A origem do nome
São Jorge nasceu
no século III, na Capadócia – atual Turquia – de origem romana. Seu nome
original é Georgius. Jorge vem de geos (terra) e orge (cultivar) o que
significa, literalmente, "cultivando a terra".
A vida de São Jorge
O Concílio de Nicéia
considerou a legenda de São Jorge apócrifa, pois vários fatos relatados são
discrepantes e impossíveis de serem confirmados como verídicos. Assim nos
relata Jacoppo em sua Legenda Áurea e, de fato, não há muito como mudar essa
situação, em virtude da carência de fontes.
Mas o importante
é saber que São Jorge realmente existiu e foi um grande exemplo de vida cristã,
muito embora não seja mais possível reconstruir todos os seus passos sobre a
terra, como podemos fazer com certa facilidade com outros grandes santos
antigos, como São Cipriano e Santo Agostinho.
São Jorge era um
tribuno romano. As fontes antigas dizem que ele teria sido martirizado na
cidade persa de Diáspolis, chamada anteriormente de Lida, perto de outra cidade
persa chamada Jope. Essa é a versão do calendário de São Beda. Outras versões
dizem que seu martírio ocorreu sob os imperadores Dioclesiano (sem a
participação dele) e Maximiano. Outros dizem ainda que teria sido sob o
Governador Daciano, nos tempos de Dioclesiano e Maximiano.
As perseguições romanas
O governador
Daciano, nos tempos de Dioclesiano, em apenas um mês, martirizou 17 mil
cristãos. Esse massacre seria muito maior se não tivesse havido muitos
abjurações, em que cristãos amedrontados sacrificaram aos ídolos pagãos, como
era a vontade do Imperador.
São Jorge ficou
consternado com o que via. Distribuiu tudo que possuía, trocou suas vestes de
tribuno pelas humildes vestes dos cristãos e chamou os deuses romanos de
demônios, o que enfureceu o Governador. Jorge identificou-se a Daciano como
vindo de nobre estirpe da Capadócia, que, com a ajuda de Deus, havia submetido
a Palestina, mas que deixaria tudo para seguir ao Deus do Cristo.
Daciano mostrou
toda a sua “civilidade” romana ao ouvir a declaração de Jorge. Mandou-o
suspender no potro (um instrumento de tortura romano que recebeu esse nome por
ser parecido com um cavalo) e que seus membros fossem dilacerados com garfos de
ferro. Para complementar, mandou ainda
que Jorge fosse queimado com tochas e suas feridas salgadas. Na noite seguinte,
o Senhor apareceu a São Jorge e o confortou de forma tal que os tormentos pelos
quais passou pareciam não ter acontecido, pois mesmo alquebrado, Jorge
permanecia fiel e sereno.
Um mágico foi convocado por Daciano, que julgava que os cristãos, na verdade, eram embusteiros, como ele o era. O mágico prometeu ao governador que dobraria São Jorge ou perderia sua cabeça (literalmente). Envenenou vinho e deu para São Jorge beber. Fazendo o sinal da cruz sobre a bebida, o santo a tomou e nada lhe aconteceu. O mago se lançou aos pés de Jorge e pediu para tornar-se cristão. Foi decapitado em seguida.
A “farra” de
Daciano continuou. Jorge foi colocado na roda de espadas, que quebrou e nada
lhe ocorreu. Foi mergulhado em um caldeirão de chumbo derretido e retirado de
lá como quem sai de um banho quente.
Daciano viu que,
por mais que tentasse, não conseguia seu intento. Então, tentou comprar Jorge
e, com mansidão, procurou convertê-lo ao paganismo. Fingindo entrar no seu
jogo, Jorge concordou. A cidade então compareceu ao templo para ver o
impenitente abjurar. São Jorge então caiu de joelhos e pediu a Deus que
castigasse os pagãos. O templo, seus deuses e seus altares foram destruídos por
uma chuva de enxofre e os sacerdotes quedaram mortos.
Alexandrina,
esposa de Daciano, vendo o sofrimento de Jorge e as crueldades de seu marido,
resolveu abraçar a cruz, o que lhe custou a vida. Seu marido mandou pendurá-la
pelos cabelos e surrá-la duramente. Durante esse martírio, temeu Alexandrina o
fato de não ter sido banhada nas águas batismais. Jorge acalmou-lhe o coração e
disse-lhe que seu sangue mártir seria seu batismo. E assim foi.
A Morte de São Jorge
No dia seguinte
à morte de Alexandrina, Jorge foi condenado pelo governador a ser arrastado por
toda a cidade e, ao final, ser decapitado.
Ele orou a Deus
pedindo que todos aqueles que implorassem pedindo a assistência divina, por
onde ele passasse teriam seus pedidos atendidos. A voz divina concedeu o seu
pedido. Terminada a horrenda tortura,
São Jorge teve a cabeça decapitada. Era o ano de Nosso Senhor de 247.
