VIDA E DOUTRINA
DA
BEATA JOSEFA NAVAL GIRBÉS, OCDS.
Os antigos registros da Venerável Ordem
Terceira da Ordem do Carmo se perderam, sobretudo por causa da
devastação e dos incêndios durante a famigerada Guerra Civil Espanhola
(1936-1939). Também desapareceram tanto os registros das paróquias como os dos
conventos da Ordem. Por esta razão não temos um texto oficial da inscrição de
Josefa Naval Girbés em
nossa Ordem Secular.
Sabemos, com certeza, pelas disposições realizadas
no Processo Ordinário (para a causa de Beatificação-Canonização) e por dados
recolhidos na “Biografia da Serva de Deus Josefa Naval Girbés”, escrita pelo
Pe. Bernardo Asensi Cubells (Valência, 1957; 2ª. 1962) que a Beata “foi
inscrita na Ordem Terceira do Carmelo” e que, como tal, “dispôs que por ocasião
de sua morte a revestissem com o hábito do Carmo”, que “tinha uma especial
devoção ao Escapulário do Carmo”, e que por causa disso, quando morreu,
suas discípulas “lhe vestiram... o hábito carmelitano, visto que pertencia à
Ordem Terceira do Carmo”.
Sabemos ademais pelo livro “Algemesi e sua patrona”
(1907), que a Fraternidade do Carmo havia sido fundada nessa cidade em 1854, e
por tradição conservada em Algemesi e comunicada oralmente por várias pessoas
ao Postulador Geral em algumas das visitas à cidade: que existiam alguns grupos
de Irmandades do Carmo em vários lugares da Província de Valência, cuja condição
era de “agregados à Terceira Ordem desta cidade” e que, no final do século XIX,
havia muita comunhão entre a Ordem Terceira de Algemesi e os Padres Carmelitas
de Alboraya, em Valência, cuja Comunidade havia sido restabelecida em 1884, e
que, em seus registros, os Terceiros Seculares existiam em mais de um milhar em
1891.
À luz do Vaticano II, a quem se deve a abertura do
campo para os seculares dentro da Igreja, foi convocado o Sínodo dos Bispos de
1987, que tão ampla e profundamente estudou o papel que, na Igreja e no mundo,
têm os seculares. Damos a conhecer a vida de Josefa Naval Girbés,
apresentando-a como exemplo do que o citado Sínodo propôs como norma de vida
cristã ao amplo número de membros da Igreja constituído pelos seculares.
Josefa Naval Girbés nasceu em Algemesi, Província de Valência, Espanha,
no dia 11 de dezembro de 1820. Algemesi era um povoado
eminentemente agrícola, com quase 8000 habitantes, uma única paróquia, um
convento de Dominicanos, um hospital, escassos centros de instrução e poucas
indústrias elementares. Foram seus pais Francisco Naval Carrasco e Josefa Girbés,
e seus cinco irmãos: Maria Joaquina (morreu pequena), outra Maria Joaquina,
Vicente, Peregrina (morreu aos 14 anos) e a pequena Josefa (que morreu apenas
nascida).
De seus pais herdou Josefa, seu grande espírito de
fé, sua ardente caridade, seu amor ao trabalho e o desejo ardente de viver
sempre na graça de Deus. Maria Josefa recebeu o Santo Batismo no mesmo dia em
que nasceu. Desde aquele momento só a chamavam com o nome de Josefa, mas alguns
de seus devotos a seguem chamando de “Senhora Pêpa”.
Quando Josefa tinha oito anos, recebeu o Sacramento
da Confirmação. Adquiriu uma cultura elementar, suficiente para desenvolver-se
em meio no qual se passava sua vida. Aprendeu a bordar, atividade que com tanto
acerto ensinou as suas numerosas alunas.
Sua infância transcorre sem acontecimentos
especiais. Em sua formação religiosa colaborou eficazmente sua mãe. Desde
pequena aprendeu a amar à Santíssima Virgem, venerada perto de sua casa, no
convento dos Padres Dominicanos. Desde pequena já manifestava um caráter
reto, um tanto enérgico, que ela depois administraria em sua atividade
apostólica.
Fez sua Primeira Comunhão quando apenas contava com
nove anos e, nesta época, se comungava pela primeira vez apenas aos onze anos
cumpridos.
Sua mãe morreu quando ela tinha treze anos. A
Virgem dos Padres Dominicanos a inspirou que nunca a abandonaria.
Josefa, com seu pai e seus três irmãos, foi viver com sua avó materna. Resultou
em uma perfeita “ama” de casa, nos afazeres próprios da família.
Dedicava um grande e doce cuidado com sua avó enferma, sem deixar sua vida
de piedade nem dar concessões à rotina do cansaço. A avó morreu quando
Josefa contava com 27 anos, ficando nesta casa com seu pai, seu tio Joaquim e
seus irmãos sobreviventes Maria Joaquina e Vicente.
Seu pai morreu aos 62 anos, quando Josefa tinha 42
anos. Sua irmã Maria Joaquina se casou, morrendo aos 43 anos de idade. Seu
irmão Vicente também se casou, teve três filhos que morreram muito pequenos,
assim como sua esposa, pelo que já viúvo foi viver com ela. Seu tio Joaquim, um
santo varão solteiro, morreu aos 77 anos, em 1870, ano no qual Josefa convidou
sua discípula e confidente Josefa Esteve Trull a viver com ela, a quem, ao
morrer, deixou seus bens em usufruto vitalício para que continuasse sua obra.
