Hoje em dia, a
humanidade conhece muitas técnicas de preservação de corpos, mas a mais famosa
de todas começou a ser empregada ainda no Egito Antigo, mais de 5 mil anos
atrás. No método chamado de mumificação, os órgãos internos dos faraós eram
cuidadosamente removidos, as cavidades do corpo preenchidas com ervas e outros
materiais naturais e, depois, os corpos eram banhados em óleos e envoltos em
faixas. Tutancâmon, a mais famosa múmia do Egito, por exemplo, foi encontrada
por arqueologistas em 1922 e já contava com mais de 3 mil anos de história.
Trata-se, sem
dúvida, de um fato impressionante, mas muito distante de um milagre, pelo menos
no sentido sobrenatural do termo. Santo Tomás de Aquino, ao explicar o que são
milagres (miracula), lembra a sua semelhança com a palavra mirabilis, de onde
vem o nosso adjetivo "admirável" [1]. Assim, qualquer coisa que cause
espanto e admiração entre as pessoas pode ser considerada, genericamente, um
milagre.
As múmias egípcias, no entanto, eram preservadas intencionalmente. O
processo de embalsamamento era complexo e levava em torno de dois meses. Os
sacerdotes politeístas e reencarnacionistas procediam assim para manter a
identidade dos cadáveres em sua "jornada para o outro mundo". Nesses
casos, há uma explicação natural bem
clara para o fenômeno. Não se pode falar de intervenção divina nos sarcófagos
antigos.
Muito menos se
pode chamar de sobrenaturais os episódios de preservação acidental que a
literatura moderna reporta acontecer aos montes, em diferentes lugares do
mundo. Também esses casos têm uma explicação natural muito simples: ou foram
(parcial ou integralmente) isolados de seus agentes decompositores, ou
receberam substâncias químicas que os preservaram da decomposição. Em 1865, por
exemplo, os habitantes da cidade de Guanajuato, no México, ficaram assustados
quando exumaram os corpos de seus conterrâneos e descobriram que eles ainda não
tinham sido totalmente consumidos pela terra! A explicação, porém, não se
encontrava em nenhum poder mágico, mas simplesmente no solo salgado e seco do
cemitério em que os defuntos tinham sido enterrados.
Coisa bem
diferente, todavia, é o que acontece com os chamados "santos
incorruptos" da Igreja Católica: são santos, porque amaram a Deus de modo
extraordinário durante suas vidas; incorruptos, porque seus corpos foram achados espantosamente preservados, sem a intervenção de quaisquer agentes
naturais; e diz-se que são especificamente da Igreja Católica, porque em nenhuma outra religião do mundo são
achados de modo tão numeroso e constante quanto na Igreja fundada por Cristo.
Por isso, esse fenômeno pode muito bem
ser considerado como que um "selo" divino da autenticidade da fé
católica — ainda que nenhum fiel batizado deva fazer depender desses
milagres a sua fé na Revelação cristã.
De qualquer
modo, se são autênticos e vieram realmente de Deus, não há por que desprezar
essas manifestações sobrenaturais. O problema é que, muitas vezes, as pessoas
simplesmente não sabem o que significa esse fenômeno, nem entendem por que eles
são um milagre. Por isso, resumimos aqui para você pelo menos cinco motivos
para acreditar nos corpos incorruptos dos santos da Igreja:
São Luís Orione |
1. Eles tinham tudo para se decomporem
Cadáveres
preservados de modo natural são rapidamente isolados do contato com a umidade,
com o calor ou com outros agentes externos.
Com os santos
incorruptos, porém, não foi assim.
Só para começar
a conversa, muitos deles levaram vários dias para serem enterrados, devido à
resistência dos fiéis em se separarem do objeto de sua veneração. Tome-se como
exemplo São Bernardino de Siena, que
ficou exposto para o culto dos fiéis por 26 dias, ou Santa Ângela Merici, cujo corpo ficou exposto para veneração pelo
período de um mês.
Outros tantos
foram preservados mesmo em condições extremamente adversas de umidade. Santa Catarina de Gênova permaneceu no
túmulo por 18 meses, mas foi achada intacta apesar de sua mortalha estar úmida
e deteriorada. Santa Maria Madalena de
Pazzi foi desenterrada um ano depois de sua morte e, embora seu hábito
estivesse encharcado, seu corpo permaneceu exatamente o mesmo. Nove meses após
a sua morte, Santa Teresa de Ávila foi
encontrada coberta de terra devido ao rompimento da tampa de seu caixão e,
mesmo vestida com pedaços de tecido sujos e decompostos, o seu corpo não se
encontrava apenas fresco, mas perfeitamente intacto e ainda exalando uma
curiosa fragrância. A mesma resistência à umidade pôde ser verificada nos
corpos de São Carlos Borromeu, Santa Catarina de Bolonha, Santa Catarina Labouré e São Charbel Makhlouf.