Daciano não
ficou sem castigo: nesse mesmo dia, o fogo do céu caiu sobre ele e sobre sua
guarda pessoal, matando-os instantaneamente.
São Jorge da
Capadócia, rogai por nós!
Disseminação da devoção a São Jorge
Na Itália, era padroeiro da cidade de
Gênova. Frederico III da Alemanha dedicou
a ele uma Ordem Militar. Desde Dom Nuno Álvares Pereira, o santo é reconhecido
como padroeiro de Portugal e do
Exército. Na França, Gregório de Tours
era conhecido por sua devoção ao santo cavaleiro; o Rei Clóvis dedicou-lhe um
mosteiro, e sua esposa, Santa Clotilde, mandou erguer várias igrejas e
conventos em sua honra. A Inglaterra foi o país ocidental onde a devoção ao
santo teve papel mais relevante.
O monarca
Eduardo III colocou sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada
por ele em 1330. Por considerá-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o rei
inglês Ricardo I, comandante de uma das primeiras Cruzadas, constituiu São
Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam reconquistar a Terra Santa dos
muçulmanos. No século XIII, a Inglaterra já celebrava o dia dedicado ao santo
e, em 1348, criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses acabaram por
adotar São Jorge como padroeiro do país, imitando os gregos, que também trazem
a cruz de São Jorge na sua bandeira.
Ainda durante a
Grande Guerra, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos
enfermeiros militares e às irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta
dos feridos de guerra.
As artes,
também, divulgaram amplamente a imagem do santo. Em Paris, no Museu do Louvre,
há dois quadros famosos de Rafael intitulados São Jorge e o dragão. Na Itália,
existem diversos quadros célebres, como um de autoria de Donatello.
A mais conhecida
imagem brasileira de São Jorge seria, possivelmente, de autoria de Martinelli.
Padroeiro da Inglaterra
Não há consenso,
porém, a respeito da maneira como teria se tornado padroeiro da Inglaterra. Seu
nome era conhecido pelos ingleses e irlandeses muito antes da conquista
normanda, o que leva a crer que os soldados que retornavam das cruzadas
influíram bastante na disseminação de sua popularidade. Acredita-se que o santo
tenha sido escolhido o padroeiro do reino quando o rei Eduardo III fundou a
Ordem da Jarreteira, também conhecida como Ordem dos Cavaleiros de São Jorge,
em 1348. De acordo com a história da Ordem da Jarreteira, Rei Artur, no século
VI, colocou a imagem de São Jorge em suas bandeiras. Em 1415, a data de sua
comemoração tornou-se um dos feriados mais importantes do país.
Hoje em dia na
Inglaterra, todavia, a festa de São Jorge comemorada todo dia 23 de abril tem
tido menos popularidade ao longo das últimas décadas. Algumas rádios locais,
como a BBC já chegaram a promover enquetes perguntando qual seria, de acordo
com a opinião pública, o orago dos ingleses, e eis que o eleito foi Santo Alba.
Muitos fatores contribuíram a isso. Primeiramente por ter sido substituído,
segundo bula do Papa Leão XIII de 2 de junho de 1893, por São Pedro como
padroeiro da Inglaterra — recomendação que perdura até hoje.
Posteriormente,
pelas reformas do Papa Paulo VI, São Jorge foi rebaixado a santo menor de
terceira categoria (segundo hierarquia católica), cujo culto seria opcional nos
calendários locais e não mais em caráter universal. No entanto, a reabilitação
do santo como figura de primeira instância, e arcanjo, lembrando a figura do
próprio Jesus Cristo, pelo Papa João Paulo II em 2000, conferiu nova relevância
a São Jorge. Atualmente, haja vista a grande popularidade e apelo turístico de
festas como a escocesa St. Andrew's Day, a irlandesa St. Patrick's Day e mesmo
a galesa St. Dave's Day, têm-se formado grande iniciativa de setores
nacionalistas para que o St. George's Day volte a gozar da mesma popularidade
entre os ingleses como antigamente.
Padroeiro de Portugal
Pensa-se que os
Cruzados ingleses que ajudaram o Rei Dom Afonso Henriques a conquistar Lisboa,
em 1147 terão sido os primeiros a trazer a devoção a São Jorge para Portugal.
No entanto, só no reinado de Dom Afonso IV de Portugal que o uso de "São
Jorge!" como grito de batalha se tornou regra, substituindo o anterior
"Sant'Iago!".
O Santo Dom Nuno
Álvares Pereira, Condestável do Reino, considerava São Jorge o responsável pela
vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota e aí está a Ermida de São Jorge a
testemunhar esse facto. O Rei Dom João I de Portugal era também um devoto do
Santo, e foi no seu reinado que São Jorge substituiu Santiago maior como
padroeiro de Portugal. Em 1387, ordenou que a sua imagem a cavalo fosse
transportada na procissão do Corpus Christi.