Josefa era de estatura mediana, nem alta, nem
baixa; mais delgada do que gorda; de pele branca e fina; rosto ovalado, tinha
um dente superior um pouquinho levantado que lhe fazia graça; olhos vivos e
penetrantes, porém muito modestos; cabelos castanhos que logo se tornou
grisalho; voz suave e acariciadora; sorria com muita frequência, porém nunca se
lhe viu rir forte; seu andar era moderado; vestia-se de cor escura, com sapato
baixo e algo largo: o conjunto era de humildade e modéstia.
Para melhor agradar e entregar-se a Deus, em 04
de dezembro de 1838, escolheu a Jesus como seu único esposo, e a
Ele consagrou para sempre sua virgindade; permanecendo indiviso seu
coração (I Cor 7, 32-34), em sua união com Cristo fez progressos incessantes e se
dedicou com todas suas forças à sua própria santificação e ao serviço da
Igreja e das almas, demonstrando assim que a virgindade é o verdadeiro
sinal e estímulo do amor e uma muito especial fonte de fecundidade
espiritual no mundo (Documento Conciliar Lumem Gentium 42, Concílio
Vaticano II).
Buscava todas as oportunidades para anunciar a
Cristo, por
palavras e com obras, tanto aos não crentes, para atraí-los à fé, como aos
fiéis, para instruí-los, confirma-los na mesma e estimulá-los a um maior fervor
de vida. Com esta intenção, ensinava às meninas a doutrina cristã, visitava aos
enfermos, ajudava os pobres, aconselhava os quantos acudiam a ela, restaurava a
paz em famílias desunidas, para as mães organizava em sua casa um círculo com a
finalidade de conduzi-las à formação cristã, encaminhava de novo à virtude às
mulheres que se haviam apartado do caminho reto e admoestava com prudência aos
pecadores.
Porém, a obra a qual concentrou todos os seus
cuidados e energias, foi a da educação humana e religiosa das
jovens, para as quais abriu em sua casa uma escola gratuita de bordado,
atividade manual que muito conhecia. Aquela atividade que por si mesma era
“comercial”, à qual acudiam com assiduidade e entusiasmo muitas jovens de todas
as esferas sociais, se converteu em um centro de convivência fraterna, oração,
louvor a Deus, explicação e aprofundamento da Sagrada Escritura e das verdades
eternas.
Deste modo contribuiu eficazmente para o
incremento religioso de sua paróquia, formando assim muito boas mães
de família, fomentando o germe da vocação à vida consagrada e ensinando a todos
o que significa serem membros do Povo de Deus. Por tudo isso, ganhou grande
estima e fama de santidade entre o clero e o povo. Inclusive depois de sua
morte, que ocorreu piedosamente em 24 de fevereiro de 1893, continuou
estendendo-se sua lembrança devido à santidade de sua vida e de suas obras.
Vestida com o hábito da Terceira Ordem do Carmo,
seu venerável corpo foi depositado em um humilde ataúde. Pela manhã do dia
seguinte, 25 de fevereiro, se celebrou o funeral e, pela tarde, o enterro. A
caixa mortuária foi levada por suas alunas; as argolas brancas que
pendiam do ataúde, por quatro das mais pequenas. Josefa foi depositada em um
nicho que temporariamente adquirido e, definitivamente em 1902, por dona Josefa
Esteve Trull, sua discípula predileta.
Ali permaneceu incorrupta até seu translado à
paróquia, em 20 de outubro de 1946.
A Cúria Arquiepiscopal de Valência iniciou a Causa de
sua Canonização com a celebração do Processo Ordinário informativo durante os
anos de 1950-1952, ao qual se seguiu um processo adicional em 1956. Em 03 de
janeiro de 1987, Sua Santidade João Paulo II aprovava o decreto sobre as
virtudes heroicas de Josefa Naval Girbés, e em setembro de 1988 o milagre
proposto para sua Beatificação. A cerimônia de Beatificação se celebrou em São Pedro em 25 de
setembro de 1988.
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VOCAÇÃO À ORDEM SECULAR
Josefa Naval Girbés é, sem dúvida, um exemplo
para todos os que são chamados à santidade sem abandonar o mundo.
Quer dizer, sem deixar seu lugar, sua vida familiar e seu trabalho
profissional. Ela permaneceu no mundo para ser modelo de santidade para os seculares. Josefa não fez votos para a
vida consagrada e não ingressou em um convento, não por comodidade ou para
escapar do rigor da vida comunitária, já que no mundo, sem sair de sua casa,
viveu, em plenitude, os conselhos evangélicos, para ser um modelo exequível
para a maior parte dos filhos da Igreja que são os seculares.
Teve plena consciência da condição de secular na
Igreja, aos treze anos era uma perfeita “ama” de casa, à frente de uma família
composta por sete membros.
Josefa andou pelos caminhos da santidade em total
entrega a Deus e em serviço a seus semelhantes. À sua condição de secular temos
que aliar a de sua virgindade, que a introduz na intimidade com Deus e a faz
disponível para uma ação apostólica visivelmente fecunda. Josefa é uma virgem
secular, as duas coisas de uma só vez.
