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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

SÃO PEDRO DE VERONA, presbítero, grande pregador contra os hereges, inquisidor, taumaturgo e mártir. É o protomártir da Ordem de São Domingos.



São Pedro de Verona ou São Pedro Mártir,
grande pregador santo da Ordem de São Domingos
 e Protomártir de sua Ordem. 
      Dotado de raro carisma de pregador e convertedor de hereges, esse extraordinário frade dominicano libertou, por meio de uma Cruzada, toda a Toscana da heresia dos maniqueus, sendo por eles martirizado
No domingo, 5 de abril de 1252, dois frades dominicanos viajavam pela estrada que liga as cidade de Como e Milão, na Itália. Enquanto caminhavam, iam rezando o Saltério. De repente, saindo da mata, dois homens os atacaram, desferindo sobre um deles terrível golpe de maça. O frade caiu por terra e, lentamente, molhando dois dedos no próprio sangue, escreveu no chão: “CREDO”. Mal tinha acabado a escrita, cravaram-lhe um punhal no coração. Morto o grande inimigo de sua seita – seita dos cátaros ou maniqueus – os dois hereges lançaram-se sobre o outro dominicano que, de joelhos, rezava, matando-o no mesmo instante.
Esses frades assassinados tão barbaramente eram dois filhos espirituais de São Domingos. Um deles, Pedro de Verona, o Inquisidor-Mor de toda a Itália, era tão grande pregador e polemista, que os hereges tinham sido obrigados a proibir seus correligionários de ouvi-lo devido ao número de conversões; o outro, era seu companheiro, Frei Domingos.
São Pedro de Verona tinha tal fama de santidade, que foi canonizado no mesmo ano de sua morte.



Lírio nascido no lodo
Nada pode ser mais favorável para a formação de um Santo do que um lar verdadeiramente cristão, pois de uma árvore má não pode sair um bom fruto. Mas a Providência pode abrir exceções a essa regra, e muitas vezes abre. Foi o que sucedeu com São Pedro de Verona, filho de pais hereges maniqueus.
Como nota um biógrafo seu, “parece que havia nascido com uma aversão natural pelas máximas desta abominável seita e a todos que pretendiam encaminhá-lo a ela. Prevenido por uma graça oculta, igualmente desprezava, mesmo antes do uso da razão, os afagos, carícias, solicitações bem como as ameaças, golpes e maus tratos dos que desejavam, com a maior ânsia, instruí-lo desde cedo nos elementos de sua heresia”.[i]
Como os hereges não tinham escolas na cidade, o pai enviou-o a um professor católico para aprender as primeiras letras. Este semeou no coração do pequeno Pedro, ávido das verdades eternas, os fundamentos da única Religião verdadeira, a católica.
Certo dia, um tio herege dos mais fanáticos, encontrou-se com o menino que voltava das aulas, e o interrogou sobre o que estava aprendendo. Pedro inflamou-se então na explicação do Símbolo dos Apóstolos (o Credo), que refuta o erro fundamental daqueles hereges. Por mais que o tio argumentasse, o menino defendia com ardor o que aprendera.
Preocupado, o herege foi procurar o irmão e alertou-o no sentido de que, caso não impedisse o menino de continuar a freqüentar as aulas, este estaria perdido para a seita. O pai de Pedro, seja por não ser dos mais fanáticos maniqueus, supondo talvez que depois de adulto, ser-lhe-ia mais fácil convencê-lo, deixou-o com o professor. E, mais tarde, enviou-o à Universidade de Bolonha.
"Era lastimável a corrupção de costumes que reinava entre a juventude daquela Universidade. E é verossímil que isto mesmo movesse o pai de Pedro a enviá-lo para lá, parecendo-lhe que, uma vez que a licenciosidade de costumes lhe estragasse o coração, seria então fácil apagar dele as impressões da doutrina católica”.[ii] Mas Deus preservou-o do vício como o tinha protegido da heresia.
Foi em Bolonha que Pedro tomou conhecimento de uma nova ordem de frades pregadores e de seu fundador, Domingos de Gusmão, em cujo hábito, negro e branco, estão refletidas as duas virtudes que ele mais amava: a humildade e a pureza. Apesar de ter apenas 16 anos, o adolescente apresentou-se a São Domingos, que o admitiu incontinenti no noviciado.
O noviço julgou seu dever domar de vez todas as más inclinações, triste herança dos pobres filhos de Eva, por uma mortificação espantosa. Praticamente não comia, pouco dormia, e retalhava o corpo com flagelações. Em pouco tempo seu organismo ressentiu-se e ele foi atacado por mortal doença. Mas uma milagrosa intervenção divina salvou-lhe a vida.


