A
descoberta
Santa Germana Cousin, Virgem |
Eles golpeavam o solo diante do altar,
quando estarrecidos descobrem o corpo de uma jovem de uns vinte anos, conservado
em sua mortalha um tanto escurecida. O corpo parecia ter sido colocado no
túmulo há poucos dias. A jovem apresentava cicatrizes no pescoço e sua mão
direita era deformada. Quem seria aquela jovem? Após se acalmarem, levaram o
caso ao conhecimento do Pároco e de seu assistente, que não souberam
identificar o cadáver.
A notícia rapidamente se espalhou pela
pequena Pibrac. Dois anciãos, Pedro Pailhès e Joana Salères, reconheceram-na
como sendo Germana Cousin, falecida em 1601.
O corpo foi instalado num caixão perto do
púlpito da igreja paroquial, e o povo, que a tinha em conta de santa, logo
afluiu para contemplá-la. Outros ridicularizam os ingênuos que ali vão e exigem
que o caixão seja transferido para outro lugar. Entre estes estava Maria de Clément
Gras, esposa do nobre Francisco de Beauregard.
Pouco tempo depois, esta senhora foi
surpreendida por um câncer no seio, e a criança que ela amamentava ficou doente
e esteve às portas da morte. O esposo então se lembrou do desprezo que ela demonstrara
pela pobre Germana, e comentou com ela se Deus não ficara ofendido e quisera
puni-la. Maria de Clément Gras foi então para junto do corpo de Germana e pediu
perdão por sua atitude, suplicando também a sua cura e a de seu filho,
prometendo oferecer à igreja um caixão de chumbo para colocar seu corpo.
Na noite seguinte, ela foi despertada por
uma grande claridade em seu quarto: Germana lhe aparece e prediz a cura de seu
filho! Após a visão, a chaga do seu seio estava quase fechada. Ela fez vir seu
filhinho: ele estava são e sugou longamente o leite que ele recusava há tempos.
A cura da Sra. Beauregard e de seu filho
foram atribuídas à intercessão de Germana. O fato é reconhecido como o primeiro
milagre realizado pela intercessão da jovem após a descoberta de seus despojos.
Feia,
escrofulosa e aleijada.
Germana Cousin foi a última filha de
Lourenço Cousin, pequeno e honrado proprietário agrícola de Pibrac, e de sua
terceira esposa, Maria Laroche, mulher piedosa e de saúde frágil. Mestre
Lourenço chegou a ser alcaide de Pibrac em 1573 e em 1574.
A data de nascimento de Germana não é
precisa, mas ela provavelmente veio ao mundo no ano de 1579. Talvez devido a
avançada idade dos pais, ela nasceu com um corpo débil e repleto de escrófulas,
além de uma deformação na mão direita. Não chegou a conhecer a mãe, que faleceu
pouco tempo depois de seu nascimento. Mais ou menos dois anos após seu
nascimento, perdeu também o pai.
Hugo, seu irmão mais velho, filho do
primeiro casamento paterno, tornou-se o herdeiro dos bens de Mestre Lourenço e
acolheu a pequena órfã. Esse irmão era casado com Armanda Rajols, uma mulher de
péssimo caráter, que não poupava maus tratos à pequena. Dava-lhe pouco alimento
e pouco zelava por sua saúde, deixando-a aos cuidados de uma criada, Joana
Aubian. Essa boa mulher tratava das feridas da criança, dividia com ela a
comida e a cama.
Mais tarde, Germana foi obrigada a dormir
no paiol. Seu leito era de palhas e de ramagem de vinhedo; o único aquecimento
nas noites frias de inverno eram as ovelhas que ali dormiam também. No verão
ela ficava alojada num pequeno compartimento sob a escada da casa. Ninguém na
família parecia notar sua inteligência. Não lhe ensinaram a ler e a escrever,
nem mesmo a fazer os trabalhos domésticos.
Quando Germana completou nove anos,
Armanda achou que ela já estava na idade de poder prestar algum serviço:
encarregou-a do pastoreio do rebanho da família. Era também uma forma de
mantê-la longe da vista, pois ela passaria o dia todo com o rebanho nas
pastagens à margem do rio Courbet.