Esta mulher de Algemesi viveu no laicato da
perfeição evangélica, entregando-se ao apostolado entre as jovens de seu povo,
sendo um convite para a grande maioria dos cristãos que não foram chamados a
uma consagração especial, e que nem por isso sua dignidade eclesial é menor.
Ela que encheu os conventos de clausura, com virgens de vida consagrada,
permaneceu no mundo para ser testemunho sem ter que abandona-lo. Foi testemunha
de como a consagração a Deus é sinal e estímulo do amor e uma muito especial
fonte de fecundidade em meio ao mundo. Santificar-se e santificar! Foi a norma
de conduta desta Beata; e fazer sempre e em tudo a vontade de Deus, em
circunstâncias ordinárias da vida e no cumprimento de seus deveres de estado.
Josefa, sem sombra de dúvida, pensou na
possibilidade de orientar sua vida até algum convento; claro que consultou esta
possibilidade com seu diretor espiritual, porém, com as luzes que o Senhor lhe
concedeu e que ela recebeu com humildade e obediência e com o conselho de seus
diretores, viu claramente que devia continuar no mundo sendo guia de almas que
necessitavam de sua direção, seu exemplo de entrega a Deus e da ação benéfica
de sua atividade apostólica.
Seu lugar na Igreja esteve sempre bem definido,
desde o mundo para o mundo, desde Deus para os homens. O chamamento à perfeição
que consiste fundamentalmente na união com Deus pelo amor, vivendo fielmente
sua vontade, foi assumida por Josefa, desde sua condição de secular.
Viver em plenitude o amor a Deus e praticar esse
amor na acolhida do próximo. Ela viveu na vizinhança dos demais irmãos e irmãs
e, nesta vizinhança, o caminho de sua perfeição. “Procurai a perfeição com
simplicidade”, e insistia: “temos que chegar à perfeição custe
o que custar!”.
IDEAIS
VOCACIONAIS
Josefa Naval Girbés, como abrindo de par em par sua
alma, dizia muitas vezes: “meu ideal não é largar a vida, senão santificar
minha alma”. Praticou em grau heroico as virtudes teologais
da fé, esperança e amor, cujo exercício, bem sabemos os Carmelitas, nos levam
ao abandono, à abnegação e à doação de nós mesmos, como ideais vocacionais.
Sua vida era toda para Deus: “temos que retorcer
a vontade própria para que solte tudo o que não é vontade de Deus”.
Essa vontade a descobria, com grande espírito de fé, em sua santa lei e nas
obrigações do próprio estado. O apreço pelo cumprimento do dever que ela vivia
e que ensinou a suas discípulas, se traduz nestas palavras: “o cumprimento
do dever é o caminho; o grau de amor com que se cumpre é a medida da virtude
que tem a alma”.
Josefa teve sempre um claro conhecimento da bondade
de Deus, por isso pôs nEle toda sua confiança; ela que aspirava aos bens
eternos e trabalhava por consegui-los, contava sempre com a ajuda de Deus. Para
lográ-los consagrou toda sua vida: seus sofrimentos, que não foram
poucos, ocasionados em grande parte por sua enfermidade, que a acompanhou desde
os trinta anos até sua morte; seus trabalhos, os domésticos que ela teve
que enfrentar desde os treze anos, e os que ela se impôs na escola-atelier que
fundara; seus desvelos apostólicos que a levavam a preocupar-se
com todos os que padeciam alguma carência material ou moral.
Ela esteve sempre nas mãos de Deus. Infundir esta
confiança no coração de suas alunas foi sua tarefa. Assim dizia: “que nenhuma
de vocês desconfie à vista de seus muitos pecados; nossa confiança não se apoia
no que nós somos, senão no que Deus é e no amor misericordioso que Ele
nos tem”.
Josefa foi uma humilde serva do Senhor. O humilde
reconhece seu nada, sua inteira dependência de Deus e em suas mãos confia.
Anulava-se no templo, ante a imensa majestade de Deus; e essa atitude humilde
se prolongava durante todo o dia, em que se dedicava a toda espécie de
trabalhos, alguns os mais humildes. Nunca consentiu que suas discípulas lhe
ajudassem nos trabalhos ordinários de sua casa. Amava o retiro e o passar
despercebida. Não falava de se mesma e nem de suas coisas. Nunca se fez objeto
de festas ou de comemorações. Querendo enamorar suas alunas da virtude da
humildade, lhes dizia: “Somos o que somos diante de Deus; haveremos de fazer
as coisas com grande pureza de intenção. Procedendo desta maneira, se logo nos
desprezam, devemos nos calar e não nos defendermos, ainda que, humanamente,
tenhamos razão”.
O amor de Deus preenchia toda a vida de Josefa, a fé a fazia ver a Deus como
infinitamente amável. Ele é o Bem Absoluto que sacia todas as aspirações da
alma. Merece, pois, ser amado. Seu amor era um amor profundo na abnegação, no
sacrifício, na entrega total ao cumprimento de sua vontade: “amar a Deus é
entregar-se; amar a Deus é sofrer; o amor verdadeiro se prova com o
sacrifício”.
