Beata Elisabete, Esposa, Mãe de família, Terciária Trinitariana e Mística. |
Elizabete
Canori é filha de Tomás Canori, grande proprietário de terras romano, e de
Teresa Primoli, aistocrática dama da Cidade dos Papas. Nasceu no dia 21 de
novembro de 1774; recebeu esmerada educação familiar.
Um alto prelado conhecendo os problemas
econômicos e a qualidade espiritual da família Canori, propôs colocar Elizabete
e a irmã mais nova, Benedita, no mosteiro das Oblatas de São Felipe,
encarregando-se de todas as despesas. Mas somente Benedita aceitou; Elizabete
permaneceu junto à família.
Em 10 de janeiro de 1796, desposou um
jovem advogado, Cristóvão Mora, filho de um rico médico da mesma Roma. Do casal
nasceram quatro filhas, duas das quais morreram com pouca idade: Mariana nasceu
em 1799 e Maria Lucina em 1801.
Tudo augurava ao novo matrimônio um
brilhante futuro. Mas a tragédia veio logo. O marido arruinou a família e
abandonou o lar, seduzido por uma mulher de má vida. Foi preso pela polícia
pontifícia, primeiro num cárcere, depois num convento. Jurou mudar de vida, mas
após retornar ao seu lar, tentou repetidas vezes assassinar sua esposa
Elizabete. Ela foi de uma fidelidade heroica, oferecendo pelo marido enormes
sacrifícios. E profetizou que ele acabaria morrendo sacerdote.
Quando abandonada pelo esposo,
incompreendida pelos familiares, Elizabete teria caído na miséria se
benfeitores compassivos não a tivessem auxiliado. Entre eles encontravam-se
Prelados romanos, que narraram ao Papa Pio VII os seus méritos. O Pontífice,
beneficiado pelas orações e sacrifícios dela, concedeu privilégios pouco comuns
à capela privada da sua humilde casa.
Elizabete: exemplo de esposa abnegada e mãe de família exemplar e dedicada. |
Tendo que ganhar o sustento da família com
seu trabalho, Elizabete não descuidava dos mais pobres. Sua casa tornou-se
ponto de referência e muitos a procuravam para solucionar dificuldades
espirituais e materiais.
Ela conheceu e aprofundou a
espiritualidade dos Trinitários e abraçou a sua ordem secular, correspondendo
com dedicação à vocação familiar e de consagração secular.
Depois de uma vida toda dedicada à
conversão do esposo, de dedicação ao Papado, à Santa Igreja e à sua cidade,
Roma, a Bem-aventurada faleceu em 05 de fevereiro de 1825. Após seu
falecimento, Cristóvão caiu em si e fez-se religioso, levando exemplar vida de
penitência. Foi ordenado sacerdote e morreu rodeado de grande consideração.
A causa de sua beatificação foi
introduzida em 1874, durante o pontificado do Bem-aventurado Pio IX. O decreto
de heroicidade de virtudes foi concedido em 1928; Elizabete Canori Mora foi
beatificada em 24 de abril de 1994 por João Paulo II.
Visões e Revelações
Além de todas as suas virtudes, a Beata
Elizabete Canori Mori nos legou uma extraordinária narração dos favores
místicos com que foi agraciada pela Providência. As visões e revelações
contidas em um diário no qual ela anotava as mensagens celestes são proféticas
e seriam endossadas, anos mais tarde, pelas aparições de Nossa Senhora em La
Salette, França, e em Fátima, Portugal.
Por brevidade, somente reproduziremos as
mais importantes, se é que podemos analisar assim mensagens celestes, mas aos
que se interessarem por maiores detalhes, indicamos a revista Catolicismo de
maio de 2002, de onde tiramos alguns trechos que seguem.
No Natal de 1813, a Beata foi arrebatada a
um local inundado de luz, onde inúmeros santos rodeavam um humilde presépio.
Nele, o Menino Jesus chamava-a docemente. A própria Elizabete descreve sem
preocupações literárias a surpresa que teve:
Estampa de Jesus agrilhoado (Ecce Homo) com o
escapulário os trinitários, que era venerada
pela beata Elizabete.
|
"Só de pensar, me causa horror. [...]
Vi o meu amado Jesus recém-nascido banhado no seu próprio sangue [...], nesse
momento compreendi por via intelectual qual era a razão de tanto derramamento
de sangue do Divino Infante apenas nascido. [...] A má conduta de muitos
sacerdotes seculares e regulares, de muitas religiosas que não se comportam
segundo o seu estado, a má educação que é dada aos filhos por parte dos pais e
mães, como também por aqueles a quem incumbe uma obrigação similar. Estas são
as pessoas por cujo bom exemplo deve aumentar o espírito do Senhor no coração
dos outros. Mas eles, pelo contrário, apenas nasce [o espírito de Nosso Senhor]
no coração das crianças, fazem-lhe uma perseguição mortal com sua má conduta e
maus ensinamentos".
