O beato padre Miguel Sopocko, confessor e diretor espiritual da
irmã Faustina, por intermédio dela esteve diretamente ligado com o mistério das
revelações de Jesus Misericordioso. Deus lhe confiou um papel extremamente
importante – que foi a realização das exigências de Jesus Cristo transmitidas à
Santa irmã Faustina. A essa causa ele dedicou quase toda a sua vida.
Miguel Sopocko
nasceu numa família nobre no dia 1 de novembro de 1888, em Nowosady, na
Lituânia. Desde os anos da infância foi educado num ambiente de profunda
religiosidade e tradição patriótica. Apesar das difíceis condições
existenciais, os pais se preocuparam com a sua educação fundamental. As
difíceis condições de vida da família Sopocko, o pesado trabalho no campo, a
necessidade de uma permanente luta pela subsistência familiar constituíam para
os seus membros uma escola de vida e de caráter. A sadia moral dos pais, a sua
profunda piedade e amor para com os filhos contribuíram para o adequado
desenvolvimento espiritual de Miguel e de seus irmãos.
Na família,
faziam parte da prática regular as orações diárias no lar e a participação das
celebrações na igreja paroquial, a 18 quilômetros de distância, para a qual
viajavam de carruagem. A atmosfera religiosa presente na casa dos Sopocko
despertou nele, desde a infância, uma ardente piedade e o desejo de dedicar-se
ao serviço de Deus no sacerdócio.
Em 1910 Miguel
Sopocko iniciou os estudos no seminário, que duraram quatro anos. Não podia
contar com a ajuda material da família, e foi apenas em razão de uma ajuda que
lhe foi oferecida pelo reitor que pôde continuar os estudos. No dia 15 de junho
de 1914 foi ordenado sacerdote.
Os primeiros anos do ministério sacerdotal em Vilna
Após a ordenação
sacerdotal, o pe. Sopocko foi encaminhado para trabalhar na paróquia de
Taboryszki, perto de Vilna, com a função de vigário. Nesse trabalho as tarefas
a ele atribuídas não o sobrecarregavam. Por isso pediu que lhe fosse permitido
promover a catequese dominical com os jovens. O primeiro ano do seu trabalho
pastoral foi coroado com a solene primeira Confissão e Comunhão, das quais
participaram cerca de 500 crianças.
No verão de
1915, passou por Taboryszki a frente de guerra russo-alemã. Apesar das ameaças
resultantes das operações bélicas, o pe. Sopocko celebrou os serviços
religiosos programados para esse período, bem como participou da vida dos
paroquianos. Durante a sua estada em Taboryszki, o pe. Sopocko também
desenvolveu atividade no campo cultural. Nas escolas da vizinhança ele abria
novas escolas para as crianças. Com o tempo isso se tornou motivo de
perseguição da parte das autoridades de ocupação, que no início se mostraram
muito tolerantes diante da sua atividade e até a apoiavam materialmente. No
entanto, com o decorrer do tempo esse relacionamento piorou, e finalmente as
autoridades alemãs começaram a dificultar as viagens do pe. Sopocko a Vilna com
o objetivo de trazer professores para as escolas que estavam sendo abertas.
Dessa forma forçaram o pe. Miguel a deixar Taboryszki.
Em 1918 o pe.
Miguel obteve das autoridades eclesiásticas em Vilna a autorização para viajar
a Varsóvia, onde se matriculou na Faculdade de Teologia da universidade local.
O início dos estudos foi impossibilitado por uma doença (ele contraiu tifo
abdominal e por algumas semanas teve de permanecer hospitalizado) e pelas
mudanças políticas que na época ocorriam na Polônia. Após o tratamento o pe.
Sopocko voltou a Varsóvia para iniciar os estudos, mas então ocorreu que a
universidade foi fechada, em razão da guerra no leste, que irrompeu logo após a
proclamação da independência. por isso apresentou-se como voluntário para
trabalhar na pastoral militar. O bispo campal do exército polonês nomeou-o
capelão militar e encaminhou-o para o ministério pastoral no Hospital Campal,
que na época estava sendo organizado em Varsóvia.