Uma alma
admirável num corpo disforme
A França enfrentava então uma guerra de
religião entre católicos e huguenotes, como eram chamados os protestantes
franceses. Era uma trágica crise em que se via a aristocracia dividida em dois
partidos: a Casa de Valois e a Casa de Guise. O conflito se estendeu pelos
séculos XVI e XVII. Havia saques e conflitos por toda parte.
Germana enfrentava uma situação difícil
dentro e fora de casa, pois horríveis sacrilégios eram cometidos pelos hereges
nas igrejas da vizinhança. Ela rezava, fazia sacrifícios em reparação, confiava
em Deus e em Nossa Senhora.
Felizmente Joana Aubian, que velara pelos
primeiros anos de Germana, era uma excelente e piedosa mulher que lhe incutiu
os fundamentos da religião e, em alto grau, a virtude da caridade.
Freqüentando a igreja paroquial de Pibrac,
o zeloso Pároco viu naquela criança inocente uma alma escolhida por Deus.
Graças àquele virtuoso sacerdote, Germana conseguiu ter uma boa instrução
religiosa que aprimorou os primeiros ensinamentos dados por sua boa ama.
Correspondendo às graças que recebia,
Germana cumpria à risca os deveres de estado. Mostrava-se em tudo um modelo de
simplicidade, modéstia, doçura e paciência. Revelou-se uma ótima catequista.
Ensinava doutrina às crianças pobres, que ouviam atentas suas histórias.
Vivendo ela mesma apenas de pão e água,
com frequência levava pão para as crianças e os pobres, pois era grande a
miséria causada pela guerra civil.
Santa Germana tinha um amor ardente pela
Sagrada Eucaristia, que recebia com frequência, e uma devoção especial pela
Santa Missa, que assistia diariamente.
O Bom
Pastor
Germana logo se adaptou ao seu ofício de
pastora. Ela aproveitava o tempo do pastoreio de suas ovelhas para pensar e
rezar. Ao invés de se sentir só, ela encontrou um amigo em Deus Nosso Senhor.
Nessa escola de pobreza, sofrimento do corpo e da alma, Germana aprendeu bem
cedo a prática da paciência e da humildade. A vida solitária tornou-se para ela
uma fonte de luz e de bênçãos. Ela foi agraciada por um maravilhoso senso da
presença de Deus.
Ela não tinha conhecimentos de teologia -
ela havia adquirido apenas os conhecimentos básicos do Catecismo - mas possuía
um Rosário feito de nós numa corda... Na meditação dos mistérios do Rosário ela
se unia a Mãe de Deus e ao Divino Redentor, e desta contemplação advinha a sua
sabedoria.
As pessoas notavam que ao se aproximar uma
festa de Nossa Senhora a piedade de Germana aumentava. Sua devoção pelo Ângelus
era tão grande, que ao primeiro toque dos sinos ela costumava cair de joelhos
aonde quer que se encontrasse, mesmo atravessando algum córrego.
Os seus únicos bens materiais eram o
cajado de pastora e a roca com a qual fiava lã. A fim de atender ao apelo do Rei dos reis,
que a atraía para a Santa Missa, sem se descuidar de seu dever de cuidar das
ovelhas, Germana usava um método singular: apenas ouvia o sino soar chamando
para a Missa, ela cravava o seu cajado de pastora no solo e ordenava às ovelhas
que dele não se afastassem.
Seu rebanho era o mais bem tratado da
região e embora as pastagens ficassem próximas da floresta de Bouconne, onde
havia muitos lobos, nunca um só dos seus animais foi atacado por eles. O
rebanho era cuidado pelo Bom Pastor, enquanto a sua humilde pastora rendia-Lhe
suas homenagens na igreja paroquial.
Glorificação da
rejeitada
Numa noite de junho de 1601, um sacerdote
da diocese de Auch, que seguia de viagem para Toulose, e dois religiosos que
tinham encontrado asilo nas ruínas de um antigo castelo próximo de Pibrac,
afirmaram que em meio à noite foram despertados pelo som de uma música
maravilhosa. Eles olharam ao redor, e viram o céu iluminar-se e um cortejo celeste
de virgens descer sobre uma casa rural das redondezas de Pibrac. Em seguida, o
mesmo cortejo subiu para o céu acompanhado de uma jovem vestida de luz e
coroada de flores silvestres.
