Sua
conversão deu-se de modo semelhante à de São Paulo. De muito nobre estirpe,
tornou-se grande pregador popular, flagelo das heresias, reformador de costumes
e fundador de mosteiros.
Norberto nasceu
em Santen, na margem esquerda do Reno, próximo de Colônia, no ano 1080. Seu
pai, Heriberto, era conde de Gennep e aparentado com a família imperial; e sua
mãe, Hadwige, pertencia à Casa de Lorena.
Seus pais o
destinavam à carreira eclesiástica, e ele recebeu as ordens sacras até o
subdiaconato. Porém, rico, belo, inteligente, não queria senão levar boa vida,
primeiro entre os pajens do Arcebispo de Colônia, depois na corte do Imperador
alemão, Henrique IV.
Assim passou alegre e superficialmente sua
juventude até os 33 anos. “Eu era então
um ínclito cidadão de Babilônia — declarará ele depois de convertido – escravo do prazer e prisioneiro dos meus
caprichos. Os terrores do inferno, a
beleza da virtude e a promessa da felicidade eterna me pareciam contos de
velhas, ou fábulas como as das mitologias antigas. Só ouvia os aplausos dos que
me rodeavam e que me lançavam por caminhos laboriosos e difíceis, andando
sempre sem tornar atrás, vago e fugitivo, despencando-me de cimo em cimo com
uma inconsciência que hoje me cumula de terror”.
Queda do cavalo e conversão, como São Paulo
Isso até soar a
hora da Providência. E esta chegou da maneira mais inesperada. Viajava ele um
dia a cavalo, acompanhado de um pajem, para uma vila chamada Freten, na
Westfália, atravessando bela pradaria. O céu, límpido e sereno, de repente
cobriu-se de espessas nuvens negras e começou a cair uma tempestade com raios e
trovões pavorosos. O pajem, talvez inspirado por uma graça divina, gritou: senhor,
aonde vais? Retornai, senhor, retornai, pois a mão de Deus está seguramente
contra vós”. Mas Norberto seguia em frente, quando ouviu uma voz poderosa que
lhe gritou do alto: “Norberto, Norberto,
por que me persegues? Eu te destinei a edificar minha Igreja, e tu escandalizas
os fiéis!”.
Ao mesmo tempo
um raio caiu a seus pés, fazendo-o tombar do cavalo ao solo, onde permaneceu
desacordado durante uma hora. Voltando a si, ainda assustado e considerando a
vida que levara durante tanto tempo, foi tomado de arrependimento e perguntou,
como o Apóstolo: “Senhor, que quereis que
eu faça?”. Ouviu então a mesma voz: “Deixa
o mal e faze o bem; procura a paz e segue-a”. Isso ocorreu em 1114.
O exemplo de sua vida convertia as almas
Norberto
tornou-se outro homem. Passou a amar aquilo que desprezara e a desprezar aquilo
que amara; transformou-se num rígido asceta, num censor severo de quanto havia
buscado e amado, num pregador intransigente da verdade.
Para entregar-se
com mais facilidade à pregação, ordenou-se sacerdote, vendeu seu castelo e seus
pertences, distribuiu tudo aos pobres. Enquanto isso, visitava freqüentemente o
monge Conon, Abade de Seigberg, próximo a Colônia, de quem aprendeu os
rudimentos da vida religiosa e os princípios da vida espiritual, de modo que
passou a receber de bom coração tudo o que lhe acontecia de importuno e a
mortificar suas más inclinações.
Norberto
transformou-se então num pregador ambulante, indo de aldeia em aldeia, de
cidade em cidade, fustigando o vício e pregando a virtude. Andava descalço em
qualquer estação do ano, mesmo com neve, vivia de esmolas, dormia em hospitais
e mosteiros.
Em suas
pregações, não poupava nem mesmo os cônegos relaxados e os clérigos mundanos,
combatendo a simonia, uma das pragas da época. Sua imponente presença
impressionava; e quando contava sua história, comovia. Seu exemplo era mais eficaz
que sua palavra. Mas, muitas vezes foi vítima de agressões e maus tratos de
pecadores empedernidos.
Pregador do Evangelho e taumaturgo
Ele foi até a
Abadia de Saint-Gilles, na diocese de Nimes, no Languedoc, onde o Papa Gelásio
II se havia retirado para fugir da perseguição do Imperador Henrique. Dele
obteve um breve, para poder predicar como pregador evangélico em todos os
lugares.
Estando em
Valenciennes, encontrou-se com o bispo Burchard, seu par na corte do Imperador.
O bispo ficou extremamente surpreso em ver o antigo e elegante cortesão assim
transformado. Abraçou-o ternamente. Um de seus capelães ficou tão impressionado
com a história de São Norberto, que quis segui-lo como discípulo. Chamava-se
Hugo, e absorveu tão bem o espírito de seu mestre, que foi seu sucessor na
Ordem que Norberto fundaria.