Passado um mês,
pediu para ser enviado à frente de guerra. Obteve do bispo campal a
transferência ao Regimento de Vilna, onde imediatamente se envolveu no trabalho
pastoral entre os soldados que participavam da guerra. Entre as suas obrigações
estava a celebração de missas e serviços religiosos e o atendimento de
confissões, de que participavam muitos soldados. Também proporcionava ajuda aos
feridos, que em razão da falta de um hospital encontravam-se em situação muito
difícil.
Após longas
marchas com o exército, o pe. Sopocko começou a ter problemas de saúde.
Em razão disso
foi encaminhado para tratamento no hospital militar, onde durante o período de
algumas semanas de recuperação ajudou na assistência espiritual aos doentes.
Após o término do tratamento, foram-lhe atribuídas as funções de capelão
militar no Campo de Treinamento para oficiais em Varsóvia.
Faziam parte das
suas obrigações palestras semanais sobre religião e moral para os oficiais e
suboficiais de diversas formações, bem como a assistência religiosa em dois
hospitais militares.
O Padre Sopocko como capelão militar da Escola de
Oficiais em Powazki
Durante os
cursos que promovia, abordava questões de dogma e da história da Igreja. Promovia o ensino do catecismo e abordava
temas atuais relacionados com o serviço militar. A problemática religiosa e
moral, por ele abordada nos cursos, foi avaliada positivamente pelos
superiores. O Ministério da Guerra publicou essas preleções, obrigando os
oficiais a transmitir o seu conteúdo aos recrutas em todos os destacamentos.
Em outubro de
1919, apesar da continuidade da guerra, reiniciaram-se as atividades da
universidade. O pe. Sopocko matriculou-se no curso de teologia moral e em aulas
de direito e filosofia. Além disso, dedicou-se ainda à organização da atividade
social. Cuidava do funcionamento da Ajuda Fraterna Militar (da qual era
presidente), do albergue militar e de uma escola militar para órfãos de
famílias de militares.
No verão de 1920
o pe. Sopocko foi testemunha do rompimento da frente de guerra e logo depois,
já em Varsóvia, vivenciou a heroica defesa da cidade e a vitória contra a
ofensiva soviética. Anos depois, em suas Memórias, ele comentaria esse
acontecimento como uma extraordinária obra da Divina providência e sinal de
Divina misericórdia para a Polônia, alcançada pelas orações dos fiéis, que no
mês de agosto acorriam em multidões às igrejas.
Cumprindo as
funções de capelão militar e estudando no curso de teologia moral, o pe.
Sopocko envolveu-se ainda em estudos adicionais no Instituto Superior de
Pedagogia. Em 1923 obteve o título de mestre em teologia e dedicou-se mais à
área da pedagogia. O resultado das suas pesquisas relacionadas com a influência
do álcool sobre o desenvolvimento intelectual dos jovens serviu de base para
escrever o seu trabalho de pós-graduação intitulado "O alcooolismo e a
juventude escolar", que coroou os seus estudos no Instituto de Pedagogia.
O bispo de
Vilna, Dom Jorge Matulewicz, conhecendo os méritos e as realizações do pe.
Sopocko, bem como informado a respeito da preparação teológica e pedagógica do
padre capelão, pretendia envolvê-lo no trabalho em sua diocese. Inicialmente
queria confiar-lhe a organização da pastoral da juventude extraescolar. O padre
Miguel aceitou a proposta do bispo e decidiu voltar a Vilna.
A decisão formal
ocorreu no outono de 1924. Por força dela, o pe. Sopocko foi nomeado Diretor da
Região Militar da Pastoral em Vilna, que envolvia 12 unidades autônomas, contando
no total mais de 10 mil soldados. A transferência do Pe. Sopocko a Vilna era
uma promoção, mas ao mesmo tempo lhe impunha maiores tarefas e maior
responsabilidade. O pe. Sopocko e a conferência dos capelães militares
decidiram que, além da assistência sacramental, pelo menos uma vez a cada duas
semanas seriam realizadas em cada seção palestras religioso-morais. O trabalho
pastoral do pe. Sopocko como capelão militar contou com o reconhecimento do
marechal Józef Pilsudski.
