Dessa longa
peregrinação não mais retornou. No extenso percurso, exercitou um de seus dons,
o da poesia, talvez o melhor. Entre camponeses analfabetos e curiosos, através
dela conquistava todos os cristãos, e convertia os pagãos. As suas palavras e
versos sublimes se transformavam logo em música criando um ambiente cristão,
fraterno e alegre, sendo por isso muito bem acolhido por onde passava.
Ao chegar à
sepultura de São Martinho em Tours, declamou o belíssimo poema que lhe dedicara
pela graça obtida. Depois, seguiu para Poitiers, onde conheceu a futura santa
Rategunda, rainha da França. O encontro mudou o rumo de sua vida. Por motivos
políticos, ela tivera de casar-se com o rei Clotário I, pagão, pouco letrado e
dado às conquistas violentas. Mais tarde, depois de tê-lo convertido, conseguiu
sua autorização para seguir a vida religiosa e fundar um convento. Muito grato
e respeitoso, Clotário I fez ainda mais, doou-lhe o castelo de Poitiers, que
ela transformou no Convento de Santa Cruz, do qual se tornou abadessa.
Foi o estilo de vida
monástico da abadessa que fez com que o poeta Venâncio Fortunato se tornasse
sacerdote. Rategunda, então, entregou a direção espiritual do convento a ele,
com autorização do bispo. Assim, numa Corte composta por nobres pouco
instruídos, ela tomou este brilhante poeta e literato como seu particular
secretário, confessor e conselheiro espiritual.
Venâncio
Fortunato atingiu, ali, o seu melhor momento literário, época de intensa
inspiração e produção. Escreveu diversas biografias de santos, entre eles Martinho
de Tours, Germano de Paris, Hilário de Poitiers e muitos outros. Também a sua
notória obra poética se perpetuou através da inclusão no breviário da Missa,
sob a forma de hinos e cânticos, especialmente notados na Semana Santa.
Em 600, foi
eleito e consagrado bispo de Poitiers, tornando-se uma figura muito proeminente
na história da Gália. Morreu em 14 de dezembro de 607, na sua diocese. Logo
passou a ser cultuado pelo povo como santo. A obra que deixou nos leva a uma
piedade verdadeira e terna, como a sua, testemunho de humanidade e fé numa
época primitiva de barbáries. Por isso, na Catedral de Poitiers, na França,
onde suas relíquias são veneradas no dia de sua morte, foi-lhe dedicado um
vitral que reflete e enaltece a sua figura de humilde peregrino, laureado
poeta, músico e bispo, que foi, em vida, santificada e brilhante no seguimento
de Cristo.
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