Outros corpos
ainda, como os de São Colmano e São Josafá, resistiram ao ar e à água:
o primeiro ficou suspenso por tanto tempo na árvore em que foi enforcado, que
todos os habitantes da região se maravilharam com a sua preservação; o segundo,
por sua vez, foi lançado em um rio, onde permaneceu por cerca de uma semana,
sem sofrer nenhum dano.
São Francisco Xavier, São João da Cruz e São Pascoal Bailão resistiram de modo ainda mais impressionante a
substâncias corrosivas que foram lançadas sobre eles. Também eles tinham tudo
para se decomporem, mas resistiram milagrosamente.
São Charbel Maklouf |
O corpo bem preservado de Jacinta Marto é examinado por médicos e autoridades eclesiásticas. |
2. Eles exalam perfumes extraordinários
Esse fenômeno é
tão antigo entre os santos da Igreja que a literatura eclesiástica já consagrou
a expressão "morrer em odor de santidade". Embora seja usada
normalmente em sentido figurado, indicando as boas virtudes com que morreram os
homens e mulheres de Deus, essa frase está fundada em um fato: o de que muitos
santos realmente exalaram perfumes extraordinários depois de mortos.
Os casos
históricos mais notáveis desse fenômeno são os de Santa Liduína, Santa Catarina de Ricci, São Felipe Néri, São Geraldo
Majella, São João da Cruz, São Francisco de Paula, Santa Rosa de Viterbo, Santa
Gema Galgani e São José de Cupertino.
As testemunhas
desse fato extraordinário sempre evitaram quaisquer analogias e semelhanças
para descrever a suavidade e a fragrância do odor que perceberam com o olfato.
Um especialista foi enviado, certa vez, ao convento da beata e mártir Maria dos Anjos (Espanha, † 1936) para tentar
identificar a natureza do perfume que exalava o corpo dessa serva de Deus. Ele
teve que confessar que não se parecia
com nenhum dos perfumes desta terra. As religiosas, suas companheiras,
costumavam chamá-lo "odor de paraíso ou de santidade".
Dos muitos
eventos ligados à incorrupção dos corpos, este é sem dúvida um dos mais
impressionantes e inexplicáveis. É conhecido o parecer do Papa Bento XIV, na
famosa obra que ele escreveu sobre a beatificação dos servos de Deus:
"Que o corpo humano possa naturalmente não
cheirar mal, é muito possível; mas que cheire bem está acima de suas forças
naturais, como ensina a experiência. Por conseguinte, se o corpo humano,
corrompido ou incorrupto, em putrefação ou sem ela [...], exala um odor suave,
persistente, que não incomoda a ninguém, mas que parece agradável a todos,
deve-se atribui-lo a uma causa superior e deve pensar-se em um milagre." [2]
3. Eles permanecem macios e flexíveis por longos
anos
Múmias
preservadas naturalmente trazem consigo um aspecto duro e rígido, comumente
chamado de rigor mortis. A maioria dos santos incorruptos, ao contrário, nunca
experimentou rigidez cadavérica — muitos permaneceram flexíveis anos após a sua
morte, alguns atravessando séculos. Santa Catarina de Bolonha, por exemplo,
tinha o corpo tão maleável 12 anos após a sua morte que foi colocado na posição
em que se encontra até o dia presente: sentado.
Quem olha para
as urnas de alguns santos, principalmente os mais antigos, pode ser tentado a
duvidar da sua incorrupção. Na Índia, por exemplo, depois de quase 500 anos,
restam praticamente apenas os ossos de São Francisco Xavier. No caso de Santa Bernadette Soubirous, embora o
seu corpo esteja intacto desde 1879, já foi aplicada uma camada de cera ao seu
rosto. Outros tantos exemplos poderiam evocar dúvidas a respeito da
confiabilidade desses milagres. Afinal, a Igreja estaria tentando
"maquiar" os seus santos?
Na verdade, o
fenômeno da incorrupção não significa incorruptibilidade. A demora de algumas
santas relíquias em se corromperem não significa que elas nunca se decomporão —
e a Igreja nunca ensinou isso. Um corpo incorrupto não é um corpo
indestrutível! Incorruptíveis e gloriosos, só os corpos ressuscitados de Jesus
e Maria, que estão no Céu. Os outros — dos santos e servos de Deus — só o serão
na ressurreição dos mortos, no fim dos tempos.