O pe. Sopocko
assumiu também a tarefa que lhe havia sido confiada pelo bispo, a de organizar
a pastoral da juventude extraescolar. Para isso pediu a cooperação dos
professores e com a ajuda deles foi possível fundar algumas Associações da
Juventude Polonesa. Apesar das numerosas tarefas pastorais, o pe. Sopocko
continuou a distância os seus estudos de teologia, escrevendo a tese de
doutorado em teologia moral intitulada "A família e a legislação nas
terras polonesas".
Defendeu a sua
tese de doutorado no dia 1 de março de 1926. A dedicação à pesquisa científica
exigia o conhecimento de línguas estrangeiras, por isso estudava as línguas
alemã, francesa e inglesa. As catequeses e as conferências do capelão militar
pe. Sopocko apresentadas aos soldados em língua russa também despertavam um
grande interesse entre os fiéis. Após a obtenção do doutorado, pretendia
escrever uma outra dissertação, desta vez como requisito para a função de
professor.
Em 1927 e 1928,
exercendo sempre as funções de diretor da pastoral da Região Militar, foram atribuídos
ao pe. Sopocko outras funções de grande responsabilidade: de diretor espiritual
no seminário e de chefe da cátedra de teologia pastoral na Universidade de
Vilna. Essas novas obrigações forçaram-no a gradualmente afastar-se da pastoral
militar.
O pe. Sopocko com os seminaristas, Vilna, 29.09.1935
Como diretor
espiritual do seminário, era ao mesmo tempo moderador do Sodalício Mariano, do
Círculo Eucarístico, da Ordem Terceira de S. Francisco e do Círculo dos
Seminaristas da União Missionária do Clero. Um outro trabalho exercido nesse
período e que se estendeu por todo o tempo da permanência do pe. Sopocko em
Vilna era a confissão das irmãs religiosas.
Após obter a
dispensa parcial da pastoral militar, além da função de diretor espiritual no
seminário, as suas tarefas básicas eram as aulas e o trabalho científico.
Visto que na
época havia falta de manuais adequados, ele mesmo preparava apostilas para as
matérias por ele lecionadas.Estas eram mimeografadas pelos estudantes e por
muitos anos serviram de material de apoio nos estudos. As pesquisas científicas
do pe. Sopocko estavam relacionadas principalmente com a preparação da sua tese
de habilitação para professor e relacionavam-se com questões da educação
religiosa. A fim de coletar materiais para a tese que escrevia, no verão de
1930 ele viajou para fazer pesquisas em bibliotecas da Europa Ocidental. Essa
viagem foi proveitosa, tanto no aspecto científico como no religioso, visto que
ele visitou ao mesmo tempo lugares de culto e centros de vida religiosa.
Além do trabalho
relacionado com a redação da tese, o pe. Sopocko também escrevia artigos
científicos e de divulgação científica na área da teologia pastoral e artigos
para a enciclopédia eclesiástica, fazia conferências científicas e desenvolvia
atividade jornalística. Envolvendo-se cada vez mais no trabalho científico,
pediu para ser dispensado das funções de capelão e de diretor espiritual. Com
alguma resistência inicial, o bispo campal e o arcebispo concordaram em
dispensá-lo dessas tarefas.
Em setembro de
1932, o pe. Sopocko mudou-se para o convento das irmãs visitandinas, onde
concluiu a redação da sua tese, que trazia como título "O objetivo, o
sujeito e o objeto da educação religiosa segundo M. Leczycki". Com base
nesse trabalho, no dia 15 de maio de 1934 obteve o título de professor doutor,
e o Ministério das Religiões e da Instrução Pública nomeou-o docente da
Universidade de Varsóvia, e a seguir esse título foi transferido à Cátedra de
Teologia Pastoral da Universidade Stefan Batory em Vilna.
O ENCONTRO COM A IRMÃ FAUSTINA
Desde 1932 o pe.
