O Venerável Matt Talbot, que morreu em 1925, é considerado por muitos como padroeiro daqueles que lutam com algum vício. Sua vida foi marcada precocemente pelo alcoolismo e sua conversão, a qual se deve muito às orações de sua mãe, o fez levar posteriormente uma vida de oração e penitência, tornando-se exemplo para muitos de seus colegas operários. Marcante também é sua vida solitária como celibatário, jamais infeliz, mas sempre ao serviço de Deus e das almas.
O
Venerável Matt Talbot foi um típico homem Irlandês que viveu e
trabalhou em Dublin nos meados do século 19; Digo típico no sentido
de que nasceu numa grande família Católica, extremamente pobre e
oprimida pela doença do alcoolismo. Porém a maneira santa com que
morreu foi dramaticamente divergente do pecado, e do modo de vida
egoísta que mantinha da adolescência até sua conversão. “Matt
Talbot não era alguém que fazia as coisas pela metade. O mesmo
fervor que dedicou a bebida em sua juventude, dedicou a Deus pelo
resto de sua vida”(McGrane, 2006). Ele viveu em uma época e
ambiente em que o alcoolismo foi generalizado; Dublin sozinha em 1865
tinha mais de dois mil bares, e registros mostram que muitas pessoas
morreram por envenenamento de álcool em 1865-1866 (McGrane, 2006).
O
pai de Matt era alcoólico, e Matt começou por si mesmo a beber
muito com 12 anos de idade; ele tinha a bebida disponível em seu
trabalho num “estabelecimento de vinho e cerveja em Dublin”
(McGrane, 2006). Seu pai tentou convencê-lo a parar dando-lhe surras
quando chegava bêbado em casa depois do trabalho, mas nada nem
ninguém conseguia impedir a queda espiral de Matt na escuridão do
alcoolismo.
Na
linguagem de hoje, ele era verdadeiramente um adicto no álcool. Seu
salário seria essencial para o sustento da sua família. Ao todo
eram doze vivendo em sua casa, e seu pai e sua mãe trabalhavam duro
apesar da pobreza. Assim que recebia seu pagamento, ele deixava tudo
no seu bar favorito, todo seu dinheiro suado, com a condição de ter
certeza de que beberia todo o seu pagamento até que ele acabasse.
Ele frequentemente ficava tão deseperado por álcool que implorava
aos amigos um dinheiro extra para beber, e sempre chegava em casa,
por mais de uma vez sem camisa ou botas, que tinha vendido para poder
usar o dinheiro para bebida. (McGrane, 2006).
Com
28 anos de idade, Matt no fundo do poço prometeu a sua mãe que
nunca mais beberia de novo. Ele levou a sério esta promessa. Por
incrível que pareça ele conseguiu isso sem a ajuda de nenhum método
de reabilitação, que não existia naquele tempo para ajudá-lo. Foi
um verdadeiro milagre da graça de Deus que Matt tenha conseguido
mudar a sua vida a partir do momento em que sua mãe lhe disse, “Vai,
então, em nome de Deus, mas não prometa se não está disposto a
cumprir esse propósito.” Como Matt respondeu que tinha o propósito
de manter sua promessa “em nome de Deus”, sua mãe lhe disse,
“Deus lhe dará a força para conseguir” (McGrane, 2006).
Logo
depois, Matt escolheu aprofundar sua relação com Deus, que havia
diminuído com sua dependência ao álcool que consumia todo seu ser.
“Como alcoólico, o deus de Matt era a garrafa, e seu altar era um
bar” (McGrane, 2006). No entanto, como é o caso de muitos santos
heroicos em que o vigor pelo mal se transforma num desejo por Deus, o
zelo de Matt pela bebida rapidamente se transformou numa sede de
Deus. Ele entendeu que somente Deus poderia saciar a sua sede eterna,
e o retorno aos sacramentos era a graça suficiente para manter
afastadas as recaídas e a ajuda para se manter sóbrio por muito
tempo.
Uma
característica marcante da conversão de Matt é que sua vida não
mudou nada exteriormente; ele continuou um trabalhador incansável em
seu oficio manual, e continuou sua rotina diária sem avisar aos
outros sua mudança; no entanto sua vida interior aprofundou-se
rapidamente, e ele manteve sua conversão dramática em segredo e em
profunda humildade.
