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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Beato Núncio Sulprízio, Jovem Leigo (modelo de conformação com a vontade de Deus no sofrimento e na doença).




Sua vida foi cheia de paciência e bondade. E isso, com o tratamento que recebeu de frieza e dureza foi tal que recorda a certos textos infantis nos quais um personagem vive sendo atormentado por uma espécie de “ogro” que o tem acorrentado. Obviamente, a diferença entre a ficção e a realidade é um fato incontornável. Diante de ambas cabe apenas uma comparação, nada mais. Desgraçadamente, o que acontece em certas ocasiões é infinitamente mais doloroso que o exposto em um simples relato. Paul VI, comovido pelas virtudes de Núncio, em 01 de dezembro de 1963, em pleno Vaticano II, o elevou aos altares chamando a atenção dos padres conciliares. Sugeriu-lhes estabeleceram uma amizade com ele, já que sua vida devia servir para refletir sobre o colóquio celestial que manteve e toma-lo como modelo a imitar na trajetória que levou na terra. Também São Gaetano Errico, que conheceu o Beato nos umbrais de sua fundação – os Missionários dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria –, esteve disposto a admiti-lo nela, apesar de suas péssimas condições de saúde. Despachou de imediato as críticas mal-intencionadas de quem julgaram sua decisão, deixando claro o essencial: “Este é um jovem santo e a mim me interessa que o primeiro que entre em minha Congregação seja um santo, não importa se está enfermo”.

Nasceu em Pescosansonesco, Itália, aos pés dos Apeninos, no dia 13 de abril de 1817. Seu pai, que era sapateiro, morreu em agosto de 1820. Embora sua mãe tenha tentado enfrentar a situação sozinha, a precariedade e insegurança da vida a atingiu. Dois anos mais tarde, contraiu novas núpcias com um vizinho da localidade de Corvara, que desde o primeiro momento, não ocultou seu desagrado com o pequeno. Este, alheio à sua animosidade e rejeição, era feliz na escola dirigida pelo pároco. Familiarizava-se com as verdades da fé e recebia noções de leitura e escritura. Porém, sobretudo, aprendia a contemplar o rosto de Cristo crucificado, morto para expiar os pecados da humanidade. Aborrecia a todo mal, todo pecado, e queria assemelhar-se a Ele. Além do mais, passou a ter vida de oração e a imitar os santos. Em 1823 faleceu sua mãe e ficou aos cuidados de sua avó Rosária, prolongando um pouco mais esse período amável de sua vida, embora tingida pela dor da perda sofrida. Ela continuou animando-o e acompanhando-o no caminho da virtude até sua morte, que ocorreu em abril de 1826.
Aos nove anos, Núncio ficou à mercê de um tio materno, Domenico, ferreiro de profissão, que lhe abriu as portas da eternidade. Vetou por completo sua educação e lhe pôs a trabalhar a seu serviço em condições subumanas. Sem descanso e, em numerosas ocasiões, sem alimento que pudesse levar à boca, com pouca roupa que pudesse vestir, levava pesadas cargas em seu pequeno e fraco corpo, enfrentando distâncias, inclemências meteorológicas e riscos diversos que podiam não somente tirar-lhe ainda mais a saúde, como a própria vida. Ao chegar, o recebiam com ignorância e exasperação. Obrigado a malhar na bigorna até quase ficar sem respiração, tudo oferecia a Cristo. Queria obter o paraíso com seus muitos sofrimentos. Somente aos domingos tinha um breve momento de descanso que o permitia ir à Missa.
Certo dia, no inverno, transitava pelas ladeiras de Rocca Tagliata com um insuportável fardo, em meio à gélida temperatura. Começou a notar no pé um grande “calor” que se estendeu pela perna como a pólvora. Encostou-se sem dizer nada, sem queixar-se. No dia seguinte, não era capaz de levantar-se. Seu tio não teve em conta nem a inflamação na perna e nem a febre que apresentava. Obrigou-o a trabalhar, como sempre, debaixo de ameaças. Os vizinhos apiedaram-se desta vez e deram-lhe algo para comer. Núncio não se queixava perante eles da conduta de seus familiares. Ao contrário, os desculpava. Quando podia, acorria à Missa e rezava diante do Santíssimo Sacramento. A lesão na perna o corroía. Domenico somente permitiu que deixasse a bigorna e se ocupasse do fole que mantinha o fogo. Novo suplício. Para tentar acalmar as dores atrozes e a supurante chaga, acorria a uma fonte pública da qual foi proibido de aproximar-se para evitar um possível contágio. Então, ele encontrou outra corrente de água em Riparossa, onde podia rezar rosários em honra da Virgem Maria, pela qual tinha grande devoção.
Em 1831, ingressou no hospital de L’Aquila (Santo Salvatore), porém lhe deram alta como “enfermo incurável”. Ali havia vivido da caridade, consolado pela oração. Ao retornar à casa de seu tio, este não mais o admitiu. Passou a viver da mendicância. Pensava consigo mesmo: “é muito pouco o que sofro, sempre que possa  salvar minha alma amando a Deus”.
Um viajante que tomou conhecimento de sua história, informou a seu tio paterno, Francesco, militar em Nápoles, da situação que o mesmo atravessava. Núncio tinha 15 anos. Seu tio o levou e o apresentou ao coronel Félix Wochinger, homem bom que auxiliava aos pobres, estabelecendo, de imediato, uma belíssima relação paterno-filial. Félix ocupou-se de que recebesse toda a assistência possível no Hospital dos Incuráveis, com o melhor tratamento conhecido na época. Os funcionários e pacientes do centro médico e os enfermos perceberam grandeza espiritual do jovem. Ali fez sua Primeira Comunhão e confiou a um sacerdote o sentimento de que tudo o que lhe sucedia era providência de Deus. 

Durante anos teve momentos de ligeira melhora, resultado dos excelentes cuidados recebidos nas termas de Ischia. Sustentando-se em uma muleta, ensinava o catecismo e ajudava aos que sofriam no mesmo hospital no qual se encontrava. Dedicava a maior parte do tempo a rezar diante do Santíssimo e da Virgem Dolorosa. Em 1834 comunicou o desejo de consagra-se a Deus no momento que fosse conveniente para Ele. Entretanto, viveria com o sentimento de quem já havia feito de sua entrega algo efetivo: oração, estudo, meditação... O coronel o apoiou. Porém, em março de 1836 a doença recrudesceu. A perna estava infectada pela gangrena. Feliz, jubiloso, cheio de confiança em Deus, agradecendo ao Senhor sua dor, ofereceu-se pelos pecadores com o mesmo afã: se padecia, iria ao paraíso. “Jesus sofreu muito por mim. Por que não posso sofrer por Ele”? Estava disposto a morrer nem que fosse no intuito de converter apenar um pecador.
Em 05 de maio rogou a Félix que vivesse com alegria, assegurando-lhe que nunca lhe faltaria sua ajuda e intercessão lá do Céu. Pouco depois, como se estivesse em êxtase, com o semblante sereno e feliz, exclamou: “Ó, a Virgem Maria, como é bela! Não estão vendo”? E entregou sua puríssima alma. São Caetano Errico, que muito o estimava, o considerou um dileto filho, o primeiro que ingressava na vida eterna.

Devido a sua grande paciência no sofrimento, foi considerado um exemplo e logo se pensou no processo de beatificação deste humilde e pobre rapaz, órfão e provado pelo sofrimento, mas muito conformado com a vontade de Deus. 

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