Sopocko era confessor das irmãs da Congregação
de Nossa Senhora da Misericórdia, que então tinham em Vilna (Vilnius,
Lituânia) a sua casa religiosa. Lá, em
1933, encontra a irmã Faustina
Kowalska, que, após a sua vinda a Vilna em 1933, torna-se sua penitente.
Esse encontro seria muito significativo para toda a sua vida subsequente e para
a sua futura missão.
Na pessoa da
irmã Faustina ele encontrou uma devota da Divina misericórdia, cujas graças ele
mesmo muitas vezes alcançou na vida e pelo que bendizia a Deus. Tendo
encontrado no pe. Sopocko um confessor e diretor espiritual culto, começou a
apresentar-lhe cada vez mais detalhadamente as suas vivências e visões
relacionadas com as revelações do Misericordioso Salvador. Ele ordenou que a
irmã registrasse por escrito as suas experiências interiores. A seguir
examinava o texto, avaliando o seu conteúdo. Assim surgiu o “Diário” Espiritual
de Santa Faustina.
Fazendo alusão a
revelações do Salvador, que havia tido ainda antes da vinda a Vilna e depois em
Vilna, a irmã Faustina falava ao pe. Sopocko a respeito das ordens recebidas
durante essas revelações. Era a exigência de pintar uma imagem do
Misericordiosíssimo Salvador e de instituir a Festa da Misericórdia no primeiro
domingo depois da Páscoa, bem como a fundação de uma nova congregação
religiosa. Ela dizia também que a Divina providência havia confiado a
realização dessas tarefas ao pe. Sopocko.
Em março de 1934
o pe. Sopocko realizou uma peregrinação à Terra Santa. A visita à Terra Santa
foi para ele uma grande vivência, o que mais tarde expressou em suas Memórias,
bem como em relatos apresentados em outras publicações.
Em julho de 1934
o arcebispo Jalbrzykowski nomeou o pe. Sopocko reitor da igreja de S. Miguel em
Vilna, acontecimento que em anos posteriores teve um profundo significado. Foi
nessa igreja, no dia 4 de abril de 1934, que foi benta e localizada, atendendo
a um pedido expresso de Jesus Cristo, a primeira imagem de Jesus
Misericordioso.
Irmã Faustina
deixou Vilna em março de 1936. Permanecendo com ela em contato epistolar, e
também visitando-a em Cracóvia, o pe. Sopocko ia realizando a obra, confiada
também a ele, de apresentar ao mundo o mistério da Divina misericórdia.
Com base na
doutrina da Igreja, continuou a busca de fundamentações teológicas para a
existência do atributo da misericórdia em Deus, bem como bases para a
instituição da festa ordenada nas revelações. Os resultados das suas pesquisas
e argumentações em favor da instituição da festa foram apresentados em revistas
teológicas e em trabalhos especiais a respeito do ideal da Divina misericórdia.
Em junho de 1936
publicou em Vilna a brochura “A Misericórdia Divina”, com a efígie do Cristo
Misericordiosíssimo na capa. Enviou essa sua primeira publicação principalmente
aos bispos reunidos na conferência do Episcopado em Czestochowa, mas de nenhum
deles obteve resposta. Em 1937 publicou em Poznan uma outra brochura,
intitulada “A Misericórdia Divina na liturgia”.
No final de
1937, o estado de saúde de irmã Faustina deteriorou-se significativamente. O
pe. Sopocko visitou-a no início de setembro de 1938, já quase no leito da
morte. Irmã Faustina afastou-se para o Senhor no dia 5 de outubro de 1938.
Após a eclosão
da guerra, em setembro de 1939, o pe. Sopocko decidiu não ocultar por mais
tempo a questão das revelações de irmã Faustina, visto que, no seu entender, a
tragédia da guerra e os acontecimentos com ela relacionados começaram a
confirmar as mensagens das revelações.
Com o ideal da
Divina misericórdia estava relacionada também a questão da construção de uma
nova igreja em Vilna com o mesmo título. Em 1938 foi formado o Comitê da
Construção da igreja da Divina Misericórdia, que em breve obteve a confirmação
da Administração da voivodia e do arcebispo R. Jalbrzykowski.
