelos
pecadores com o mesmo afã: se padecia, iria ao paraíso. “Jesus sofreu muito por mim. Por que não posso sofrer por Ele”?
Estava disposto a morrer nem que fosse no intuito de converter apenar um
pecador.
Em 05 de maio rogou a Félix que vivesse com alegria, assegurando-lhe
que nunca lhe faltaria sua ajuda e intercessão lá do Céu. Pouco depois, como se
estivesse em êxtase, com o semblante sereno e feliz, exclamou: “Ó, a Virgem Maria, como é bela! Não estão
vendo”? E entregou sua puríssima alma. São Caetano Errico, que muito o
estimava, o considerou um dileto filho, o primeiro que ingressava na vida
eterna.
Devido a sua
grande paciência no sofrimento, foi considerado um exemplo e logo se pensou no processo
de beatificação deste humilde e pobre rapaz, órfão e provado pelo sofrimento,
mas muito conformado com a vontade de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário