A história de Santa Ângela de Foligno,
considerada uma das primeiras místicas italianas, poderia ser o roteiro de um
romance ou novela, com final feliz, é claro. Transformou-se de mulher fútil e
despreocupada em mística e devota, depois literata, teóloga e, finalmente,
santa.
A data mais
aceita para o nascimento de Ângela, em Foligno, perto de Assis e de Roma, é o
ano 1248. Ângela era filha de pais nobres, e deles recebeu aprimorada educação.
De beleza não comum, de maneiras afáveis, Ângela, bem nova ainda, contraiu
núpcias com um cavalheiro distintíssimo de sua terra. Abençoada de prole
numerosa, não lhe faltaram os cuidados múltiplos de mãe de família; mas tempo
bastante lhe sobrava para dedicar-se a caprichos de vaidade, a festas e
divertimentos de toda a sorte. Esta mudança no pensar e proceder da filha era
objeto de sérias apreensões da parte dos pais, que não perderam ocasião de
mostrar a Ângela a inconveniência de sua conduta. Debalde foram esses esforços
e as admoestações dos pais. Ângela contrapunha as exigências de sua posição, a
que entendia dever sacrificar as aspirações religiosas. Assim viveu até os
trinta e sete anos, quando uma tragédia avassaladora mudou sua vida.
Num curto espaço
de tempo perdeu os pais, o marido e todos os numerosos filhos, um a um. Mas, ao
invés de esmorecer, uma mulher forte e confiante nasceu daquela sequência de
mortes e sofrimento, cheia de fé em Deus e no seu conforto espiritual.
Ângela, que a
princípio tanto amor manifestava às coisas frívolas deste mundo, mais tarde
confessou: “Descontente de mim mesma,
comecei a pensar seriamente em minha vida. Deus fez-me conhecer os meus
pecados, e minha alma encheu-se de pavor, prevendo a possibilidade de minha
condenação; tamanha era minha vergonha, que não achei coragem de confessar
todos os pecados, do que resultou que diversas vezes recebi os santos
Sacramentos sacrilegamente. Vi minha consciência atormentada dia e noite. Pedi
a Nossa Senhora, que me conduzisse a um sacerdote esclarecido, ao qual pudesse
fazer minha confissão geral. Esta oração foi ouvida: não senti, porém, nenhum
amor a Deus, mas tanto mais arrependimento, dor e vergonha dos meus pecados”.
Como consequência, em 1291 fez os votos
religiosos, doando todos os seus bens para os pobres e entrando para a Ordem
Terceira de São Francisco, trocando a futilidade por penitências e orações. Ângela
modificou radicalmente a vida. Antes tão ávida de diversões, procurou em
seguida os doces e suaves prazeres do lar; antes vaidosa e opulenta, dispôs das
jóias, transformando-as em ricas esmolas; antes dissipada, tornou-se amantes do
recolhimento e da meditação. “Tudo isto – ela mesma confessou – me era
extremamente difícil; faltava-me ainda o doce consolo do amor de Deus, que
suaviza as coisas mais difíceis; era obrigação minha agradar a meu esposo e
tomar em consideração os deveres do meu
estado, por maior que fosse minha vontade de abandonar tudo e morrer a mim
mesma”
O dom místico
começou a se manifestar quando Santa Ângela recebeu em sonho a orientação de
São Francisco para que fizesse uma peregrinação a Assis. Ela obedeceu, e a partir
daí as manifestações não pararam mais.
A vaidade, a
sensualidade, a febre do desejo de agradar aos homens, deram lugar à humildade,
à mortificação e ao amor de Jesus Crucificado. A devoção à sagrada Paixão e
Morte de Nosso Senhor tomou-lhe posse da alma e de todas as aspirações. Na
meditação dos sofrimentos do Homem-Deus achou paz e consolo.
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Jesus
distingui-a com aparições e fê-la participar da cruz. Contam seus escritos que
ela chegava a sentir todo o flagelo da Paixão de Cristo, nos ossos e juntas do
próprio corpo. Grandes eram os seus sofrimentos corporais e espirituais; de
todos o maior era uma contínua perseguição diabólica. O demônio, apresentando-lhe
continuamente ao espírito a vida pecaminosa de outrora, queria arrancar-lhe a
fé na misericórdia divina, no valor de suas obras de penitência e importunava-a
com tentações as mais terríveis contra a santa pureza, tanto que Ângela mesma
confessa: “Seria mais tolerável para mim
sofrer todas as dores, suportar as torturas mais horrorosas dos mártires, que
me ver exposta às tentações diabólicas contra a pureza”.
A oração e as
obras de caridade foram as armas com que venceu nesta luta tremenda. Quotidiana
era sua visita aos pobres doentes no hospital, aos quais, além de esmola
espiritual, levava também o socorro material, ganhando assim as almas para
Jesus Cristo.