Porém sabia que o amor a Deus passa também pelo
meridiano do amor ao próximo. Amar ao próximo por Deus,
amor que começa da convicção de que somos filhos de Deus e irmãos de Jesus
Cristo. Tinha muito presente a Palavra de Deus (I João 4,20). Amou aos seus: a
seus pais, a sua avó, a seu tio, a seus irmãos, ainda que um deles, Vicente,
tivesse com ela um trato pouco amável, quando já viúvo, veio viver com ela.
Amou a seus superiores, especialmente os sacerdotes, entre os quais cabe
destacar a seus sábios diretores espirituais. Amou a suas discípulas, com
paixão proporcionada a seu zelo. Porém, sobre tudo, amou aos indigentes, aos
quais dedicou seus melhores afãs.
Seu amor à cruz foi uma mensagem constante
para todas suas alunas. Assim dizia: “correspondamos ao amor sacrificado de
Jesus em sua paixão. Haveis de levar a vossa cruz, cumprindo o dever como Deus
manda. Sofrei com amor, aproveitando todas as ocasiões de pequenas doenças.
Amar, amar e sofrer em silêncio; o amor se prova no sacrifício.
Sacrificai vossos gostos”.
VIVÊNCIA DO CARISMA CARMELITANO
Alma de vida interior, aspirou sempre à perfeição.
Para alcançá-la, se valeu dos meios que o carisma carmelitano põe a nossa
disposição para fazê-los experiência de vida.
ORAÇÃO - Josefa Naval foi uma alma de profunda vida
interior. Sua fé a levava à convicção de que Deus, Uno e Trino, habita em uma
alma em estado de graça. Ela viveu em plenitude aquele anúncio de Jesus Cristo:
“a quem me ama, meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele nossa morada”
(João 14, 23). Tão compenetrada estava com essas verdades que às vezes parecia
como absorta em meio de suas ocupações. Mais de uma vez tinha que se retirar a
seu quarto, onde abstraída, com as mãos juntas e os olhos fechados, dedicava
longo tempo à contemplação.
Alimentava sua vida interior com a Eucaristia e a oração. Oração vocal que aprendeu dos lábios de
sua mãe. Oração mental que realizava
nas primeiras horas da manhã, em sua paróquia, depois de
sua Missa e comunhão. O trato íntimo com seu Esposo, Jesus, se acentuava na comunhão eucarística de cada dia, que
ela renovava com frequência na comunhão espiritual. E, ao encerrar as tarefas
do dia, antes do descanso noturno, roubava algum tempo do descanso da noite
para dá-lo a um trato íntimo com o Senhor. Nesta comunicação secreta com Deus,
Josefa experimentava arroubamentos que silenciava com humildade.
Orando
durante o trabalho,
exercitando a presença de Deus com jaculatórias, vivia plenamente a presença de
Deus. Dizia insistentemente a suas alunas: “levai convosco a presença de
Deus”; e ajuntava: “tenhamos muita devoção à Santíssima Trindade, que
mora em uma alma em estado de graça”. Deste seu espírito de fé na presença
de Deus na alma brotava sua devoção ao
Espírito Santo. Como celebrava Sua festa anual! Pentecostes era ocasião
propícia para impulsionar em suas alunas o amor a Deus que tanto nos ama.
Assim, com o motivo desta solenidade, organizava entre elas, durante três dias,
turnos de oração e penitência.
A oração
do Ângelus ao meio
dia, e algumas outras práticas de piedade, entre as que sobressaía era a reza do Rosário a cada dia, se possível
com suas discípulas.
Esta era sua repetida mensagem: “oração, oração;
fazer a cada dia um momento de oração e tudo vos parecerá maneiro e suave.
Aprendei a falar com Deus sem palavras e fazei assim um momento de oração
meditativa. Diante do sacrário havemos de estar com grandíssima fé e
reverência”; este último conselho ela dizia como expressão de seu espírito
eucarístico.
PENITENCIA E MORTIFICAÇÃO. - Consciente das dificuldades
que se opõem à perfeição, dizia a suas alunas: “filhas minhas, não temos que
temer demasiadamente as dificuldades do caminho que temos empreendido; é
verdade que esse caminho é pedregoso e está cheio de trabalhos e privações, porém
também é certo que nosso Divino Capitão o trilhou durante sua vida, paixão e
morte”. Viveu sempre unida às dores de Cristo, a esses sofrimentos
redentores de Cristo uniu os seus, aquelas dores de cabeça que sofreu desde os
trinta anos até sua morte e as penitências, inclusive materiais, que se impunha
e autorizavam seus diretores. Praticou heroicamente a virtude da fortaleza, que
fortalece a alma para servir a Deus, sem deter-se por nada, nem ante nada, nem
sequer ante o temor da morte.
Era
exigente consigo mesma, logo o era também com os demais. Para exercitar-se na fortaleza,
seguindo adiante com exemplo, propunha a suas discípulas a prática da mortificação. Mortificações às vezes simples, porém
saturadas de vitória contra si própria que pouco a pouco a preparavam a
oferecimentos mais amplos e generosos. Dizia às suas alunas: “filhas minhas,
se é necessária a fortaleza para empreender o caminho de Deus, não o é menos
para aceitar o que Ele envia ou permite para nossa purificação, a saber:
moléstias, enfermidades, desprezos...”.
