Santa Catarina,
uma das maiores Santas da Idade Moderna, nasceu em Florença, de família
ilustríssima. Deus infundira no coração da criança um grande amor a oração e
outras práticas de piedade, amor este que a levou ao desprezo de tudo que é do
mundo. Com sete anos de idade foi confiada às religiosas do convento de
Monticelli. Uma vez em contato íntimo com a vida religiosa, tanto se lhe
afeiçoou, que, mais tarde, quando teve de voltar ao lar paterno, no meio dos
trabalhos domésticos conservou os costumes do convento.
Bem a contragosto da jovem, o pai tratou de
ligá-la pelos laços matrimoniais a um moço distinto de suas relações. Tantas
foram as insistências da filha, que afinal desistiram do plano, consentindo que
tomasse o hábito da Ordem dominicana, no convento de Prado, na Toscana. Catarina
tinha apenas quatorze anos.
Tendo operado a
separação definitiva do mundo, Catarina não só sentiu a alma invadida da mais
pura alegria, como tratou, desde o primeiro instante, de adquirir as virtudes
de religiosa perfeita. A bula da canonização confirma que sua vida no noviciado
foi de uma santidade angélica. Admirável era sua humildade, que a fazia não
recuar diante dos trabalhos mais humildes de casa, ficando-lhe o espírito
sempre unido a Deus. Tendo apenas 25 anos de idade, foi eleita superiora, cargo
que ocupou até a morte, contribuindo assim para maior satisfação das Irmãs,
para as quais era uma verdadeira mãe. Governava pelo bom exemplo na prática de
todas as virtudes, conseguindo assim que na comunidade reinasse sempre ótimo
espírito, e as religiosas se esforçavam a seguir o exemplo da superiora.
Tomara para
exemplo o modelo Jesus Crucificado, a quem dedicava o mais terno amor. A
Sagrada Paixão e Morte de Jesus estava-lhe sempre diante dos olhos, e os lábios
pronunciavam constantemente jaculatórias e saudações ao bem amado na Cruz, cuja
meditação era, por assim dizer, o pão de cada dia da Santa. O maior desejo
consistia-lhe em poder participar dos sofrimentos de Jesus Cristo e sentir no
corpo o que Ele sentiu nas três horas de agonia.
Sempre que nas
quintas-feiras de tarde começava a meditação da Sagrada Paixão e Morte de
Jesus, entrava em êxtase, permanecendo neste estado até o dia seguinte. Era
nestas ocasiões que sua alma via a Sagrada Paixão e Morte de Jesus em todos os
pormenores, tomando parte mais ou menos ativa no grande sofrimento do divino
Mestre. Além destes sofrimentos místicos, Deus mandou-lhes outros em forma de
doenças graves e dolorosas. Em vez de lhe diminuírem a fé, aumentavam-na, e na
santa Comunhão encontrava a graça e força divinas, para levar a cruz com
merecimento.
As Irmãs
observaram muitas vezes que Catarina, tendo recebido a santa Comunhão, parecia
rodeada de luz celestial, e o corpo elevava-se acima do leito. Inimiga do
próprio corpo, castigava-o com duras mortificações, quanto às Irmãs dedicava as
maiores atenções, vendo-as sofrer qualquer coisa. Durante 48 anos não se
alimentava senão de pão e água concedendo ao corpo um repouso noturno de três
horas apenas. Tanto mais é para admirar este espírito de penitência, sabendo-se
que a santa nunca cometera um pecado mortal.
Grandes e
extraordinárias foram também as graças, de que Deus cumulou sua serva. Catarina
possuía o dom da profecia, do conhecimento de coisas ocultas, da cura de
doenças e da multiplicação de mantimentos em favor dos pobres.
Maria Santíssima
dignou-se de aparecer à serva de Deus e reclinou-lhe nos braços o Menino Jesus
Cristo, que a consolava com dulcíssimos colóquios, e lhe imprimiu os sinais das
chagas nas mãos, nos pés e no lado. Célebre é a visão de Jesus Cristo
Crucificado, o qual desprendeu a mão da Cruz e a abraçou ternamente.
Em outra visão lhe ofereceu um anel, em sinal
de sua união mística. (O Papa Bento XIV menciona na bula de canonização todos
estes fatos extraordinários. O sábio e esclarecido Papa não o teria feito, se,
após sério estudo, não tivesse certeza da autenticidade dos mesmos). Catarina,
porém, permaneceu humilde, procurando ocultar perante os homens todas as provas
de predileção divina.