Todas essas
manifestações, acompanhadas e testemunhadas por seu diretor espiritual, Santo Arnaldo
de Foligno, foram registradas em narrações que ela escrevia em dialeto úmbrio e
que eram transcritas imediatamente para o latim ensinado nas escolas, para que
pudessem ser aproveitados imediatamente por toda a cristandade. Trinta e cinco
dessas passagens foram editadas com o título "Experiências espirituais, revelações e consolações da
Bem-Aventurada Ângela de Foligno", livro que passou a ser básico para
a formação de religiosos e trouxe para a Santa o título de "Mestra dos
Teólogos". Muitos dos quais a comparam como Santa Tereza de Ávila e Santa
Catarina de Sena.
Ângela terminou
seus dias orientando espiritualmente, através de cartas, centenas de pessoas
que pediam seus conselhos. Ao Santo Arnaldo, a quem ditou sua autobiografia,
disse o seguinte: "Eu, Ângela de
Foligno, tive que atravessar muitas etapas no caminho da penitencia e
conversão. A primeira foi me convencer de como o pecado é grave e danoso. A
segunda foi sentir arrependimento e vergonha por ter ofendido a bondade de
Deus. A terceira me confessar de todos os meus pecados. A quarta me convencer
da grande misericórdia que Deus tem para com os pecadores que desejam ser
perdoados. A quinta adquirir um grande amor e reconhecimento por tudo o que
Cristo sofreu por todos nós. A sexta sentir um profundo amor por Jesus
Eucarístico. A sétima aprender a orar, especialmente rezar com amor e atenção o
Pai Nosso. A oitava procurar e tratar de viver em contínua e afetuosa comunhão
com Deus". Na Santa Missa, ela muitas vezes via Jesus Cristo na Santa
Hóstia.
No dia que lhe
precedeu a morte, sentiu-se livre de todas as dores e tentações e uma
felicidade celestial inundou-lhe a alma. Nesta disposição recebeu os santos
sacramentos, e entrou no reino da glória, no dia da oitava da Festa dos
Inocentes, conforme tinha profetizado. Morreu, em 04 de janeiro 1309, já
sexagenária, sendo enterrada na Igreja de São Francisco, em Foligno, Itália.
Seu túmulo foi
cenário de muitos prodígios e graças. Assim, a atribuição de sua santidade
aconteceu naturalmente, àquela que os devotos consideram como a padroeira das
viúvas e protetora da morte prematura das crianças. Foi o Papa Clemente XI que
reconheceu seu culto, em 1707. Porém ela já tinha sido descrita como Santa por
vários outros pontífices, a exemplo de Paulo III em 1547 e Inocente XII em
1693. Mais recentemente o Papa Pio XI a mencionou também como Santa em uma
carta datada de 1927.
Reflexões:
Santa Ângela é uma daquelas Santas de que não
se pode absolutamente dizer que nasceram santas. Apesar da grande felicidade de
ter bons pais, que vigiavam pela educação moral e intelectual da filha, esta se
deixou levar pelas influências más do mundo, que não é de Deus. Bastante se
afastou do caminho da virtude, chegando ao ponto de não ter mais coragem de
fazer boa confissão e neste estado comungou sacrilegamente. É possível que uma
alma chegue a este ponto? Possível é, e muitos são aqueles, em cuja vida se dá
coisa semelhante. Não fosse a misericórdia divina, a qual, aproveitando-se de
mil circunstâncias, às vezes as mais insignificantes, oferece auxílio à alma
caída, esta não mais se levantaria da sua miséria.
Em Santa Ângela
foi o temor do inferno, que a fez voltar. Apoderou-se da sua alma um temor tal
da justiça divina, que, seguindo o conselho de Nosso Senhor preferiu cortar a
mão, o pé, arrancar o olho que lhe serviam de pecado e fez penitência. –
“Lembra-te dos teus novíssimos e não cairás em pecado”, diz o Espírito Santo.
Não imites a pecadora Ângela no seu mau procedimento, mas, se tiveste a
infelicidade de cair, toma-a por modelo na penitência, na atitude enérgica de
fazer penitência. Boa vontade é que Nosso Senhor quer ver também no pecador.
Desde que a alma infeliz a possua, não tardará o perdão divino, e com este
volta a paz e tranquilidade do espírito.
PENSAMENTOS DE ANGELA DE FOLIGNO
"Sem a luz
de Deus ninguém se salva. Ela ajuda o homem a dar os primeiros passos; ela o
leva ao topo da perfeição. Por isso, aquele que quiser começar a possuir esta
luz de Deus, reze".
"Sua vida
pode ser, mesmo quando sua língua está em silêncio, um límpido
espelho...".
"Quanto
mais você rezar, mais luz receberá; e quanto mais luz receber mais
profundamente verá o sumo bem e a bondade dele definida em todas as coisas. E,
quanto melhor e mais profundamente ver, mais o amará; e quanto mais o amar,
mais será feliz; e quanto mais for feliz, mais compreenderá Deus e será capaz
de entendê-lo".
