O que
dava relevo a tudo isso e que imediatamente chamava a atenção dos que dele se
aproximavam era a figura interior de Artêmides Zatti: a do discípulo de Cristo
que vive em cada momento a sua consagração, na constante união com Deus e na
real fraternidade evangélica. Segundo médicos que viveram ao lado dele por
longos anos, em momentos profissionalmente delicados como os das longas
cirurgias; segundo avaliações de colaboradores e cooperadores, e de palavras de
administradores estatais, de testemunhos de coirmãos – emerge uma figura
completa, também por aquele equilíbrio salesiano pelo qual as diferentes
dimensões confluem numa personalidade harmônica, integrada, serena, aberta ao
mistério de Deus vivido no cotidiano.
É
admirável que, graças às empenhadas tarefas que o ocupavam, Artêmides Zatti não
tenha nunca perdido o sentido da comunidade religiosa; antes, tenha sempre
participado e gozado da oração cotidiana, dos momentos de fraternidade à mesa e
das ocasiões de partilha da alegria de família, que nele se manifestava de modo
todo especial. A comunidade salesiana foi para ele lugar de experiência de Deus
e de fraternidade evangélica.
Experiência do Papa Francisco com Santo Artêmides Zatti
No dia 18 de maio de 1986
foi dirigida ao Pe. Cayetano Bruno, SDB, uma carta que tinha por remetente o
Pe. Jorge Mario Bergoglio, SJ. Conta a carta a experiência que o atual Papa
Francisco fez com o Beato Salesiano Irmão Sr. Artêmides Zatti e relata como,
por sua intercessão, a província argentina da Companhia de Jesus tenha visto um
renascer em suas vocações para Irmão Coadjutor.
“Apresento uma referência
do ano 1976, em que eu conheci a vida de Sr. Zatti. Nesse ano, o irmão
coadjutor mais novo tinha 35 anos, era enfermeiro e morreria quatro anos
depois, vítima de um tumor no cérebro. O que lhe seguia em idade tinha 46 anos
e mais um com 50. A partir daí, eram todos idosos (muitos deles continuavam a
trabalhar muitíssimo, mesmo com 80 anos e mais). Esse “quadro demográfico” dos
irmãos coadjutores na Província da Argentina levava muitos a pensar na
possibilidade de que se tratava de uma situação irreversível e que não haveria
mais vocações. Alguns até se questionavam sobre a “atualidade” da vocação de
irmão coadjutor na Companhia, devido a que – perante os fatos – parecia que se
extinguiria” – escreve o Padre Jorge Mario Bergoglio no início da sua carta.
A Companhia de Jesus,
como os Salesianos, vê na figura do irmão coadjutor a especificidade de uma
única vocação, a respeito da qual o hodierno Pontífice, então, comentava na
carta: “Por outro lado, o padre geral, Pedro Arrupe, SJ, insistia muito na
necessidade da vocação do irmão coadjutor para o corpo completo da Companhia.
Dizia mesmo que a Companhia, sem irmãos coadjutores, não seria a Companhia”.
A carta prossegue
referindo como numa visita a seus irmãos jesuítas no norte da Argentina, Arquidiocese
de Salta, Dom Pérez, SDB, contasse ao Pe. Jorge Mario a respeito da vida do Sr.
Zatti e o convidasse a ler mais sobre a sua figura. Surgiu-lhe assim o desejo
de pedir a Deus a intercessão do então Beato Zatti para que surgissem novas vocações de Irmão Coadjutor.
A carta conclui
exatamente reafirmando a sua convicção na eficaz intercessão do Sr. Zatti em favor
do renascimento das vocações para irmãos coadjutores.
Biografia
Artemides Zatti nasceu no
dia 12 de outubro de 1880 em Boretto, província de Reggio Emilia na Itália. Sua
família era pobre e seus pais trabalhavam como arrendatários para outras
famílias, porém, pressionados pela pobreza, participaram de uma emigração para
a Argentina. Chegaram a Bahía Blanca no
dia 13 de fevereiro de 1897.