Ao amanhecer, entrando no povoado, eles
relataram o maravilhoso fato aos habitantes de Pibrac, e estes constataram que
se tratava da casa onde pouco antes fora encontrada morta uma pobre pastora
chamada Germana Cousin.
Naquela manhã de verão, percebendo que ela
não se levantara no horário costumeiro, seu irmão foi chamá-la. Ele encontrou-a
morta no seu humilde refúgio sob a escada. Ela morrera sem ruído, sozinha, tal
como havia vivido.
Seu corpo foi sepultado na Igreja de Santa
Madalena e tudo parecia esquecido... Na memória do povo ela ficou esquecida,
mas não nos planos de Deus!
Fatos
posteriores a descoberta de seu corpo
Em 22 de setembro de 1661, o Vigário Geral
da Arquidiocese de Toulouse, Jean Dufour, foi a Pibrac. Ele ficou admirado ao
ver uma urna funerária na sacristia e mandou que a abrissem. O corpo de Germana
permanecia intacto! Ele fez uma declaração oficial do fato.
Depoimentos de médicos especialistas
evidenciaram que o corpo não havia sido embalsamado, e testes mostraram que a
preservação não se devia a qualquer propriedade do solo. O vigário mostrou-lhe
um relatório de inúmeras curas milagrosas atribuídas a Germana.
Em 1739, um conjunto de documentos foi
confiado a um missionário apostólico, para que ele o entregasse à Sagrada
Congregação de Ritos na sua passagem por Roma. Tal documentação deve ter-se
extraviado, pois nunca chegou ao seu destino.
Em 1793, durante a sangrenta Revolução
Francesa, os membros do "comitê de salvação pública" levaram a cabo
um desígnio sacrílego de subtrair o precioso cadáver à devoção das multidões: o
caixão foi profanado por um revolucionário de nome Toulza, fabricante de
estanho.
Acompanhado de três cúmplices, Toulza
retirou o corpo do caixão e nem à vista do milagre de um corpo incorrupto aqueles corações endurecidos se comoveram: enterraram-no
na sacristia, jogando cal e água sobre ele. O caixão de chumbo foi enviado para
Toulouse para ser usado na fabricação de balas. Os revolucionários foram
atacados por dolorosas deformações: dois arrependeram-se e invocaram o auxílio
da Santa e foram ouvidos.
Depois da Revolução Francesa, a pedido da
população o prefeito de Pibrac, Jean Cabriforce, mandou procurar o local onde
os revolucionários haviam enterrado o corpo de Germana. Uma vez mais Germana
foi descoberta: seu corpo estava quase
intacto, apesar de ter permanecido
durante anos sob a ação da cal viva.
Em janeiro de 1845, os documentos que
compunham o processo de beatificação foram entregues. Eles atestavam mais de
400 milagres ou graças extraordinárias, além de 30 cartas de Bispos e
Arcebispos da França, dirigidas a Santa Sé, pedindo a beatificação de Germana.
Gregório XVI assinou a aprovação dos
trabalhos da Comissão apostólica. Mas, foi o Beato Pio IX quem proclamou, no
dia 7 de maio de 1854, a beatificação de Germana. E em 29 de junho de 1867, foi
ele quem a colocou entre as virgens santas.
Fontes:
1)
Les Petits Boullandistes, Vie des Saints, d'aprés de Père Giry, Bloud et
Barral, Paris, 1882, t. VII; 2) José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Edit. A.
O. - Braga
Outras imagens iconográficas da santa:
Outras imagens iconográficas da santa:
Santa Germana morreu sozinha, deitada sobre sua cama de palhas debaixo do vão da escada. |
Santa Germana Cousin, Virgem |
Estátua de santa Germana. Na igreja do Pequeno Grande, em Fortaleza, tem uma. |
Estátua "outdoor" de santa Germana Cousin. |
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