“Conformar-se
a Cristo no abandono a amorosa Divina Providência".
Em Benedita Cambiagio Frassinello (1791-1858) a Igreja nos mostra um
exemplo de santa esposa, religiosa e fundadora. Ela deixou-se conduzir pelo
Espírito Santo através das experiências do matrimônio, de educadora e de
consagração religiosa, até fundar, junto com o marido, uma congregação que é o
único caso na História da Igreja.
Benedita Cambiagio nasceu no dia 2 de outubro de 1791, em Langasco,
Gênova, última de sete filhos de José Cambiagio e Francisca Ghiglione. Ela foi
batizada dois dias depois de seu nascimento. Seus pais eram camponeses e depois
das revoluções napoleônicas a família vê os problemas econômicos se agravarem.
Junto com outras famílias de Langasco, eles emigraram para Pavia quando
Benedita tinha 13 anos.
Ela recebeu uma educação católica rigorosa e se dedicou aos estudos,
sobretudo como autodidata, privilegiando a leitura de biografias de Santos e o aprofundamento
da doutrina católica. Em 1812, Maria, sua irmão mais velha, se casa. Aos 20
anos Benedita tinha uma forte inclinação para a oração e a vida contemplativa,
pensando em talvez fazer-se religiosa, mas, na dúvida, prevaleceu o parecer da
família mais propensa ao seu casamento. Dia 7 de fevereiro de 1816, aos vinte e
cinco anos, casou-se na Basílica de São Miguel com João Batista Frassinello,
camponês e carpinteiro, fervoroso católico de Ronco Scrivia.
Dois anos depois, sem filhos, de comum acordo, Benedita e João Batista
passaram a viver como irmão e irmã na mesma casa. De fato, o grande desejo de
castidade de Benedita contagiou o cônjuge. Ela conta o episódio em suas
Memórias: "Vivi por dois anos
sujeita a ele, como o Senhor ordenara. Mas o meu desejo era de viver como irmão
e irmã. Um dia eu pedi a meu marido para secundar-me neste desejo que desde
menina eu tinha; ele imediatamente atendeu-me, para infinita consolação de
minha alma, pois outra coisa eu não desejava".
Na época, sua irmã Maria, gravemente doente de câncer intestinal, se
hospedava em sua casa e o casal passou a cuidar dela com amor e dedicação até
sua morte, em 1825. O cuidado da doente fez nascer neles a vocação de ajudar os
necessitados sem reservas. Em consequência, João Batista entrou como irmão
leigo na comunidade religiosa dos padres Somascos e Benedita na comunidade das
Irmãs Ursulinas de Capriolo.
+Cambiagio+Frassinello,+Religiosa.jpg)
Em 29 de setembro de 1826, Benedita aluga uma casa em Vicolo Porzi. Para
conseguir os meios necessários para manter sua obra, vai de casa em casa
pedindo ajuda. Sua intenção era lutar, por meio da educação, contra a solidão,
a ignorância, a pobreza, que são a base dos maus costumes, agindo no universo
totalmente feminino. Com a ajuda e o apoio de várias professoras, ensinava as
jovens a ler, a escrever, a trabalhar, formando uma instituição escolar de
excelente nível, cujo estatuto foi aprovado pelas autoridades eclesiásticas.
Na época, a instituição escolar era muito precária e Benedita fez um
alerta às autoridades de Pavia, a primeira mulher da cidade e do Estado a
advertir sobre essa necessidade. Pavia era então governada pelo Império
Austro-húngaro, e o governo austríaco reconheceu seu trabalho e deu a ela o
título de “Promotora da Educação Pública”.
A dedicação constante de Benedita nasceu e cresceu do seu fervor a
Cristo na Eucaristia e da contemplação de Jesus na Cruz. Tinha em Deus seu
sustento e sua defesa. Não lhe faltaram na vida experiências espirituais que se
repetiam especialmente durante as Missas. Porém, isso não interferia nos seus
compromissos cotidianos.
Seu primeiro biógrafo, Joaquim Semino, que a conheceu pessoalmente, nos
dá este retrato dela: "E eu não devo silenciar como ela tinha um rosto
entre o majestoso e o amável, de maneira que parecia ter sido feita para
orientar as jovens. Ela tinha uma forma de dizer gentil e doce, um jeito de
fazer franco e jeitoso, ao mesmo tempo enérgico e forte, que despertava o amor
e a reverência de todos".
Mas, nem tudo corria sem complicações. Como sua obra educadora recebesse
doações, no dia 4 de fevereiro de 1837 o jornal ''La Gazzetta di Pavia''
promoveu uma subscrição com a finalidade de ajudá-la. Esta iniciativa fez
emergir muitos de seus opositores que lhe fizeram pesadas acusações. Ela
demonstrou sua transparência cedendo a direção da Instituição a uma
colaboradora, Catarina Bonino, e entregando toda a sua obra ao bispo. Com cinco
irmãs deixou Pavia indo para Ligúria.
Sua biografia não diz claramente por que certo momento ela ficou sozinha
e mau vista. Podemos conjecturar que a presença de eclesiásticos de ideias
jansenistas entre os conselheiros do Bispo Luís Tosti, ou, então, a existência
de funcionários maçons na administração pública da cidade, ou ambas as coisas,
foram a causa dessa situação. Entretanto, o que parecia um fim, foi outro
começo.
Na cidade de Ronco Scrivia, Benedita abriu uma escola para jovens com as
cinco companheiras e a ajuda do esposo. Adquiriu algumas casas e finalmente
fundou, no dia 28 de outubro de 1838, a Congregação das Irmãs Beneditinas da
Providência, escrevendo ela mesma a Regra e a Constituição, e logo a colocou
sob a autoridade do Bispo de Gênova. A Instituição se desenvolveu rapidamente, tanto que em 1847 uma nova
casa foi inaugurada em Voghera.
Em 1851, Benedita retorna a Pavia atendendo a um pedido do Conde João
Dessi, preocupado com o aumento das condições de miséria depois da guerra de
1848. Incógnito, o conde comprara o antigo mosteiro de São Gregório. Ali
Benedita abriu uma nova casa para meninas, enquanto continuava a dirigir a de
Ronco Scrivia. Aqueles foram anos de muito empenho por parte dela e do esposo,
enquanto seus críticos continuavam a denegri-la sem sucesso. Em 1857, abre outra
escola em São Quirico, Valpolcevera.
No dia 21 de março de 1858, com 67 anos de idade, Benedita morre
santamente em Ronco Scrivia, no dia e hora por ela previstos. Logo acorre um
grande número de pessoas para uma última manifestação de estima e para chorar
aquela que consideravam uma santa. Foi sepultada no cemitério de Ronco Scrivia.
Em 1944, durante a II Guerra Mundial, um bombardeio destruiu o pequeno
cemitério e as suas relíquias foram dispersas.
Beatificada por João Paulo II em 10 de maio de 1987, o mesmo pontífice a
canonizou em 19 de maio de 2002. Sua festa foi fixada em 21 de março, dia de
seu falecimento.
Benedita pode ser proposta como modelo e intercessora para as pessoas
consagradas, os esposos, os jovens, os educadores e as famílias.
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