"A oração
deverá ser feita na medida do possível, numa situação de serenidade de espírito
e, portanto, é possível, no silêncio e com a alma livre de qualquer
ansiedade".
"Não
dormia. Ele chamou-me e disse-me que aplicasse os meus lábios sobre a ferida do
seu lado. Pareceu-me que aplicava os meus lábios, e que bebia sangue, e neste
sangue ainda quente eu compreendi que ficava lavada. Eu senti pela primeira vez
uma grande consolação, misturada uma grande tristeza, porque tinha a Paixão
diante dos meus olhos. E solicitei do Senhor a graça de derramar o meu sangue
por Ele como Ele tinha derramado o seu para mim".
“Quando a morte
te arrancar deste mundo, cheio de vaidades e luxos sem razão, e chegardes a
Minha Presença para ser julgada... vendo os pecados que os homens cometeram ao
olhar para o teu corpo escassamente coberto, tu própria ficarás envergonhada”.
"Se você já
estiver no caminho da perfeição e quiser que esta luz aumente em você, reze; se
você já alcançou a perfeição e quer mais luz para poder nela perseverar, reze;
se você quisera fé, reze; se quiser a esperança, reze; se quiser a caridade,
reze; se quiser a pobreza, reze; se quiser a obediência, a castidade, a
humildade, a mansidão, a fortaleza, reze. Qualquer virtude que você queira,
reze".
"É bom e
muito agradável a Deus que tu ores com o fervor da graça divina, que veles e te
fatigues ao realizar toda ação boa; mas é mais agradável e aceitável ao Senhor
se, faltando a graça, não diminuas tuas orações, tuas vigílias, tuas boas
obras. Atue sem a graça da mesma maneira como o fazias quando a possuías… tu
fazes tua parte, filho meu, e Deus fará a sua. A oração forçada, violenta, é
muito agradável a Deus".
"Seria mais
tolerável para mim sofrer todas as dores, suportar as torturas mais horrorosas
dos mártires, que me ver exposta às tentações diabólicas contra a pureza".
"Colocastes
a humildade de coração e a mansidão por fundamento e firme raiz de todas as
virtudes... Por isso, Senhor, quisestes que, de vós, principalmente, as
aprendêssemos... Dai-me a graça de estabelecer-me em tal alicerce! Fundada
nesta base, esforce-me por crescer. Se for a humildade meu alicerce, será minha
conversação toda angelical, pura, benigna e pacifica. Serei benévolo e
agradável a todos, e com todos mostrar-me-ei amável... Ó humildade, quantos
bens trazes, tu que fazes pacíficos e serenos os que te possuem!”
"O supremo
bem da alma é a paz verdadeira e perfeita... Quem quer, portanto, perfeito
repouso trate de amar a Deus com todo o coração, pois Deus mora no coração. Ele
é o único que dá e que pode dar a paz".
"Sepultei-me
na paixão de Cristo, e me deu a esperança de que nela encontraria minha
libertação".
"Ó nada
desconhecido, ó nada desconhecido! Não pode a alma ter melhor visão neste mundo
do que contemplar o próprio nada e habitar nele como a cela de um
cárcere".
“Ó Deus-Homem
doloroso, ensinai-me a considerar e imitar o exemplo de vossa vida e a aprender
de vós, ó modelo de toda perfeição!... Fazei-me correr atrás de vós com todo o
afeto de minha alma, para chegar, com vossa guia, felizmente, à cruz".
“Ó Jesus, vossa
primeira companhia na terra foi a pobreza voluntária, contínua, perfeita,
suprema... Quisestes viver e ser pobre de todas as coisas temporais... Das
coisas deste mundo só quisestes a extrema indigência, com penúria, fome e sede,
frio e calor, muita fadiga, dureza e austeridade... Quisestes viver pobre de
parentes e amigos e de todo afeto deste mundo... Enfim, vos despojastes de vós
mesmo, exteriormente despido de vosso poder, sabedoria e glória".
"Eu, Ângela
de Foligno, tive que atravessar muitas etapas no caminho da penitencia e
conversão. A primeira foi me convencer de como o pecado é grave e danoso. A
segunda foi sentir arrependimento e vergonha por ter ofendido a bondade de
Deus. A terceira me confessar de todos os meus pecados. A quarta me convencer
da grande misericórdia que Deus tem para com os pecadores que desejam ser
perdoados. A quinta adquirir um grande amor e reconhecimento por tudo o que
Cristo sofreu por todos nós. A sexta sentir um profundo amor por Jesus
Eucarístico. A sétima aprender a orar, especialmente rezar com amor e atenção o
Pai Nosso. A oitava procurar e tratar de viver em contínua e afetuosa comunhão
com Deus".
Corpo incorrupto de Santa Ângela de Foligno |
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Um comentário:
rogai por mim santa angela
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