Com a eclosão da
guerra e a ocupação de Vilna pelos exércitos soviéticos, ocorreu uma nova
situação política, que interrompeu as ações iniciadas e finalmente as
impossibilitou. Os exércitos soviéticos saquearam os materiais de construção
que haviam sido reunidos. Perdeu-se também o dinheiro destinado à construção e
depositado em bancos. Ainda em 1940 o pe. Sopocko empenhou-se junto às
autoridades de ocupação para que fosse permitida pelo menos a construção de uma
capela, no entanto teve o seu pedido negado.
A difícil
situação da guerra, que envolvia cada vez mais amplamente o território da
Europa e que atingia a população de muitas nações e o mal que juntamente com
ela se propagava fortaleciam cada vez mais a convicção do pe. Sopocko a
respeito da necessidade da compaixão Divina para com o mundo. Por isso, com
convicção maior ainda começou a proclamar o ideal da Divina misericórdia, no
qual percebia a salvação para o mundo.
Os párocos de
Vilna e de fora da cidade convidavam-no para pronunciar conferências. Na
Quaresma, durante as celebrações da paixão, o pe. Sopocko pregava na catedral
de Vilna sermões sobre a Divina misericórdia, para os quais acorriam multidões
de fiéis de toda a cidade e que tinham ampla repercussão em toda a região.
Nesse tempo o
pe. Sopocko iniciou também a redação de um tratado sobre o ideal da Divina
misericórdia e sobre a festa em sua honra: “De Misericordia Dei deque eiusdem
festo instituindo” [Da Misericórdia de Deus e da instituição da Sua festa]. A
esse trabalho ele havia sido estimulado ainda antes da guerra pelo cardeal
Augusto Hlond, ao qual havia apresentado as suas pesquisas relacionadas com a causa
da Divina Misericórdia.
Enquanto isso,
em junho de 1940 a Lituânia foi novamente ocupada pelo Exército Vermelho e, um
mês depois, incorporada à União Soviética como sua décima quinta república. O
pe. Sopocko viu-se forçado a interromper os encontros dos grupos a que prestava
assistência. Foi também privado da possibilidade de publicar um tratado sobre a
Divina Misericórdia.
Veio prestar-lhe
ajuda Edviges Osinska, que, como conhecedora da filologia clássica, cuidava da
parte linguística do tratado e que, clandestinamente e com a ajuda de
conhecidos seus, prontificou-se a mimeografar o trabalho. A seguir providenciou
que exemplares da obra chegassem a diversas pessoas que tinham a possibilidade
de viajar para fora de Vilna, e dessa forma a obra do pe. Sopocko espalhou-se
por muitos países do mundo, especialmente da Europa.
Em razão de ser
o divulgador do ideal da Divina misericórdia e da propagação do seu culto, o
pe. Sopocko era procurado pela Gestapo. Avisado por uma funcionária do
escritório de registro, conseguiu evitar a prisão. Por segurança viajou para
fora de Vilna. Quando a ameaça passou, voltou à cidade e começou a dar aulas no
seminário, no qual, apesar das difíceis condições materiais e residenciais,
havia sido iniciado o novo ano acadêmico 1940/41. Novamente fixou residência
junto à igreja de S. Miguel, onde estava localizada a imagem do
Misericordiosíssimo Salvador, envolvida de veneração cada vez maior.
No dia 22 de
junho de 1941 eclodiu a guerra russo-alemã. Vilna em breve encontrou-se sob uma
nova ocupação. Foi então submetida a uma discriminação especial a população
judia. Ainda antes da guerra o pe. Sopocko dedicava-se à catequese dos judeus
que se apresentavam à Igreja e à preparação deles para o batismo. O fruto
desses esforços foi o batismo de cerca de 65 pessoas. O pe. Sopocko também
fornecia apoio material e espiritual aos judeus. Tal tipo de procedimento podia
acarretar perigosas consequências, inclusive a perda da vida. A Gestapo
descobriu os vestígios da sua atividade e por alguns dias até o manteve preso.