Beata Elisabete em oração diante da estampa de Jesus agrilhoado. |
Deus foi-lhe revelando o lamentável agir
de certos setores eclesiásticos que atraíam a cólera divina, acumpliciados com
a Revolução que derrubava tronos e seculares costumes cristãos na ordem
temporal. Tais visões patenteiam, um século antes das revelações na Cova da
Iria, que o mal já se infiltrara na Igreja e na sociedade civil. Vê-se bem que
em Fátima Nossa Senhora fez uma advertência final para esse mal, que progredia
apesar de todos os avisos em sentido contrário.
Em 22 de maio de 1814, enquanto rezava
pelo Santo Padre, "vi-o viajando rodeado de lobos que faziam complôs para
atraiçoá-lo". A visão repetiu-se nos dias 2 e 5 de junho. Nesta última,
narra a vidente: "Vi o sinédrio de lobos que circundavam [o Papa Pio VII,
então reinante] e dois anjos que choravam. Uma santa ousadia me inspirava a
lhes perguntar a razão da sua tristeza e do pranto. Eles, contemplando a cidade
de Roma com olhos cheios de compaixão, disseram o seguinte: ‘Cidade miserável,
povo ingrato, a Justiça de Deus castigar-te-á'”.
Em 16 de janeiro de 1815, o que mais a
impressionou foi ver Deus indignado. Num local altíssimo e solitário, viu Deus
representado por "um gigante forte e irado até o extremo contra aqueles
que O perseguiam. Suas mãos onipotentes estavam cheias de raios, o seu rosto
estava repleto de indignação: só o seu olhar bastava para incinerar o mundo
inteiro. Não tinha nem anjos nem santos que o circundassem, mas somente a Sua
indignação circundava-o por todas partes".
Tal visão durou apenas um instante.
Segundo Elizabete, "se tivesse durado mais um momento, certamente eu teria
morrido". A descrição acima lembra a visão do inferno apresentada a Lúcia,
Francisco e Jacinta. Entre ambas as visões há uma correlação profunda. Enquanto
Deus manifestou à Beata sua justa indignação pelas ofensas que sofre, Nossa
Senhora em Fátima apontou o destino das almas que ofendem a Deus e morrem
impenitentes.
Na visão de 29 de junho de 1820, após as
purificadoras punições descritas, a Beata Elizabete viu São Pedro retornar do
Céu num majestoso trono pontifical. Logo a seguir, desceu com grande pompa o
Apóstolo São Paulo. Ele "percorria todo o mundo e algemava aqueles
malignos espíritos infernais, e os conduzia diante do Santo Apóstolo São Pedro,
o qual, com uma ordem cheia de autoridade, voltava a confiná-los nas tenebrosas
cavernas das quais tinham saído [...]. Nesse momento viu-se aparecer sobre a
terra um belo resplendor, que anunciava a reconciliação de Deus com os
homens".
A pequena grei dos católicos fiéis,
refugiada sob as árvores com forma de Cruz, foi então conduzida aos pés do
trono de São Pedro. "O santo escolheu o novo Pontífice — acrescenta a
vidente —, toda a Igreja foi reordenada segundo os verdadeiros ditames do Santo
Evangelho; foram restabelecidas as ordens religiosas, e todas as casas dos
cristãos tornaram-se outras tantas casas penetradas de religião; tão grande era
o fervor e o zelo pela glória de Deus, que tudo era ordenado em função do amor
de Deus e do próximo. Desta maneira tomou corpo num momento o triunfo, a glória
e a honra da Igreja Católica: Ela era aclamada por todos, estimada por todos,
venerada por todos, todos decidiram segui-la, reconhecendo o Vigário de Cristo,
o Sumo Pontífice".
Deus lhe fez ver várias vezes uma
esplendorosa nave nova, símbolo da Igreja restaurada, que estava sendo armada
pelos anjos. Também, em 10 de janeiro de 1824, mostrou-lhe o principal
obstáculo para a conclusão dessa nave. Ela viu cinco árvores de desmesurado
tamanho: "Observei que essas cinco árvores com suas raízes alimentavam e
produziam um emaranhadíssimo bosque de milhões de plantas estéreis e
selváticas". Deus lhe fez entender que essas cinco enigmáticas árvores
simbolizavam "as cinco heresias que infeccionam o mundo nos nossos
tempos".
A Beata Elizabete faleceu quase um século
antes da manifestação de Nossa Senhora em Fátima. Mas suas visões e revelações,
das quais demos algumas amostras, patenteiam o grandioso desígnio divino que
sobrepaira a História e mostram que o plano do Reino de Maria, como profetizado
em Fátima, é como um imenso palácio que a Divina Providência vem preparando há
séculos e que quando finalizado ultrapassará toda expectativa. E elas nos
mantêm firmes na certeza de que a promessa de Nossa Senhora se cumprirá: "Por fim, o meu Imaculado Coração
triunfará”!
(Fonte: blog "Heroínas da Cristandade")
Nenhum comentário:
Postar um comentário