Eventualmente,
contudo, todos perceberam a metamorfose espiritual de Matt, embora
seu testemunho de mudança de vida fosse silencioso. O dia depois da
promessa de Matt de não mais beber, ele iniciou um compromisso de
assistir a missa diariamente, e de chegar pelo menos meia hora antes
para oração silenciosa e devocionais. Em vez de gastar todo seu
dinheiro em álcool, Matt doava muito do seu pagamento para obras de
caridade. Ele se inscreveu em diversas confrarias católicas em sua
paróquia de infância, e ele foi fiel a devoções clássicas como a
“Via-sacra” e o “Santo Rosário”. Mais notável ainda foi que
“Matt comia muito pouca comida e escolheu para dormir uma tábua em
vez de um colchão” (McGrane, 2006) como atos de penitência.
Matt
Talbot morreu com 65 anos enquanto caminhava para a missa diária na
Igreja de São Salvador; ele estava doente com problemas cardíacos e
renais (possivelmente por conta dos anos de abuso do álcool) mas
mesmo enfermo batalhava para passar um tempo com o Senhor, enquanto
sofria e lutava no rescaldo físico de sua doença. Como ele estava
carregando somente um rosário e um livro de orações, ninguém pode
identificar Matt quando ele desmaiou na estrada de fora que levava a
paróquia. Provavelmente o mais chocante de tudo é que os legistas
quando começaram a preparar seu corpo para o funeral, descobriram
que o corpo de Matt estava coberto de correntes sob a sua roupa. Matt
escolheu abandonar os prazeres sensuais e momentâneos de sua vida
passada, e se tornou um homem de humildade e austeridade no fim de
sua vida.
Existem
duas razões pelas quais a história de Matt Talbot toca-me
profundamente (testemunho do autor do texto pesquisado): primeiramente, porque pertenço a uma família tomada
pelo vício do alcoolismo. Fui testemunha de membros de minha família
e amigos próximos que se tornaram escravos desta doença, e alguns
deles tragicamente chegaram a morrer por conta das consequências do
álcool e abuso de drogas.
Em segundo lugar, porque eu acho a ascese e humildade da vida de Matt
algo muito relevante e inspirador. A conversão de Matt foi sincera,
porque estava envolto em humildade, e humildade é uma virtude tão
contrária a nossa concupiscência natural. De fato, a humildade é o
antídoto contra o vício do orgulho, que muitos teólogos concordam
ser a raiz de todos os pecados. Nós vivemos no meio de uma era de
revolução tecnológica e é muito comum em todos os lares termos
uma infinidade de dispositivos eletrônicos. No entanto a ascese
chama o espírito da humanidade, para matar a sede de cada alma na
fonte eterna: Deus e no descanso eterno com Ele no céu. Eu não
posso imaginar que qualquer um de nós possa alcançar a santidade
sem obter a virtude da humildade, o que exige um morrer para si
mesmo; ainda assim é cada vez mais desafiador para nós alcança-la,
pois estamos imersos no mundo dos negócios; cercados de muito
barulho; e geralmente exaustos e ranzinzas pelo vazio e inquietação
que permeia nossas vidas. Matt Talbot reconheceu sua própria
inquietação e respondeu vigorosamente e com fervor ao chamado de
Deus para a cura e santidade; E este é um chamado universal a toda a
humanidade.
Matt
Talbot pode ter ganho uma reputação precoce de bêbado, ralé e de
homem egoísta, mas ele morreu como um homem santo cuja causa de
canonização começou em 1931. Ele abandonou toda a sua velha vida
envolta em pecados e tornou-se um fanático por santidade: vivendo
para Deus e na graça abundante Dele que o faria alcançar a
eternidade abraçando uma vida de extrema simplicidade e penitência,
oração e negação de si mesmo. Quem sabe quantos sofrimentos Matt
silenciosamente ofereceu como um sacrifício a Deus, em reparação
pelos pecadores e pelo bem de todas as almas? É precisamente o que
torna sua história tão bonita: ele é um de nós, e a jornada da
sua vida serve como um farol de esperança de que qualquer um ainda
que num estado de escuridão e pecado tem o potencial de se tornar um
grande santo quando coopera diariamente num ato de total dependência
do amor e misericórdia de Deus.
Matt
Talbot conheceu a misericórdia de Deus muito bem, porque estava
consciente da grandeza do amor de Deus por ele e por todas as almas.
Ele é um excelente protetor para aqueles que todos nós sabemos que
sofrem da doença do alcoolismo e drogadição, tenho esperança que
todos podemos ganhar em conhecer e compartilhar sua história para
aqueles que perderam toda a esperança de cura.