No final do ano
de 1941, os alemães intensificaram o terror da ocupação. No último domingo do
Advento, a pretexto de uma pretensa epidemia, fecharam todas as igrejas em
Vilna. Seguiram-se as prisões. No dia 3 de março de 1942 os alemães
empreenderam uma ampla ação contra o clero. Prenderam os professores e os
estudantes do seminário e quase todos os padres que trabalhavam em Vilna.
No dia das
prisões no seminário, os guardas alemães prepararam também uma armadilha na
residência do pe. Sopocko, que foi avisado pela sua empregada. Conseguiu ainda
chegar à Cúria Arquiepiscopal, onde informou ao arcebispo que estava sendo
procurado pela Gestapo e pediu a dispensa das funções no seminário e a bênção
para o período em que deveria permanecer escondido. Disfarçado, deixou Vilna, e
as Irmãs religiosas Ursulinas esconderam-no numa casa que elas alugavam na beira
do mato. A Gestapo procurou-o quase pela Lituânia inteira, indagando a respeito
dele principalmente nas casas paroquiais e entre os padres.
Por intermédio
de pessoas de confiança, obteve uma identidade falsa com o nome Waclaw
Rodziewicz. A partir de então passou por carpinteiro e marceneiro, fabricando
ferramentas simples e utensílios para a população local. Todos os dias, nas
primeiras horas da manhã celebrava a missa e depois tinha muito tempo para a
oração e a reflexão pessoal. Em intervalos de algumas semanas dirigia-se à casa
das irmãs em Czarny Bór com o objetivo de realizar a confissão. Além disso,
dedicava-se ao trabalho científico, com base na literatura que lhe era
fornecida pela Sra. Osinska e por suas companheiras.
No outono de
1944, apesar das condições extremamente difíceis de vida, o arcebispo
Jalbrzykowski confiou-lhe o reinício das aulas no seminário. O pe. Sopocko
voltou a Vilna, assumiu as tarefas que
lhe haviam sido confiadas e, juntamente com outros padres e seminaristas, viajava
todos os domingos às paróquias do interior com o objetivo de coletar produtos
agrícolas, para que o seminário pudesse subsistir.
O pe. Sopocko
envolvia-se também no trabalho pastoral fora de Vilna, realizando-o muitas vezes
para difundir o ideal da Divina misericórdia. Apesar da postura antirreligiosa,
no início as autoridades da República toleravam a atividade pastoral dos
sacerdotes. Aos poucos, no entanto, começaram a restringir o trabalho deles,
especialmente tornando mais difíceis as autorizações para a catequese dos
jovens e das crianças.
Embora fossem
realizados na clandestinidade, informações sobre esses encontros chegaram às
autoridades. O pe. Sopocko foi chamado à delegacia de polícia. Surgiu o perigo
real de serem adotadas sanções contra ele, inclusive com a possibilidade do exílio
à Sibéria.
Coincidentemente
com esses acontecimentos, em julho de 1947 recebeu do arcebispo R.
Jalbrzykowski, que se encontrava em Bialystok, na Polônia, um convite
providencial para ir trabalhar nessa parte da arquidiocese. Diante disso
decidiu abandonar Vilna quanto antes, tanto mais que estava se encerrando o
período assinalado para a repatriação dos poloneses da Lituânia.
Antes da
partida, com a ilusória esperança de que a separação de Vilna não duraria
muito, visitou a capela de Nossa Senhora da Misericórdia em Ostra Brama (Ausros
Vartai − Vilnius, Lituânia) e no final de agosto de 1947 viajou a Bialystok.
Fez isso no último transporte de população polonesa que se dirigia à Polônia.
Tendo chegado a
Bialystok, o pe. Sopocko apresentou-se ao arcebispo Jalbrzykowski com o
objetivo de receber ordens para assumir novas funções. No final de setembro de
1947 viajou para passar alguns dias em Myslibórz, onde Edviges Osinska e Isabel
Naborowska (as primeiras madres da Congregação fundada pelo pe. Sopocko)
estavam organizando o início da sua vida religiosa comunitária. Esse foi o
primeiro encontro com as irmãs após a partida delas de Vilna. A partir de então
o pe. Sopocko manteve contato permanente com as irmãs, servindo-lhes com o
conselho e o apoio espiritual e material e velando pelo desenvolvimento geral
da Congregação fundada.
