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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Matrimônios Santos: SÃO LUÍS IX e Margarida de Provença, Reis da França


SÃO LUÍS IX (25 de agosto) e Margarida de Provença, reis da França: discernimento em casal.


São Luís (1214-1270) “possuía as qualidades de um grande monarca, de um herói de epopeia e de um santo. À sabedoria no governo unia a arte da paz e da guerra; o valor e amplitude de horizontes, uma grande virtude. A ambição não tinha espaço em suas obras, o único que o santo rei almejava era a glória de Deus e o bem dos súditos”. Soube traduzir as exigências da fé cristã no exercício do governo, institucionalizando, pela primeira vez, a administração da justiça por meio de leis processuais, exame de testemunhas, documentos escritos, etc. Caridoso com os pobres, austero consigo mesmo, homem de oração, amante da Igreja, ganhou a estima de todo o povo francês e até de seus inimigos. Sua integridade e imparcialidade se destacavam de tal forma que os barões, os prelados e mesmo os reis se submetiam à sua arbitragem e se guiavam por suas decisões. O reino da França e a religião católica prosperaram durante seu reinado de 44 anos.

Mas, o que nos interessa, sobretudo, é a qualidade de sua relação conjugal com Margarida Berengar, uma mulher extremamente bela (tanto que provocou ciúmes em sua sogra, a dominante “matrona Branca”). Foi um matrimônio cheio de amor, apesar do caráter arrogante e inquieto de Margarida. São Luís era rigoroso para com seu próprio corpo, mas terno e afetuoso para com sua esposa. Uma das características dessa família real é a santidade em família.

São Luís e Margarida tiveram 11 filhos. O santo deixou escrito um belíssimo testamento como memória e exortação ao seu filho descrevendo os deveres e o caráter de um governante cristão: retrata com fidelidade sua própria personalidade e santidade “profissional”.

Há várias anedotas que demonstram a seriedade e originalidade de sua relação conjugal (e também certa amável teimosia). São Luís, ao longo de sua vida matrimonial, nunca se lançou a uma obra importante sem contar com a permissão de sua esposa. Inclusive quando foi capturado pelos mouros durante uma Cruzada no Egito (em 1248 o rei, a rainha e os cruzados embarcaram para apoiar às forças cristãs no Oriente Médio. O objetivo desta cruzada foi o Egito. Tomaram a cidade de Damieta, no delta do Nilo, sem dificuldades. Mas na hora de entrar triunfalmente na cidade, o rei e a rainha não cavalgaram com pompa, senão que entraram a pé, depois do legado pontifício. O rei decretou severos castigos contra o saque e o crime, ordenou a restituição do que tivesse sido roubado, e proibiu matar aos muçulmanos se podiam ser pegos como prisioneiros; mas muitos cruzados se entregaram ao saque e à matança. Posteriormente sofreram vários problemas graves devido ao clima, às enfermidades, e a uma defesa mais eficaz por parte dos sarracenos. Em abril de 1250, o rei, junto com o que restou de seu exército, foi preso. Durante seu cativeiro, o rei rezava diariamente o ofício divino com seus dois capelães, como se estivesse em seu palácio. Respondia com ar de majestade e autoridade às burlas e insultos dos guardas, levando-os a deixar-lhe em paz. Quando estava negociando o resgate de seus soldados e sua própria libertação, exigiu que lhe permitissem falar com sua esposa antes de comunicar sua decisão definitiva. Os muçulmanos se surpreenderam disso ao que ele replicou que não podia concluir nada sem ela, porque “ela era sua Senhora” e como tal devia-lhe este respeito).

Em certa ocasião São Luís compartilhou com ela seu desejo de renunciar o trono para se fazer religioso (uma vez que seu filho mais velho tinha idade para assumi-lo). Pediu-lhe que manifestasse e desse consentimento, mas ela rechaçou a ideia com firmeza, mostrando-lhe com argumentos porque devia seguir como rei até sua morte. Deixou-se convencer e nunca mais tocou no assunto.

Mas o que o santo exigia de si mesmo a respeito de “sua Senhora”, também exigia dela em relação a ele. Margarida falava de seu marido, queixando-se que era “bem esquisito”. Uma vez durante uma tempestade em alto-mar, um oficial de sua corte sugeriu a ela que fizesse um voto de realizar uma peregrinação se chegasse bem na França. Ela disse que voluntariamente faria tal voto, mas se o rei soubesse que o havia feito sem consultar-lhe, “nunca me permitiria cumpri-lo. É tão esquisito”.  

No seguinte fato chega a ser engraçado isto da “obediência mútua”. Ela queria que ele se vestisse com roupas mais apropriadas à sua dignidade real, e não com roupas comuns e correntes que ele costumava usar. Uma vez, quando ela reclamou, ele respondeu: “Minha senhora, queres que eu vista roupa mais luxuosa? ” “Sim, definitivamente – ela respondeu – quero que o faças”. “Bom, estou de acordo – disse o rei – disponho-me a comprazer-te nisto, porque a lei do matrimônio exige que o esposo agrade a sua esposa. Mas esta obrigação é recíproca; tu então estás obrigada a conformar-te ao meu querer”. “E este é?” perguntou, desconfiada do que ele tramava. “Que te vistas com roupas mais humildes... Tu te vestirás com meus trajes, e eu com os teus”. A rainha não aceitou tal proposta, ficando as coisas como estavam.


Da mesma forma que os reis da Escócia, Luís fundou um hospital para os cegos; convidava diariamente 13 para comer; mandava repartir mantimentos a uma grande multidão de necessitados e tinha uma lista de pobres que ajudava regularmente em todo seu reino. Mas neste caso não tenho dados que confirmam a atuação de Margarida ao lado do rei nestas obras de caridade.

Texto retirado do livro Matrimônios Santos – Os santos casados como modelos de espiritualidade conjugal; Padre Thomas Kevin Kraft, OP.




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