Essas
observações também são importantes para lembrar o fim com que Deus realiza
esses prodígios: conduzir as pessoas à fé em Jesus Ressuscitado. Os santos
cujos corpos experimentaram o fenômeno da incorrupção não são
"deuses". Eles são membros do Corpo Místico de Cristo e recordam que,
assim como Ele não se corrompeu e vive para sempre, aqueles que levam uma
existência pura e livre dos vícios nesta terra estão destinados para uma
herança eterna e incorruptível no Céu.
4. Eles transpiram sangue e óleos preciosos
Além dos
perfumes misteriosos sobre os quais já falamos, outro fenômeno muito comum
entre os santos incorruptos é a transpiração de líquidos especiais.
Consta que esse
milagre tenha acontecido — para mencionar apenas alguns nomes — com Santa Maria Madalena de Pazzi, Santa Júlia
Billiart, Santo Hugo de Avalon, Santa Inês de Montepulciano, Santa Teresa
d'Ávila, São Camilo de Lellis e São Pascoal Bailão. O óleo que fluiu várias
vezes do corpo da beata clarissa Mattia
Nazzarei, que morreu em 1320, continua jorrando sem parar de suas mãos e de
seus pés, até os dias de hoje.
Outro caso
impressionante é o do religioso libanês Charbel
Makhlouf, cujo corpo foi depositado em um túmulo sem caixão, como previa a
regra maronita. Exumado quatro meses depois de sua morte, tempo suficiente para
a destruição parcial do corpo, São Charbel estava coberto de lama, mas seu
aspecto permaneceu natural e flexível por longos anos, emitindo constantemente
sangue e água, à semelhança do lado aberto do Redentor. Mais admirável que o
fluxo, porém, é a quantidade de líquido que o seu corpo já exsudou, número que
supera (e muito) a quantidade normal de qualquer ser humano vivo.
Santa Eustáquia Calafatto |
5. Eles foram visitados por luzes sobrenaturais
Ainda que não
contribuam em nada para preservar essas relíquias, a aparição de luzes sobre os
corpos e as tumbas de alguns desses santos atestam, de certo modo, a sua
vocação divina.
A santidade de São Guthlac, por exemplo, foi
confirmada por muitas testemunhas, que viram a casa onde ele morreu ser coberta
por uma luz brilhante, que saía de lá em direção ao Céu. O perfume que provinha
da boca de São Luís Beltrão em seu leito de morte era acompanhado de uma luz
intensa que clareou a sua humilde cela por muitos minutos. Vários outros santos
foram favorecidos com essa iluminação, incluindo São João da Cruz, Santo Antônio de Stroncone e Santa Joana de Lestonnac.
Mas talvez a
mais impressionante manifestação tenha ocorrido, novamente, na tumba de São Charbel Makhlouf. A luz que brilhou
intensamente por 45 noites em seu túmulo foi testemunhada por vários habitantes
do vilarejo e eventualmente resultou na exumação do seu corpo, revelando os
fenômenos que se observam até hoje.
Evidentemente, a
Igreja não dá crédito a todo e qualquer caso de incorrupção que é alegado pelas
pessoas. As autoridades eclesiásticas preferem trilhar o caminho da prudência,
emitindo um parecer definitivo só depois que os fatos apresentados ao seu juízo
se mostrem inexplicáveis à ciência humana.
A mesma posição
de cautela deve ser recomendada a todos os fiéis. Sem se deixarem contaminar
pelo ceticismo doentio do mundo, lembrem-se sempre do fim com que Deus opera
essas grandes maravilhas: levar as pessoas à fé em Seu divino Filho e em Sua
Santa Igreja. É para Ele, Jesus Cristo, que apontam todos os santos e santas da
Igreja, principalmente os que, por um dom de Deus, receberam em seus corpos
mortais a dádiva da incorrupção.
(Fonte:
Equipe Christo Nihil Praeponere)
Recomendações
CRUZ, Joan Carroll. The Incorruptibles.
Charlotte: TAN Books, 2012.
ROYO
MARÍN, Antonio. Teología de la perfección cristiana. Madri: Biblioteca de
Autores Cristianos, 2015.
Referências
Suma
contra os gentios, III, 101.
De
servorum Dei beatificatione, XXXI, 24.
Um comentário:
Impressionante. Viva a Igreja de Cristo. = D.
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