Outra das virtudes que Josefa exercitou
heroicamente foi a da temperança,
necessária para moderar a inclinação ao prazer sensível, que pode impedir a
perfeição e conseguir assim a posse de Deus. Fez como norma de sua vida aquela
que São Paulo pregava: “castigo meu corpo e o reduzo à servidão” (I Cor 9,27).
Castigou seu corpo, porém com prudência. Sua
comida era sóbria, mas bem pouca e
às vezes, voluntariamente, sem sabor. Não comia carne, a não ser
por prescrição médica. Não bebia
vinho (coisa muito comum naquela época e em sua região). Jejuava com certa frequência. Na Semana Santa não comia nada desde
Quinta-Feira Santa até o dia do “Glória” (noite do Sábado Santo).
Usava
cilícios
(instrumento de penitência, tipo cinturão largo ou faixa larga de couro com
pontinhas de ferro contra a pele, nos braços ou abdome), empregava disciplinas (pequeno flagelo de couro, com o qual a
pessoa se auto açoitava, principalmente durante a reza de salmos penitenciais,
tipo o Salmo 50 e o Salmo 29); sempre com anuência de seus santos diretores
espirituais. Sobre tudo aceitava com amor tudo o que Deus lhe enviava. Suas cruzes eram um regalo. Nunca comentava sobre seus sofrimentos
(enfermidades) que eram muitos.
À mortificação exterior superava a interior; essa
vitória contra si própria que ela dissimulava com seu perene sorriso. Ninguém adivinhava que ela estava
constantemente vigilante sobre suas paixões; porque tudo o fazia com grande naturalidade, sem sobressaltos, sem por em perigo sua inata longanimidade e
equilíbrio emocional.
APOSTOLADO. - Josefa foi
uma apóstola de seu tempo, alma entregue
a Deus ao serviço das jovens, especialmente
aquelas de pobre condição social. Seu espírito observador captou as carências
das jovens, profundamente influenciadas pelo ambiente de seu século (Nota: não
estaríamos vivendo agora a mesma realidade?). Não foi a única na Igreja de seu
tempo nesta luta por levar a salvação de Cristo às jovens mais necessitadas,
porém foi uma das que com maior dedicação, com mais ardor, com mais calor
humano se dedicou a esse trabalho apostólico, desde sua pequenez de virgem
secular, desde sua humilde condição de professora de bordado, desde suas
profundas convicções religiosas, sobre tudo, desde seu ardente amor pelas almas
remidas por Cristo!
Ela se antecipou ao Concílio Vaticano II, vivendo
sua condição de secular no meio do mundo, para o serviço de Deus, em obras concretas de apostolado.
Entregou-se ao apostolado dos humildes num século em que a classe trabalhadora
irrompe na história para defender seus interesses materiais, ainda que a custa
de afastar-se do que ensina a Igreja, com a delicadeza de uma mulher que, desde
sua entrega a Deus, se fez toda para todos, para levá-los todos a Cristo (à
imitação do Apóstolo S. Paulo). Quando Josefa completava os trintas anos de
idade, seu confessor reflexiona largamente sobre os planos apostólicos de sua
dirigida e aprova a criação daquela escola-oficina (ou ateliê) como “Coisa de
Deus!”. Aquela casa onde ela foi viver desde os treze anos produziu fervorosas
religiosas, abnegadas esposas, mães de família e jovens praticantes, de vida
secular consagrada. À casa que herdou de sua avó acudiam as jovens,
atraídas pelo zelo ardente de sua mestra, por sua fé vivíssima, por seu
espírito de amor provado no sacrifício, por seu otimismo, por sua alegria..., e
pelo alimento espiritual que lhes proporcionava. Tudo por seu amor a Deus, tudo
por seu ardente amor pelas almas.
A jornada diária de Josefa acabava sendo muito
apertada: levantava muito cedo para participar da primeira Missa da paróquia,
comungava e praticava oração mental; a seguir dedicava algum tempo à limpeza; o
horário da escola-oficina era das 09 as 12 e das 14 às 18 horas.
Beata Josefa Naval Girbés: grande apóstola leiga em sua paróquia e diocese. |
Sua caridade,
para com o próximo, teve sempre objetivos espirituais. Assim, por exemplo:
empenhava-se para que os pais batizassem quanto antes a seus filhos
recém-nascidos; visitava aos enfermos que estavam em perigo de morte,
procurando que recebessem os últimos sacramentos; vestia ao desnudo com
delicadeza, trocando as vestes sujas e rasgadas dos mendigos por outras limpas,
lavando e remendando com exemplar caridade aos que deixavam. Sua casa foi, mais
de uma vez, asilo de órfãos. Por duas longas temporadas albergou crianças que
haviam perdido suas mães, cuidando delas com amor maternal.
Quando verdadeiramente brilhou a caridade de
Josefa, foi na epidemia de cólera de 1885, quando contava 65 anos. Ela e
algumas de suas alunas se dedicaram a atender aos empestados que estavam
sozinhos e, portanto, os mais necessitados de ajuda.