Tendo tido
notícia de que uma das irmãs havia tomado nota do que de extraordinário e
louvável lhe ocorrera na vida, deu ordem para que tudo fosse entregue às
chamas. Contudo não lhe era possível impedir que a fama de sua santidade se
divulgasse dia por dia. De toda a parte vinham pessoas, entre as quais algumas
de alta colocação social e política, ouvir seus conselhos e pedir-lhe intercessão
junto a Deus. Sendo-lhe insuportável isto, pediu a Deus que restringisse os
benefícios ou, que pelo menos não os manifestasse aos homens. Também este
pedido teve acolhimento.
Deus permitiu que a fama se transformasse em desprezo,
e que Catarina por muitos fosse taxada de impostora e hipócrita. Esta provação
Catarina a suportou com maior indiferença e uma paciência admirável.
Conhecedores da vida religiosa dizem que a santidade de Catarina mais se
manifestou e brilhou nos dias tristíssimos da difamação e calúnia, do que na
época das profecias e grandes milagres. São Felipe Neri, contemporâneo de
Catarina, tinha em grande consideração a serva de Deus, com a qual mantinha
viva correspondência. Ele mesmo diz que, por uma graça excepcional de Deus,
teve a visão da Santa, com a qual se deteve demoradamente.
Pelo fim da vida, Catarina foi acometida de
doenças gravíssimas e dolorosas. Se a Sagrada Paixão e Morte de Jesus lhe era
sempre a meditação predileta, muito mais no momento em que a alma se lhe
preparava para as núpcias eternas. Com muita devoção recebeu os últimos
Sacramentos, segurando sempre nas mãos a imagem do Crucifixo. Na hora da morte
abriu os braços em cruz, e nesta posição entregou o espírito a Deus. As Irmãs
que se achavam presentes, ouviram distintamente uma música de harmonias
celestiais e Santa Madalena de Pazzi, que se achava em Florença, viu numa visão
a alma de Catarina fazer a entrada triunfal no céu, acompanhada de grande
multidão de Anjos.
Catarina morreu
aos 11 de fevereiro de 1590, tendo sido canonizada em 1746, pontificado de Bento
XIV.
Reflexões:
Devoção
terníssima a Jesus Crucificado caracterizava a vida de Santa Catarina. Por seu
amor desejava sofrer. Nas dores era o olhar para o Crucifixo seu consolo e
conforto. Não mereces o nome de cristão, se não tiveres muita devoção à Sagrada
Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se não sentes desejo nenhum de
sofrer por Jesus, ao menos aceita com paciência a cruz, que Deus te deu.
Oxalá não
pertenças ao número daqueles de que diz Didaco Stela: “Muitos há que da Sagrada
Paixão e Morte de Cristo só se lembram dela quando veem diante de si a morte.
Então é que se agarram à imagem do Crucificado, de quem durante a vida toda não
tiveram lembrança”. Ler maus livros, passar noites inteiras na banca do jogo,
levar ao colo um animal, a que se dispensa mil carinhos e atenções, tudo isto
lhes parece muito mais útil e importante do que tomar um Crucifixo e osculá-lo
reverentemente. Para que não te aconteça que, na hora da morte, a imagem do
Crucificado desperte em tua alma mais remorsos e temor, do que amor e
confiança, acostuma-te desde já a te ocupar muitas vezes com o doce mistério do
amor, que se revelou no monte Calvário.
Santa Catarina
dava ao corpo um tratamento de inimigo. Obrigava-o a jejuar, a fazer penitência
de toda a sorte, privava-o de divertimentos, tirava-lhe o repouso e expunha-o
aos rigores do calor e do frio. Tu, pelo contrário, vês no corpo teu melhor
amigo, a quem dispensas as maiores atenções, muitas vezes até a custa da alma.
Não te vem, de vez em quando a lembrança de proporcionar-lhe um salutar castigo
? Parece que o bem-estar do corpo é o fim principal para que foste criado.
Ainda assim achas ser coisa a mais natural receber um dia a glória no céu,
quando Santa Catarina considerava a eterna bem-aventurança o prêmio de muitas
penitências. Como Santa Catarina opinam os maiores Santos. Com os Santos no céu
viverá quem, com eles na terra, levou uma vida de abnegação e penitência.
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