A iconografia do santo é um tanto
"exótica" para os tempos atuais. Porém,
na Idade Média era comum os mártires
serem representandos com os instrumentos
de seus martírios e com as marcas das
torturas que sofreram. 
           Zeloso demolidor das heresias 
     Após sua profissão religiosa, Frei Pedro dedicou-se com afinco aos estudos, tornando-se capaz de, em pouco tempo, receber a ordenação sacerdotal e “de subir no púlpito, de atacar os hereges, e de parecer nas mais belas ocasiões para a defesa e sustentáculo da Igreja. Ele se comportava com tanto zelo que, segundo os termos de Santo Antonino, todas suas ações pareciam animadas de uma muito viva fé e ardente caridade”.[iii] Desde sua ordenação, Frei Pedro pedia sempre no Santo Sacrifício da Missa a graça de derramar seu sangue pela Fé.
Começou então a parte verdadeiramente extraordinária de sua vida, que tem poucas similares na História da Igreja.
Com um dom especial para mover os corações mesmo dos pecadores mais endurecidos e dos hereges, sua pregação era acompanhada de milagres portentosos. O que convertia muitos, para desespero do inimigo infernal que procurava de todos os modos impedi-lo de falar.
Certa vez pregava ele na praça do mercado de Florença, pois não havia igreja suficientemente grande na cidade para conter a multidão que fora ouvi-lo. De repente, surgiu um enorme corcel negro, correndo a toda brida em direção aos ouvintes, parecendo disposto a esmagar tudo que encontrasse pela frente. O Santo, com o Sinal da Cruz, dissipou como fumaça esse fantasma feito pelo demônio.
De outra feita, depois de uma pregação, um rapaz pediu para se confessar. Acusou-se de ter dado um pontapé em sua mãe. Frei Pedro repreendeu-o severamente, dizendo-lhe que por esse ato ele merecia ter o pé decepado. O infeliz ficou compungido, mas interpretou mal a admoestação do Santo, pois chegando em casa, cortou o pé. Houve um vozerio contra Frei Pedro, acusado de imprudência. Este foi até a casa do penitente, pegou-lhe o pé decepado, e com uma bênção juntou-o de novo à perna.
Como os líderes dos hereges estavam desesperados pelas perdas que sofriam, um deles resolveu “desmascarar” o Santo. “Eu vou, disse ele aos seus, fingir-me de doente, e aproximar-me-ei dele com a multidão; ele impor-me-á as mãos e dir-me-á que eu estou curado. Então eu declararei sua impostura”. E fez isso. Frei Pedro, no entanto, disse-lhe: “Se estás doente, sejas curado; se não, fiques doente”. No mesmo momento, o homem foi atacado por uma terrível febre, que o levou a um estado desesperador. Confessando sua falta, pediu ao Santo que tivesse pena de sua alma e de seu corpo. Fez uma abjuração de seus erros e foi curado.[iv]
Numa outra ocasião um pseudo-bispo dos maniqueus desafiou o Santo para um debate público. Como o sol estava abrasador e ele não conseguia refutar os argumentos do Santo, para provocá-lo e desviar o assunto, disse-lhe: “Por que não pedes ao teu Deus que nos envie uma nuvem para nos proteger?”. - Fá-lo-ei da melhor vontade, respondeu o servo de Deus sem hesitar, se me prometeres abjurar tua heresia, caso vejas a oração ouvida”. Isto foi aceito; então disse Frei Pedro: “Para conhecerdes todos, e confessardes à uma, que o nosso Deus, único onipotente é o criador das coisas visíveis e invisíveis, peço-Lhe, em nome de seu Filho Jesus Cristo, que nos envie uma nuvem para nos defender dos raios do sol”. E ao fazer o sinal da Cruz, imediatamente apareceu no céu sereno uma nuvem amena que aliviou a todos.[v]
A fama do grande taumaturgo precedia-o nas cidades, sendo ele acolhido com o repicar dos sinos das igrejas. Todos queriam receber sua bênção, vê-lo de perto, tocá-lo. Foi mesmo necessário, em Milão, preparar uma cadeira portátil fechada, para protegê-lo da multidão em seus deslocamentos de um lugar para outro.