Sua caridade se estendia às coisas e atividades
aparentemente pequenas tais como: escutar com paciência e interesse as
confidências que lhe faziam as pessoas desesperadas em busca de conselho. Era
muito respeitosa com a boa fama dos demais. Não tolerava em suas discípulas a menor
palavra de crítica, nem de murmuração. Lembrava-se das Almas do Purgatório,
rezando por elas e ensinando a suas alunas que fizessem o mesmo.
Unida intimamente a seu Divino Esposo, se cumpriu
nela o que Ele disse: “Quem permanecer em mim e eu nele, este dará muito fruto”
(Jo15, 5).
VIDA ESPIRITUAL
A vida espiritual de Josefa, tão plenamente
cultivada, não foi um horto fechado para seu deleite. Ela se comprometeu com a
necessidade de ir à conquista das almas, trabalhando por salvar tantas jovens
ameaçadas pelo estranho ambiente do século (do mundo). Parecia que Josefa havia
intuído aquela frase do Vaticano II, tão dura como importante: “há de ser
considerado como inútil o membro que não contribua, segundo sua própria capacidade,
para o aumento do Corpo Místico de Cristo” (AA,2). Ela entendeu, em seu tempo,
que em meio ao mundo, o secular tem de atuar como fermento e que, para ser
eficaz, é necessário viver unido a Cristo: “aquele que permanece em Mim e Eu
nele, este dá muito fruto, porque, sem Mim, nada podeis fazer” (João 15,5).
Uma de suas discípulas nos descreve o ambiente
sossegado de sua escola-oficina: “Naquela casa se respirava uma atmosfera de
fé, piedade e virtude cristã e, sobre tudo, de alegria e de caridade. Nossa mestra
inspirava devoção e recolhimento: vivia o espiritual com muita verdade e
simplicidade, e nos infundia desejos de sermos cada dia melhores”.
Durante as horas de aula, atendia em particular às
jovens que necessitavam de cuidado especial. Na habitação na qual ela praticava
sua oração e suas preces, recebia às jovens que ou a pediam ou aquelas que ela
chamava. Umas vezes eram jovenzinhas desejosas de que lhes ensinasse a praticar
oração mental; outras vezes, eram jovens maiores, as que ela ajudava a desvanecer
suas dúvidas e evitar prejuízos morais e espirituais, pelo que as deixava
cheias de paz e alegria!
Também acudiam a Josefa pessoas maiores, mais ou
menos crentes, e com prudência e tato orientava suas vidas, lhes dava uma
grande paz interior. Uma de suas recomendações, era a de ter um
confessor fixo, ter confiança nele e obedecer-lhe. Não faltaram as meninas
pequenas que eram enviadas por suas mães à escola-oficina, sendo beneficiadas
com suas carícias e suas lições elementares de catecismo.
As alunas mais seletas chegavam a permanecer,
terminada a jornada de trabalho, para prosseguir à sua formação espiritual, de
ordinário, no jardim da casa. Deste grupo escolhido saiu um amplo “jardim” de
jovens religiosas; tantas que o Cardeal Guisasola, Arcebispo de Valência, em
visita pastoral a Algemesi, perguntou cheio de admiração: “que povo é este que
tem tantas religiosas em todos os conventos de nossa arquidiocese?”.
Porém, Josefa não descuidou das jovens com vocação
para o matrimônio. A elas dedicou tempo e esforço. De sua escola saíram
excelentes esposas e mães de família. A “Escola Dominical”, aos domingos à
tarde, depois dos cultos vespertinos da paróquia, foi outra oficina na qual se
forjavam as almas no amor de Deus! Deixemos que uma de suas alunas nos descreva
o ambiente daquelas reuniões às tardes de domingo: “a casa de nossa mestra era
uma casa de oração. Sua conversação era sobre coisas espirituais, alentando-nos
a seguir, perfeitamente, nossa vocação. Depois de falar um pouco com ela, se
saía dali sem gosto pelas coisas do mundo. Suas palavras infundiam espírito de
amor pelas coisas do Céu. Levava-nos a Deus, por amor! Todas suas discípulas,
ainda que o Senhor as tenha chamado ao matrimônio, tem sido piedosas, levando
em suas almas a recordação eficaz de seus avisos. Dizia-nos: ‘haveis
de levar vossa cruz e cumprir o próprio dever como Deus manda: as solteiras,
como solteiras e as casadas, como casadas’”.
Quando Josefa tinha cinquenta e sete anos, o pai de
uma de suas alunas lhe ofereceu o “Horto da Torreta”, coberto de laranjais e
árvores frutíferas, para seu retiro e o de suas alunas. Ali se retirava com
suas discípulas prediletas, ao entardecer dos dias de primavera e verão. Ali,
enquanto anoitecia, empregava Josefa seus dons de catequista e de forjadora de
almas ansiosas de perfeição: “filhas minhas, imaginemo-nos que estamos aqui
como o Senhor, rodeado de seus apóstolos. Eu, em Seu nome, vos digo:
sede boas, fazei tudo por amor; tende muita caridade uma com as outras; vivei
com espírito de abnegação e sacrifício”.
