Hoje, apresentamos uma figura que embora não
tenha sido ainda canonicamente elevada à honra dos altares, é tida pelos
católicos da cidade de Denver, Colorado, EUA, como uma santa.
Os habitantes de Denver creem firmemente que ela esteja no Céu, pois
Nosso Senhor disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão
misericórdia” (Mt 5, 7).
No dia 02 de junho de 2017, uma missa em homenagem a Júlia Greeley foi
rezada na Igreja Católica do Sagrado Coração em Denver, local frequentado por
ela até sua morte em 07 de junho de 1918. Júlia Greeley viveu na obscuridade durante a maior parte de sua vida;
hoje sua canonização está sendo cogitada pela Igreja Católica.
Como um prelúdio dos próximos passos para sua canonização, naquele dia
os seus restos mortais foram transferidos e colocados num túmulo de mármore na
Catedral Basílica da Imaculada Conceição em Denver.
Durante a missa em sua honra, numa igreja cheia de leigos, o bispo
auxiliar Jorge Rodriguez falou sobre a vida de Júlia.
“Cento e trinta e sete anos atrás, Júlia Greeley converteu-se ao
Catolicismo. Alguns estão sentados nos bancos em que ela sentou; após a missa,
ela saía pelas portas que transporemos nesta noite. Peçamos a Deus, como Júlia
fazia quando deixava a igreja: como podemos mostrar a Ele nosso amor e como
podemos servi-Lo”.
“A vida de Júlia Greeley é surpreendente porque ela brilha no meio de
uma triste realidade da história humana: ela conheceu a tragédia da escravidão,
a dor e a humilhação, mas sua vida toda foi de serviço, plena de amor. Isto é
em si um milagre, que uma mulher rodeada de rancor não odiasse”.
“A Igreja universal está reconhecendo que Júlia Greeley levou uma vida
santa”. [...]
“A santidade pode acontecer em almas humildes, que realizem coisas
simples, como Júlia Greeley ajudando pobres em silêncio nas ruas de Denver, e
compartilhando seu amor pelo Sagrado Coração de Jesus”.
“Isto é o que os santos fazem: eles despertam em nós o desejo de também
sermos santos! Peçamos a Júlia Greeley, que está no Céu, que nos inspire a
responder a Nosso Senhor como ela, para que possamos também dizer como São
Pedro: ‘Senhor, Vós sabeis que eu Vos amo!’”
Júlia Greeley [foto acima], nasceu escrava entre 1833 e 1848 em
Hannibal, no Missouri (ela não se lembrava do ano em que nasceu). Como escrava,
suportou tratamento horrível: certa vez, um chicote atingiu seu olho direito e
destruiu-o, quando um chefe de escravos batia na mãe de Júlia.
Em 1874, 11 anos após a libertação dos escravos, ela se mudou para
Denver, no Colorado, indo morar com uma família católica, os Gilpin. Júlia
Gilpin era casada com o primeiro governador territorial do Colorado, William
Gilpin. Sob a influência da patroa, Júlia se converteu ao catolicismo em 1880,
recebendo o batismo na igreja do Sagrado Coração de Jesus daquela cidade, que
começou a frequentar assiduamente. Se tornou uma católica fervorosa, de missa e
comunhão diárias.
Em 1901, Júlia Greeley tornou-se membro da Ordem Secular Franciscana. Os
padres jesuítas de sua paróquia reconheceram que ela era a mais fervorosa
promotora da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
Apesar de sua própria pobreza, Júlia dedicava grande parte de seu tempo
coletando alimentos, vestiários e outros bens para os pobres. Geralmente ela
fazia essa distribuição à noite, a fim de evitar embaraços às pessoas que
ajudava e para permanecer no anonimato. Socorria igualmente famílias de negros
e de brancos pobres, usando de muita delicadeza para não os melindrar.