   Colóquios com três bem-aventurados celestes
     São Pedro de Verona foi muito favorecido com visões celestes. As virgens e mártires Santa Catarina, Santa Inês e Santa Cecília freqüentemente lhe apareciam, e tinham com ele familiar entretenimento. Isso foi-lhe causa de uma grande provação, pois um dia um frade ouviu aquelas vozes femininas na cela do santo, e comunicou ao Superior. Este, no capítulo, repreendeu Frei Pedro, que em vez de se defender, disse apenas: “Sou um grande pecador”, pois, em sua humildade, não queria que soubessem dos favores celestes que recebia. Foi então relegado a um convento distante, com a proibição de sair e de pregar.
Certo dia, nessa reclusão forçada, Frei Pedro lamentou-se amorosamente diante de um Crucifixo, dizendo: “E, então, meu Deus! Vós, que conheceis minha inocência, como podeis sofrer que eu permaneça tanto tempo na infâmia?”. Nosso Senhor respondeu-lhe: “E eu, Pedro, não era inocente? Merecia os opróbrios e as dores com que fui acabrunhado no curso de minha Paixão? Aprende assim de mim a sofrer com alegria as maiores penas, sem ter cometido os crimes que te são imputados”.[vi]Mas os superiores deram-se conta de seu erro e chamaram de volta o grande pregador.
Em 1232 o Papa Gregório IX, que conhecia o zelo e a pureza de doutrina de Pedro de Verona, nomeou-o Inquisidor-Geral da Fé. Foi enviado então a Florença para examinar uma Ordem religiosa que estava surgindo, fundada por sete varões daquela cidade. Graças a seu testemunho favorável, a Ordem dos Servos de Maria foi confirmada.
Frei Pedro de Verona não combatia a heresia só com palavras mas “persuadiu os católicos a se coligarem em uma espécie de cruzada para expulsar do país todos os hereges; e, em menos de seis anos, logrou ver católica a Toscana inteira”.[vii]

       Ardor apostólico coroado com o martírio
Os hereges não se conformavam com o desaparecimento de sua seita. Assim, coligaram-se para exterminar aquele que tantos estragos fazia.
Por uma luz sobrenatural, São Pedro conheceu que o momento de seu tão desejado martírio estava próximo. E o disse a muita gente, por exemplo, a uma multidão de 10 mil pessoas que o ouviam em Milão, no Domingo de Ramos.
No sábado seguinte à Páscoa, como vimos, dirigia-se de Como, onde era Prior, para Milão, quando foi martirizado aos 46 anos. Como foi o primeiro mártir da Ordem Dominicana, é também conhecido como São Pedro Mártir, e foi imortalizado por seu irmão de hábito, o célebre Beato Fra Angélico, em várias pinturas.


Pintura de Fra Angelico, representando o
momento do martírio do santo, no qual ele
embebe os dedos com seu sangue para, com
ele, escreve no chão: "CREDO". 


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Notas:
1. Abbé J. Croisset, S.J., Año Cristiano, Madrid, Saturnino Calleja, 1901, t. II, p. 342.
2. Id. ib., p. 343.
3. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, par Mgr. Paul Guérin, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo V, p. 80.
4. Vies des Saints à l’usage des Prédicateurs, Abbé C. Martin, Librairie Religieuse et Ecclésiastique, Paris, 1865, tomo II, p. 133.
5. Cfr. Santos de Cada Dia, organização do Pe. José Leite, SJ., Editorial Apostolado da Oração, Braga, 1987, vol. II, p. 181.
6. Les Petits Bollandistes, op. cit., p. 81.
7. Abbé Croisset, op. cit. p. 345.


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