Assim, séculos
mais tarde, chegaria ao Brasil.
Padroeiro da Catalunha
A presença
documental da devoção a São Jorge em terras catalãs remonta ao século VIII:
documentos da época falam de um sacerdote de Tarragona chamado Jorge que fugiu
para a Itália. Já no século X, um bispo de Vic tinha o nome de Jorge, e no
século XI o abade Oliba consagrou um altar dedicado ao santo no mosteiro de
Ripoll. Encontram-se exemplos do culto a São Jorge dessa época, na consagração
de capelas, altares e igrejas em diversos pontos da Catalunha. Os reis catalães
mostraram a sua devoção a São Jorge: Tiago I de Catalunha explica em suas
crônica que foi visto o santo ajudando os catalães na conquista da cidade de
Malorca; Pedro o Cerimonioso fundou uma ordem de cavalaria sob a sua proteção;
Afonso, o Magnânimo dedicou-lhe capelas nos reinos da Sardenha e Nápoles.
Os reis e a
Generalidade da Catalunha impulsionaram a celebração da festa de São Jorge por
todas as regiões catalãs. Em Valência, em 1343, já era uma festa popular; em
1407, Mallorca celebrava-a publicamente. Em 1436, a Generalidade da Catalunha
propôs, nas côrtes reunidas em Montsó, a celebração oficial e obrigatória de
São Jorge; em 1456, as côrtes reunidas na Catedral de Barcelona ditaram uma
constituição que ordenava a festa, inclusa no código das Constituições da
Catalunha. As remodelações do Palácio da Generalidade (sede do governo catalão)
feitas durante o século XV são a prova mais clara da devoção impulsionada por
esse órgão público, ao colocar um medalhão do santo na fachada gótica e ao
construir no interior a capela de São Jorge.
Essa é a parte
que o povo gosta. Às margens de um lago grande como um mar escondia-se uma
enorme e pestilento dragão, que aterrorizava a população local.
Para impedi-lo
de procurar alimentos na cidade, os moradores ofereciam em holocausto à fera um
tributo de duas ovelhas por dia. Mas em pouco tempo passou a faltar ovelhas e,
para compensar o bicho, passaram a oferecer uma ovelha e um humano – um rapaz
ou uma moça. Só que, depois de algum tempo, também passou a faltar gente, e o
sorteio designou a filha do rei para ser entregue ao monstro.
Desesperado o
rei implorou ao povo que não oferecesse ao dragão sua filha, só que o povo
manteve-se irredutível. O rei apenas conseguiu um prazo de oito dias para
prantear sua amada filha. Depois desse período, nada podendo fazer, contra a
turba enlouquecida, o rei entregou sua filha ao seu destino e ela dirigiu-se ao
lago onde habitava a fera.
Narra a lenda
que Jorge passava casualmente pelo local e viu a jovem princesa chorando às
margens do lago. Ao longe, a galera, como não podia deixar de ser, esperava
para ver o bicho vir cobrar seu tributo (devia ter gente vendendo pipoca e
cachorro-quente). A jovem avisou ao Santo que ele deveria sair correndo o mais
rápido possível dali. São Jorge insistiu para que ela explicasse o quê estava
acontecendo, enquanto isso, o monstro surgiu, vindo de dentro do lago. O
Guerreiro montou em seu cavalo, fez o sinal da cruz e, recomendando-se a Deus,
atingiu o monstro na cabeça com força, fazendo-o cair no chão.
Em seguida,
Jorge mandou que a princesa colocasse seu cinto no pescoço do dragão, sem medo.
Depois disso, o bicho começo a segui-la como segue um cão manso, seu cinto
servindo de coleira guia. Ambos então
foram para a cidade, e o povo entrou em pânico ao ver o cavaleiro, a dama e o
dragão. São Jorge tratou de acalmá-los, exortando as pessoas a aceitarem o
Salvador através do batismo. A cidade toda o fez. Fato consumado, em seguida,
São Jorge matou o dragão. Sem contar mulheres e crianças, 20 mil homens foram
batizados.
Em homenagem a
Maria e ao beato Jorge, o Rei mandou construir na cidade uma enorme igreja, sob
cujo altar surgiu uma fonte de água curativa para todos os enfermos. O rei
ofereceu a São Jorge muito dinheiro, mas o santo não aceitou e mandou que o rei
o distribuísse aos pobres. Ao rei, Jorge deixou ainda quatro conselhos: cuidas
das igrejas, honrar os padres, ouvir com atenção o ofício divino e nunca
esquecer os pobres. Em seguida, beijou o rei e foi embora.
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