REFERÊNCIAS
McGrane,
Janice. (2006). Saints to Lean on: Spiritual Companions for illness
and disability, 81-93. Cincinnati, OH: St. Anthony Messenger Press
Fonte:
http://www.comunidadesacramentos.com.br/single-post/2016/07/01/Veneravel-Matthew-Talbot
MATT
TALBOT E O CELIBATO
Se
bem que Matt nunca tivesse pensado seriamente em casamento, como já
vimos, contudo, nunca tinha feito voto ou tomado qualquer compromisso
definitivo a esse respeito.
Foi
pelo ano de 1892 que ele manifestou, claramente, a sua resolução
generosa de nunca se casar: seria sempre um verdadeiro ermitão, um
autêntico solitário.
Para vencer as más tendências, dedicou-se
ardorosamente à oração e penitência.
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E
se há homens que não compreendem a possibilidade e sublimidade
desse estado que nos torna semelhantes aos anjos, não é para
admirar. Jesus Cristo disse claramente que nem todos compreenderiam
esse sacrifício. E São Paulo francamente declara que os homens
carnais não percebem as coisas do espírito.
Matt
Talbot, que vivia com o coração nas alturas, facilmente compreendeu
o valor desse estado que dá aos homens a verdadeira e a mais elevada
liberdade dos filhos de Deus.
Foi
justamente quando ele trabalhava na construção da casa de um
clérigo protestante que se ofereceu ocasião para que Matt tomasse
uma resolução definitiva. E não nos parece isso simples
coincidência. Talvez visse, então, o operário com os próprios
olhos o embaraço que a vida de família pode causar a quem quer
viver só para Deus e para as almas. Talvez compreendesse, então,
mais perfeitamente, o porquê do celibato que a Igreja impõe àqueles
que voluntariamente querem ser seus ministros.
O
fato foi, assim, contado pela própria mãe de Matt. A jovem
cozinheira do pastor protestante ficou encantada com as maneiras
modestas e dignas do operário. Não era como os outros
trabalhadores, que não respeitavam, que gostavam de dizer graças à
cozinheira e às outras raparigas. Católica, piedosa, séria, vendo
a linha que Matt conservava sempre, teve coragem de lhe falar,
respeitosamente, em matrimônio. Disse-lhe também que possuia boas
economias, com as quais e com o seu trabalho poderiam viver
honestamente com certo conforto.
Matt
não a repeliu logo, pois que notou as boas intenções da piedosa
donzela. Disse-lhe que faria uma novena, depois da qual lhe daria uma
resposta.
De
certo, foi a novena à Mãe querida do céu, que o ajudara já
visivelmente em outras dificuldades, mas principalmente em sua
mudança de vida.
Mas,
terminada a novena, Matt estava mais resoluto do que nunca: queria
continuar a sua vida solitária de penitência. É um fato: quem
experimentou a renúncia silenciosa, já não pode viver sem ela.
E
Matt declarou à moça a sua resolução generosa.
Ela,
de certo, ouviu, se não com alegria, com espírito de fé, ao menos.
Que N. S. o abençoasse. E eles se separaram para sempre.
Sua
resolução ficou inabalável até ao fim.
Quando
gracejavam com ele os companheiros, perguntando-lhe quando casaria, o
solitário respondia, com certa graça, para não revelar os seus
segredos, que o casamento atrapalharia a sua vida.
E
a boa mãe também contava que Matt confiara a um de seus amigos
íntimos, que fora a “Virgem Maria que lhe dissera um dia de viver
sempre em virgindade”.
Feliz
a alma cristã que se deixa levar assim, pela direção toda maternal
de Maria Santíssima.
Do
alcoolismo à santidade
No
ano de 1925 em Dublin um jornal publicou a seguinte notícia: “Um
homem idoso perdeu os sentidos na Gramby Lane. No hospital
descobriram que estava morto; não trazia consigo nenhum documento”.
Tratava-se
de Matt Talbot, que de alcoólico inveterado, se tornou um verdadeiro
santo.
Era
o segundo de 12 irmãos, e nasceu numa família pobre de Dublin
(Irlanda) em 1856.
Terminada
a instrução primária, Matt Talbot empregou-se na casa de um
negociante de vinhos, como moço de recados, aos doze anos de idade
Aí
aprendeu a beber, infelizmente. E passados dois anos, era um
miserável alcoólico.
Os
pais pensavam que mudando de emprego, o rapaz deixasse a bebida, e
puseram-no a trabalhar como ajudante de pedreiro. Continuou porém,
preso ao álcool. No fim de cada semana gastava quase todo o
ordenado nas tabernas.