Padre M. Sopocko - Bialystok
Em outubro de
1947 iniciaram-se as aulas no seminário em Bialystok. O pe. Sopocko dava as mesmas
aulas que em Vilna (Vilnius, Lituânia): catequese, pedagogia, psicologia e
história da filosofia. Mas o trabalho e a presença dele no seminário não se
restringiam às aulas. Era também o confessor dos seminaristas. Muitas vezes, a
pedido do diretor espiritual, promovia retiros para eles. Desenvolvia ao mesmo
tempo atividade pastoral, religiosa e sociocultural. Uma parte importante da
sua atividade era o trabalho contra o alcoolismo.
A obra que mais
o envolvia e que lhe era a mais cara era a questão do culto da Divina
Misericórdia, ao qual foi devotado e fiel até o fim. Sem se desencorajar com a
resistência das autoridades eclesiásticas para a aprovação do culto, cujas
causas eram as anormalidades na devoção espontânea que se difundia entre o
povo, bem como as publicações que abordavam o ideal da Divina misericórdia de
forma nem sempre correta, o pe. Sopocko corrigia incansavelmente os erros e
esclarecia os fundamentos teológicos desse culto.
Da mesma forma
que em Vilna, também em Bialystok era confessor das irmãs religiosas.
Confessava, por exemplo, as irmãs da Congregação das Missionárias da Sagrada
Família, que então tinham a sua casa na Rua Poleska. Ao prestar ali a
assistência espiritual, ele percebia a possibilidade de estendê-la aos
moradores das redondezas. Graças aos empenhos do pe. Sopocko, no dia
27.11.1957, na solenidade de Cristo Rei, realizou-se a bênção da capela da
Sagrada Família.
Após ter-se
aposentado, o pe. Sopocko residiu na casa das irmãs, desempenhando o ministério
pastoral entre os habitantes da região até o fim da sua vida. A rica
personalidade sacerdotal do pe. Sopocko, a sua espiritualidade e autoridade,
resultantes de extraordinárias experiências de vida, além da sua grande
modéstia pessoal, atraíam os fiéis. Atualmente se encontra ali uma sala da sua
memória e uma casa religiosa da Congregação das Irmãs de Jesus Misericordioso,
fundada por ele.
No final dos
anos 50, o pe. Sopocko empreendeu mais uma iniciativa para construir uma igreja
em Bialystok. Conseguiu comprar um terreno com uma casa, tendo coberto quase a
metade dos custos com economias próprias. Com a projetada igreja ele ligava os
planos, esboçados ainda em Vilna, de construir um santuário sob a invocação da
Misericórdia Divina. Mas também dessa vez teve de conformar-se com o desmoronamento
dos seus propósitos.
Enquanto pregava
um retiro para os padres em 1958, o pe. Sopocko sofreu uma lesão do nervo
facial. A partir de então, falar em voz alta para um auditório maior
custava-lhe grandes esforços. Deixou uma marca em sua saúde também um acidente
automobilístico que sofreu em 1962 em Zakopane, onde participava de um encontro
de professores de teologia pastoral. Nessa situação, tornou-se indispensável
passar à aposentadoria.
Tornou-se
indispensável passar à aposentadoria, o que surpreendeu o pe. Sopocko. Sempre
ativo, envolvido em inúmeros trabalhos e tarefas, pela primeira vez na vida,
com exceção do período em que se ocultou em Czarny Bór, dispunha de um tempo
ilimitado exclusivamente à sua disposição. Exercendo o ministério sacerdotal na
capela da Rua Poleska, dedicou-se então a concluir os trabalhos relacionados
com o ideal da Divina misericórdia que havia iniciado e logo, quando o clima em
torno dessa questão começou a mudar, dedicou-se a ele com um novo entusiasmo.
Dispondo agora de mais tempo, dedicou-se ao aprofundamento científico do ideal
da Divina misericórdia.