São Norberto
recomeçou suas andanças apostólicas, e sua palavra persuasiva era acompanhada
de milagres. Um senhor flamengo, que depois de ouvir a palavra do Santo não
quis reconciliar-se com seu vizinho, caiu nas mãos de seus inimigos e foi
assassinado. Outro senhor, que quis partir para não se reconciliar com seu
inimigo, seu cavalo não conseguia mover-se para levá-lo. Ele reconheceu o
milagre, pediu perdão ao Santo e abraçou seu ex-inimigo.
Entretanto,
tendo o Papa Gelásio II falecido na Abadia de Cluny, foi eleito o Arcebispo
Guy, de Vienne, sob o nome de Calixto II. São Norberto foi visitá-lo para obter
a mesma permissão que seu antecessor lhe dera, para continuar pregando. Mas o
bispo de Laon, que queria o grande pregador para sua diocese, suplicou ao Papa
que o enviasse para reformar a Abadia de São Martinho de Laon, que pertencia a
cônegos regulares. O Sumo Pontífice consentiu.
Mas a empresa
fracassou, porque os cônegos não quiseram abraçar a reforma que Norberto lhes
propunha, pois desejavam seguir o seu sistema de vida quase de seculares.
Fundação da Ordem dos Premonstratenses
O bispo, para
não perder a colaboração do Santo, propôs-lhe que fundasse um mosteiro em suas
terras, onde poderia receber discípulos e fundar uma nova Ordem religiosa.
Norberto aceitou e escolheu um vale de difícil acesso perto de Soissons, que se
chamava Premostratum. Inspirado, ele exclamou: “Este é o lugar de meu descanso e o porto de minha salvação”.
No dia da conversão
de São Paulo do ano de 1120, o bispo trocou os trajes de penitente de São
Norberto e de seu discípulo Hugo por um hábito branco, conforme a Santíssima
Virgem tinha mostrado ao Santo. Começou assim a Ordem dos Premonstratenses, que
depois se espalharia por toda a Europa.
Norberto
edificou uma ermida, conquistou novos discípulos e deu-lhes o hábito branco e
as regras de Santo Agostinho, e um modo de ser que consistia em viver como
monges e servir ao próximo como clérigos.
Ele era uma
regra viva para seus monges e um modelo das virtudes religiosas.
Recomendava-lhes freqüentemente três coisas: a pureza de coração e a limpeza
exterior no que concernia aos divinos ofícios e ao serviço do altar; a expiação
de suas faltas e negligências no capítulo; e a hospitalidade para com os
pobres.
São Norberto
estabeleceu também em Premontré uma comunidade de jovens e viúvas, para ser o
bom odor de Jesus Cristo em sua Igreja.
Sua fama
espalhou-se por toda a região. Muitos foram os nobres que lhe deram terras para
fundar outros conventos, e não poucos os que o seguiram como religiosos.
O conde Thibault
de Champagne quis imitar o fervor de São Norberto como discípulo seu. Mas o
Santo lhe declarou que era vontade de Deus que ele O servisse no estado
matrimonial. Mas, para que ele pertencesse à Ordem, deu-lhe um pequeno
escapulário branco para usar sob as vestes e lhe prescreveu uma regra para
viver de maneira religiosa em meio ao mundo. Fazendo depois a mesma graça a
inúmeras outras pessoas, surgiu assim a Ordem
Terceira Premonstratense.
Combate à heresia e à charlatanice
Em Anvers,
surgiu um pernicioso heresiarca, de nome Tanquelino, que se apresentou como
profeta e reformador religioso. Simples leigo, ele combatia a existência de
bispos e clero como coisa desnecessária e perniciosa. Pregava uma moral laxa e
convertia as igrejas em lupanares. A bebedeira, a boa vida e a impureza
imperavam entre seus discípulos. Ele sabia tão bem fanatizá-los, que chegavam a
beber a água na qual ele tinha tomado banho. Ninguém ousava fazer face a esse
inovador. Ninguém, exceto São Norberto.
Como um capitão,
ele organizou o ataque a esse ímpio que queria destruir a Igreja de Jesus
Cristo. Pregou ao povo com tanta eloqüência, que os hereges começaram, pouco a
pouco, a pedir perdão e penitência para seus erros, entregando hóstias
consagradas, que guardavam em suas casas para as escarnecer. De tal maneira
refutou os erros de Tanquelino, que este não viu outro caminho senão fugir para
outra cidade, onde fosse desconhecido.
Bispo de Magdeburgo
— santa morte
Em 1126,
Norberto foi aclamado bispo de Magdeburgo e entrou em sua diocese montado num
asno. De uma bondade comovedora para com o pecador arrependido, o novo bispo
era de uma intransigência sem igual para com os recalcitrantes, usando a
excomunhão quando necessário. Foi ameaçado de morte e vítima de atentado, mas
protegido pela Providência.
Entretanto,
apesar de ter apenas 52 anos de idade, seu corpo estava gasto pelos jejuns e
penitências, pelas andanças apostólicas e pelo zelo. Depois de uma visita
apostólica em sua diocese, foi acometido de violenta doença que, quatro meses
depois, o levou ao sepulcro.
Um de seus
religiosos viu sua alma transformar-se num lírio alvíssimo, que os Anjos
levaram para o Céu.
(do site “Catolicismo”)
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