Embora ganhasse pouco, limpando e cozinhando, “dedicava-se a ajudar
outras pessoas [mais] pobres do que ela. Isto já diz tudo sobre o seu coração
caritativo. Ademais, sentia grande devoção pelo Sagrado Coração de Jesus,
ficando conhecida por caminhar até 20 diferentes estações de bombeiros a fim de
repartir entre eles medalhas de feltro do Sagrado Coração [o ‘Detém-te’, ou
‘Escudo do Sagrado Coração de Jesus’] e folhetos. Ela é a encarnação das obras
corporais e espirituais de misericórdia…”, escreve seu biógrafo, o Frei
Capuchinho Pe. Blaine Burkey
Segundo seu biógrafo, Júlia Greeley não lia nem escrevia. “Ela jejuava
todas as manhãs. Mesmo depois de ter comungado, as pessoas diziam: ‘Por que você
não vem e toma o desjejum?’ e ela dizia ‘A Comunhão é o meu desjejum!’”
Júlia faleceu no dia 7 de junho de 1918, na festa do Sagrado Coração de
Jesus. Os jornais da cidade, como o Denver Catholic Register, escreveram longos
obituários em sua honra. Como ela não sabia bem sua idade, calcula-se que teria
por volta de 80 anos quando faleceu. Era tão querida, que seu corpo permaneceu
na capela ardente durante cinco horas, para atender ao afluxo constante de
pessoas de todos os âmbitos da sociedade que queriam venerá-la.
Dois dias após o funeral de Júlia, o Denver Catholic Register apresentou
um artigo de Matthew Smith (que mais tarde se tornou padre e um dos mais
célebres editores do Register), no qual ele dizia: “Sua vida se assemelha a de
uma santa canonizada”. Mons. Smith não sabia quão providenciais suas palavras
eram.
Duas comissões foram indicadas para promover a causa de canonização de
Júlia; estão investigando sua vida e coletando todas as informações sobre ela
que ainda não tenham sido descobertas. Examinam suas virtudes, sua reputação de
santidade e qualquer evidência a favor ou contra isto.
Os restos mortais da Serva de Deus foram cuidadosamente exumados, limpos, selados e dispostos em estojos e urnas, para serem colocados na Catedral da Imaculada Conceição, em Denver e devidamente venerados. |
Reconhecimento canônico dos restos mortais da Serva de Deus Júlia Greeley. O Sr. Arcebispo de Denver asperge os restos mortais (relíquias) da Serva de Deus. |
Monjas Clarissas, sacerdotes e leigos veneram as relíquias da Serva de Deus. |
Virgínia Haddad, grande incentivadora da abertura do processo canônico junto ao arcebispo de Denver.
Virginia Haddad tomou conhecimento de Júlia Greeley quando pequena. Ela
teria por volta de 6 ou 7 anos quando sua mãe lhe mostrou um velho jornal que
publicara a única foto conhecida de Júlia. “Ela me falou sobre Júlia”, recorda
Virginia, “e me disse que aquela foto única dela e de uma criança, era a de Tia
Marge, e que Júlia era uma pessoa santa que ajudara muitas pessoas em Denver”.
A foto (única da serva de Deus) relaciona-se com um casal residente em Denver, Agnes e George
Urquhart, que tinha perdido seu primeiro filho bem pequenino. Os médicos
disseram que eles não poderiam ter mais filhos, mas quando Júlia encontrou o
casal e ouviu esta novidade, disse que isto era uma tolice. “Vocês terão outra
criança”, ela disse, “e ela será meu pequeno anjo branco”.
Cerca de um ano depois, em 11 de setembro de 1915, nasceu Marjorie Ann
Urquharts. A mãe de Virginia, Virginia Rose, nasceu em 1918.
Virginia Haddad junto ao antigo túmulo de Júlia Greeley (seus restos, posteriormente, foram transladados para a catedral de Denver). Na única foto conhecida do
Anjo de Caridade, ela carrega a tia de Virginia, Marjorie Urquhart. Virginia Haddad, leiga franciscana, ficou ainda mais ligada a Júlia
Greeley ao tomar conhecimento que ela também fora uma leiga franciscana. A
partir de todas estas informações, ela se tornou uma difusora da vida de Júlia.
FONTES:
Blog: "Heroínas da Cristandade".
Diocese de Denver, Colorado (EUA)
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