Possuía muito
material coletado, trabalhos iniciados, além de novas ideias. Por isso dedicou-se
com afinco a escrever. Em consequência escreveu uma série de obras, entre as
quais ocupa lugar de destaque a obra em quatro volumes: “A Misericórdia de Deus
em Suas obras”. O primeiro volume foi publicado em Londres ainda em 1959, e os
três restantes, nos anos 60, em Paris, graças à generosidade de pessoas
dedicadas à causa da Divina misericórdia e que residiam no Ocidente. Essa obra
foi também traduzida para a língua inglesa.
Uma
circunstância importante que estimulava o engajamento do pe. Sopocko era o fato
do contínuo desenvolvimento da devoção à Divina Misericórdia, bem como o
interesse de outros teólogos por esse ideal. Um outro impulso e estímulo
importante para o trabalho missionário em prol da Divina Misericórdia foi o
início, em 1965, pelo arcebispo de Cracóvia Karol Wojtyla, do processo
informativo da Irmã Faustina Kowalska. O pe. Sopocko também foi envolvido nesse
processo, apresentando-se no papel de testemunha.
O padre Sopocko
viveu até os belos jubileus dos 50 e 60 anos do ministério sacerdotal. Nas
solenidades comemorativas desses aniversários, as mais edificantes eram as
palavras do próprio aniversariante. Fatigado pela idade e pelas labutas da
vida, bem como por dolorosas experiências interiores, esse sacerdote que se
aproximava do final dos seus dias, no mais curto dos discursos pronunciados
nessa ocasião, expressou primeiramente uma profunda gratidão a Deus pelo dom do
sacerdócio e a seguir, com grande humildade, confessou que nem sempre em sua
longa vida sacerdotal havia sido fiel às tarefas a ele confiadas, pelo que
desejava sinceramente pedir perdão a Deus, pedindo orações aos presentes para
que o Deus Misericordioso lhe perdoasse as suas infidelidades.
Essa solenidade,
no parecer e na avaliação de muitos participantes, foi uma recompensa moral
muito atrasada. Uma recompensa ao venerável sacerdote dedicado à causa Divina –
especialmente à propagação do ideal da Divina misericórdia. O único sinal de
reconhecimento dos variados méritos do padre aniversariante diante da Igreja e
da arquidiocese foi a sua nomeação, mas apenas no ocaso da vida, em 1972, como
cônego gremial do Capítulo da Basílica Metropolitana.
Durante toda a
sua vida o padre Sopocko foi um homem de ação, baseada num firme fundamento
espiritual. Quando começou a lhe faltar a destreza física e vieram as
enfermidades, a esfera do espírito tornou-se a área do seu envolvimento e
serviço às causas divinas.
Citações de
leituras, deixadas em seu ”Diário”, testemunham que era justamente assim que
ele entendia o seu último ministério:
“A velhice deve ser tratada como uma vocação a
um amor mais profundo a Deus e ao próximo. Deus tem em relação aos idosos novos
planos de aprofundamento da pessoa, revelando-lhes face a face a sua vida
interior. O único ato eficaz de que então somos capazes é a oração. Nessa ativa
passividade tudo se prepara, tudo se decide, tudo se elabora. O céu será a recitação
do “PAI NOSSO”.
Houve esforços
recíprocos no sentido de que o padre Sopocko passasse o período final da sua
vida na casa geral da Congregação por ele fundada das Irmãs de Jesus
Misericordioso em Gorzów Wielkopolski. Entretanto, em razões dos problemas de
saúde que o afetavam, e que em grande medida lhe dificultariam a adaptação no
novo ambiente, ele permaneceu até o final da vida em Bialystok. Faleceu na
noite do sábado, 15 de fevereiro de 1975, em seu quarto na Rua Poleska, no dia
da memória de são Faustino, padroeiro da irmã Faustina Kowalska.
No ”Diário” de
S. Faustina encontra-se registrada a promessa de Jesus Cristo relacionada com o
seu confessor padre Miguel Sopocko:
“Haverá tantas palmas na sua coroa quantas almas se
salvarem por essa obra” (Diário, 90).
No dia 28 de
setembro de 2008, no Santuário da Misericórdia Divina em Bialystok (Polônia),
realizou-se a beatificação do pe. Miguel Sopocko.
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