Quando
não bebia, Matt era amável, serviçal, simpático e acolhedor. Mas
quando ficava embriagado, fazia-se valentão e metia-se em brigas.
Durante
14 anos, Matt não passou de um pobre bêbado e jogador viciado.
O
jogo hipnotizava-o e a bebida atraía-o irresistivelmente.
Aos
sábados, dia de pagamento, ele ia esperar diante do portão da
fábrica os companheiros que deixavam o trabalho com o ordenado da
semana, esperando que o convidassem para beber um copo. Quase ninguém
parava para falar com ele. Não era bem visto, obviamente.
Numa
tarde caiu em terrível abatimento físico e moral, como não lhe
havia acontecido até então. Sentia asco, nojo de si mesmo e do seu
vício degradante. Como se sucedessem esses estados com tanta
freqüência, um dia disse à mãe, para surpresa dela:
--
Hoje fiz um voto a Deus!
--
Que voto meu filho?
--
O voto de não beber durante três meses!
No
dia seguinte foi trabalhar normalmente na fábrica. Passou bem a
semana inteira. No sábado imediato, os companheiros convidaram-no
para ir beber um copo, o que raramente acontecia.
Por
delicadeza, aceitou o convite. Mas os companheiros, arregalando os
olhos e sacudindo a cabeça, ficaram admirados quando o viram beber
apenas água mineral!
Entretanto,
a luta para cumprir o voto durante aqueles três meses foram para ele
um terrível tormento. E dizia à sua mãe como forma de desabafo:
--
Já não aguento mais, minha mãe! Tenho de voltar a beber!
Mas
resistia, e as lágrimas corriam-lhe pela face. Mais tarde confessou:
"Foi então que me pareceu ouvir uma voz interior que dizia: --
A sobriedade é uma tolice. Você é totalmente incapaz de viver sem
bebida. Nenhum homem viciado consegue viver sem álcool!
Matt
reconheceu então que era um aviso do Céu a explicar-lhe que por
suas próprias forças seria incapaz de abandonar para sempre o vício
da bebida. Era preciso pedir essa graça a Deus Nosso Senhor.
De
seguida humilhou-se e suplicou a Deus que lhe concedesse forças para
dominar e largar esse vício da embriaguez.
A
partir de então, dirigia-se toda manhã à Igreja dos Franciscanos
para assistir Missa e receber humilde e devotamente a Sagrada
Comunhão.
Passados
os três meses, Matt renovou o voto por um ano. Aos poucos foi-se
livrando da bebida até se tornar um homem livre dessa prisão
alcoólica, embora de quando em quando tivesse que lutar contra a
tentação de beber. Foi ele mesmo quem o disse:
"Quando
em certa manhã ia para a Igreja dos Franciscanos, assaltou-me um
terrível desejo de tomar álcool. Não sabia como havia de resistir.
Durante duas horas andei sem rumo pela cidade e parei diante de uma
igreja. Entrei, coloquei-me de joelhos diante do altar, e de todo o
coração supliquei a Deus:
-- "Senhor, não me deixeis cair novamente no vício da embriaguez, que
desejo vencer com o vosso amparo e ajuda! Fiquei ali não sei
quanto tempo".
Ao
longo dos meses e anos, pouco a pouco Matt tornou-se outro homem.
Sentiu-se completamente livre da tentação da bebida.
De
vez em quando era visto entrar numa e outra taberna com um envelope
na mão. Levava o dinheiro para pagar as bebidas que no passado bebeu
fiado.
Daí
por diante, entregou-se a uma rotina de muita oração e
impressionante penitência, durante seus últimos 40 anos de vida.
Levantava-se
às 5 da manhã para assistir à Missa antes do trabalho e dava à
oração todos os momentos livres de que dispunha.
Quando
caiu desmaiado ao dirigir-se para a Missa, e levado para o hospital,
encontraram-lhe o corpo cingido por áspero cilício de pontas de
arame mordentes, sinal da intensidade da mortificação que
praticava.
Introduzindo
o processo de beatificação em 1947, foi declarado Venerável em
1975. A sua conversão foi tão sincera que dificilmente se
encontrará nestas terras um exemplo de tanta oração e penitência
como a deste carregador das docas de Dublin.
Matt
Talbot morreu a caminho da Missa na Igreja dos Franciscanos, depois
de ter completado 69 anos de idade.
Fonte:
http://pastoralteologica.blogspot.com.br/2012/06/do-alcoolismo-santidade.html
3 comentários:
fantástico!
Uma linda história.
Que lindo testemunho de conversão!Matt Talbot, interceda pelo meu filho 🙏
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