Naqueles deliciosos entardeceres do “Horto da
Torreta”, ressoava límpida, como a água das fontes vizinhas, a voz da mestra: “Nossa
entrega a Deus há de excluir todo costume mundano; tudo aquilo que de alguma
maneira Lhe desagrada, como são: o apego às coisas ou pessoas que nos impedem
de cumprir a vontade divina; a vida dos sentidos que se opõem à perfeição que
Deus nos pede. A vida superficial, que busca o gosto próprio e agradar ao
mundo, não pode acompanhar-se com o verdadeiro amor”.
Josefa adestrava a suas alunas para a vida, era
como sua “mãe espiritual”. A ela acudiam atrás de conselhos e na hora de
escolher o estado de vida. Com aquela segurança que lhe conferia sua íntima
união com Deus, dizia a umas: “Vós, ao matrimônio”; e a outras: “Vós,
ao convento”.
Párocos e sacerdotes, filhos de Algemesi, com
discrição e prudência, acudiam a Josefa, com a qual tinham deliciosas
conversações de elevado alimento espiritual. Estas visitas de sacerdotes
qualificados aumentava, em suas alunas, a admiração e o respeito que tinham por
sua mestra.
Muito ajudou a formar a Josefa a gratificante ação
de seus diretores espirituais. Em seu tempo teve a sorte de coincidir com
sábios, santos e experientes párocos, que puseram, a seu serviço, seus dotes de
guias de almas. Ela deu sempre muita importância à “direção espiritual”.
Digna filha de Santa Teresa, a recomendou vivamente
a suas amadas alunas: “sede simples a dar conta ao diretor; obedecei-lhe com
fidelidade e perseverança; proibido falar mal de confessores...”. Quando um
de seus diretores espirituais foi transferido ao povoado de Alcira, Josefa
acudia a sua direção a cada duas ou três semanas, durante seis anos,
percorrendo a pé a distância, às mais das vezes acompanhada de alguma de suas
discípulas, com as quais entretinha entranhadas conversações espirituais.
Lutou, com denodo, contra a tibieza, nunca se
contentou com um vida espiritual lânguida; sua intransigência para o mal tinha
conotações humanas: sem chegar a ser áspera em seus modos, ao contrário, era de
elegante e solene caráter, com uma grande capacidade de comando que ela
administrou em favor de suas amadas alunas.
Ela viveu à vizinhança do homem e, nela, o caminho
de sua perfeição. Seu convento foi a casa de sua avó, onde viveu até à morte de
sua mãe; a campana do convento, a voz da superiora, a vida de comunidade, as
regras monásticas que asseguram o bom caminho... Todo esse modo de vida
conventual o resumiu sabiamente Josefa ao ser fiel à vontade de Deus, explorada
na oração e na prudente consulta a seus diretores espirituais. Josefa
permaneceu no mundo, para ser exemplo de santidade para os seculares.
VIDA MARIANA
Josefa aprendeu a amar à Virgem Maria, desde
menina, no altar do Rosário do convento dos Padres Dominicanos. Seu amor se
fazia patente nestas e noutras referências: “Maria, minha Mãe, ensina-me a
ser fiel e a agradar a Deus”. “Virgem Maria, minha Mãe, faz-me pura, casta, boa
e santa”. Acuda-nos a Santíssima Virgem, para que nos ensine e os ajude a ser
fiéis a Deus”.
Amante da pureza, que ela havia vivido sempre em
plenitude, recomendava às jovens: “Sede limpas, asseadas no modo de vestir,
sede muito honestas como a Virgem. Todas as virtudes embelezam a alma,
porém, a pureza a embeleza de um modo especial, fazendo-a semelhante aos
anjos”.
A fé de Josefa se traduzia em uma acendrada devoção
à Virgem. Em prova de sua entrega filial à Senhora, ela levou em sua morte o
Escapulário do Carmo e um Rosário em forma de colar. O Ângelus, que assinalava
ao meio dia o sino da paróquia, era rezado por todas as alunas, assim como a
Ave Maria a cada hora e aos sábados a “Felicitação Sabatina”.
Preparava e celebrava com fervor as solenidades da
Virgem. O mês de maio, em honra da Virgem, se celebrava na escola-oficina com
orações, cantos e oferecimento de flores. Com que alegria celebrou Josefa a
declaração dogmática da Concepção Imaculada de Maria! Para recordar tão grato
acontecimento, impulsionou a criação da “Corte de Maria” em Algemesi.
Como Carmelita Secular, Josefa tinha uma especial
devoção à Santíssima Virgem do Carmo, como tal, em repetidas ocasiões pediu a
suas discípulas que, à sua morte, a vestissem com o hábito do Carmo, desejo que
se cumpriu fielmente. Esta filiação Mariana a soube transmitir às suas alunas;
bastem-nos estes testemunhos: em uma das casas de Algemesi se conserva um
grande quadro da Virgem do Carmo, bordado em ouro e seda pela senhora Vicenta
Morán através da direção da “Senhora Pêpa”, como era conhecida Josefa em sua
terra natal no ano em que morreu nossa Beata. Outro feito mencionado por seu
biógrafo relata que, às vésperas de uma das festas da Virgem do Carmo, a uma
das discípulas prediletas de Josefa, que se encontrava moribunda, se lhe ouviu
invocar à Rainha do Carmelo com estas palavras: “Minha Mãe do Carmo, vem por
mim”, e ele mesmo comenta, “feliz alma que assimilou perfeitamente a doutrina e
o espírito de sua santa mestra”.