Foi nesta cidade que Zatti conheceu os
salesianos. Eles eram responsáveis pela paróquia de Nossa Senhora das
Mercês. Tendo contato com o pároco Pe.
Carlos Cavalli, Zatti passava a maior parte do seu tempo livre na paróquia. Com
ele, visitava os doentes, acompanhava funerais e ajudava nas missas como
sacristão. Com toda essa vivênciade Zatti sentiu o desejo e o chamado de se
tornar salesiano. Em 1900 amadureceu a realidade da vocação e após o
discernimento, foi admitido no aspirantadode Bernal no dia 19 de abril.
Zatti que demonstrava
maturidade e grande responsabilidade recebeu, já no aspirantado, a missão de
cuidar de um padre que era tuberculoso.
Apesar de sua dedicação, acabou contraindo a mesma doença. Diante dessa
provação, Zatti fez uma promessa a Maria Auxiliadora, onde pediu a cura de sua
doença. Se conseguisse tal graça prometeu que entregaria toda sua vida a
serviço dos doentes. Após uma consulta médica os superiores decidiram mandá-lo
para Viedma em 1902. Com a saúde reestabelecida Zatti começou a trabalhar na
farmácia anexa ao Hospital Missionário de São José, dirigido pelo padre Evágio
Garrone.
Quando Zatti foi enviado
a Viedma ainda era aspirante. A princípio, aspirava à vocação de sacerdote,
porém, naquela época o salesiano que quisesse não poderia professar se tivesse
alguma doença. Os superiores sugeriram que ele professasse como salesiano
coadjutor. Após refletir sobre sua vida e sobre a mediação dos Superiores Zatti
compreendeu a vontade de Deus. Ele percebeu que com a vocação de salesiano
coadjutor ele poderia cumprir mais diretamente e mais completamente a promessa
que tinha feito a Nossa Senhora. Provavelmente como sacerdote não poderia doar-se
de modo integral aos doentes, devido aos compromissos sacerdotais. Em janeiro
de 1908 emitiu os votos religiosos como salesiano coadjutor.
Com a morte do Pe.
Garrone em 1915, tornou-se diretor do Hospital de São José. De doente tornou-se
enfermeiro e a doença dos outros se tornou seu apostolado sua missão. Durante
os quarenta anos transcorridos em Viedma, Zatti pode testemunhar a sólida
virtude e o espírito salesiano. Em 1950 caiu da escada, foi forçado ao repouso
e alguns meses depois se manifestaram sintomas de câncer. Zatti teve
insuficiência hepática e sucessivamente um tumor no fígado. Faleceu no dia 15
de março de 1951. O salesiano coadjutor foi realmente um bom samaritano com o
estilo de Dom Bosco. Sua compaixão, sua presença alegre que curava, seu
testemunho de fé e esperança, seu zelo apostólico aos doentes, e seu amor a
Jesus levaram o servo de Deus à sua santificação. Seu corpo repousa na capela
dos salesianos de Viedma, na Argentina.
Artêmides Zatti e um de seus amados pacientes: um menino com hidrocefalia. |
Podemos perceber pelo exemplo de Artêmides Zatti que a vocação de salesiano coadjutor (religioso) também é um caminho de santificação. Unindo os dons da consagração, os salesianos coadjutores são chamados a ser no mundo sinais do amor de Deus aos jovens. Com seu trabalho, abre perspectivas novas para inserção no mundo da cultura e da juventude buscando ser um educador-pastor. Com sua consagração aponta o compromisso de testemunhar a fé, vivendo a fidelidade ao Reino e a comunhão eclesial. Eles podem proclamar a presença e a comunicação de Deus no cotidiano, nos lugares mais diversos, especialmente naqueles que os presbíteros não podem chegar.
Foi solenemente canonizado pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro, no dia 09 de outubro de 2022.
http://www.boletimsalesiano.org.br/index.php/salesianidade/item/3859-santos-salesianos-em-novembro-bem-aventurado-artemides-zatti
Túmulo onde estão guardados os espólios mortais do "enfermeiro santo" da Patagônia. |
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