VIDA FRATERNA
Viver, em plenitude, o amor a Deus e, verificar
esse amor na acolhida ao próximo, foi norma de sua conduta. Deste amor, brotou
seu zelo pelas almas e seu afã por ensinar-lhes este modo de pensar e viver.
Tinha muito talento natural e, muita luz e graça de
Deus. A isto uniam um grande coração de mãe, que ardia em amor pelas almas que
queria salvar. Tudo isso motivava o grande amor, a obediência e a fidelidade
que sentiam por ela suas discípulas.
Josefa penetrava o interior das almas, se adiantava
ao que queriam dizer-lhe, lia em seus corações; estas qualidades lhe deram um
grande prestígio e autoridade em seu povo, fazendo com que todos a quisessem
bem, a respeitassem e obedecessem.
Para atrair as almas, primeiro tratava-as com
doçura e amabilidade, porém, quando as conquistava, as estimulava,
energicamente, para que não se contentassem com pouco, se podiam fazer mais,
para servir melhor a Deus e ao próximo. O modo de falar de Josefa era simples,
modesto e humilde, começava a falar sempre dizendo: “Filhas minhas...”. Não
havia nela ar de suficiência, nem se engrandecia ao ver quantas pessoas acudiam
a ela em busca de conselho, por sua fama de prudência e santidade. Ademais, ao
pregar às suas discípulas, o fazia com tal fogo e espírito, que nos disse uma
delas: “Quando nos falava de Deus, tinha muita unção, se emocionava e
lhe saíam lágrimas”.
O que ela havia semeado produziu muitos frutos,
especialmente manifestos durante seus últimos dias nesta terra. Quinze dias,
esteve na cama em fevereiro de 1893; pressentindo aproximar-se a hora de sua
morte, no dia 22 (de fevereiro) mandou trazer seu confessor. No dia 23 recebeu
os últimos sacramentos. Suas discípulas chegavam à casa: todas queriam vê-la
morrer. Com aquela lucidez que Deus lhe concedeu até sua morte, Josefa lhes dizia:
“Filhas minhas, filhas de meu coração: que nenhuma me falte lá no Céu.
Depois de minha morte, abandonareis o caminho empreendido?... Sempre adiante,
nunca para trás!... E continuava lenta, pausadamente, com os olhos apenas
abertos: “Filhas minhas: permanecei muito unidas, como os apóstolos”. Assim
como as brasas que estão muito unidas, conservam o fogo, e as que estão
separadas prontamente se apagam, assim vós, se permaneceis unidas, falando das
coisas de Deus, conservareis o fogo do fervor; porém, se vos separais e deixais
de tratar estas coisas do espírito, o fogo se apagará... Eu me vou; porém
espero que persevereis no gênero de vida que haveis aprendido”.
No dia 24 entrou Josefa nesse tranquilo torpor que
precede à morte, todo o dia com os olhos fechados, estava recolhida, como em
êxtase, porém falava com um fio de voz quase imperceptível, pedindo que
rezassem com ela jaculatórias e outras orações, repetindo ação de graças e que
consolo elas lhe estavam dado! Pela noite, na hora de morrer, abriu os olhos e,
com voz fraca, porém perceptível, perguntou: “estais todas?”. E
acrescentou: “minhas filhas, vou deixá-las!”. E insistiu: “estai
unidas, sede fervorosas, sacrificai-vos por Nosso Senhor”. Fez um esforço,
o coração lhe atraiçoava, olhou pela última vez às suas discípulas e, com voz
apagada, lhes disse: “filhas minhas, filhas de minha alma...” e expirou.
Eram 20 horas e 30 minutos do dia 24 de fevereiro de 1893.
Beata Josefa Naval Girbés: seu corpo conserva-se incorrupto. |
CONCLUSÃO
Josefa Naval Girbés, virgem, porém secular no
mundo, abre novos caminhos à santidade da maior parte dos membros da Igreja,
que vivem a secularidade. Importante é a vida consagrada, porém a santidade,
feita de amor a Deus e de amor ao próximo, não fica apenas guardada no convento
ou no sacerdócio. Josefa, virgem, porém secular, é um exemplo!
Ela viveu e morreu no mundo, deixando atrás de si
um caminho de luz que seque iluminando àqueles que, na secularidade, buscam a
perfeição cristã. Seu mundo, o agitado século XIX, sua casa, sua oficina de
trabalho, sua catequese, seus círculos de formação de mulheres, suas obras de
caridade, eram seu convento! Dali, ela irradiava amor, amor que alimentava com
uma intensa vida interior, cultivada com esmero e tensão, porém nunca perdeu o
contato com as pessoas. Vivia entre o povo, atenta às suas necessidades, que
fazia suas, ajudando a remedia-las, através dessa proximidade que sua condição
de secular propiciava.
Exemplo e palavra! Com que claridade viu Josefa o
agir do cristão secular, fermento das estruturas sociais, segura de que, com
sua maneira de viver, e com procedimentos de apostolado, percorria o caminho
traçado para uma cristã secular em vista de sua santificação pessoal e a
dos demais!
Bem-Aventurada Josefa Naval Girbés, rogai por nós!
(Traduzido
do espanhol por Giovani Carvalho Mendes, ocds).
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